Magalu, Via Varejo, B2W: Varejistas digitais disparam enquanto setor despenca
Veja a recomendação de analistas para as principais empresas de varejo listadas na bolsa de valores
Com metade da população trancada em casa por conta da pandemia de coronavírus, além de uma recessão que vai travar ainda mais as compras, as empresas do varejo não essencial estão entre as primeiras candidatas a terem um desempenho ruim tanto nas vendas quanto na bolsa de valores. São redes que vendem bens de consumo como eletrônicos, eletrodomésticos ou roupas.
Há entretanto, uma divisão clara entre elas: enquanto as ações de uma parte segue fortemente deprimida, a outra – as que têm pé forte no comércio eletrônico – está tendo desempenhos excepcionais. São empresas como Magazine Luiza, Via Varejo a B2W, que já conseguiram o feito de estarem valendo mais agora do que antes da pandemia.
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As ações da B2W, por exemplo, que é dona da Americanas.com, do Submarino e do Shoptime, já estão valendo quase 50% mais hoje do que no começo do ano. As da Magazine Luiza já subiram 41% e as da Via Varejo, que controla o Ponto Frio e as Casas Bahia, têm alta 9,2%. As Lojas Americanas, que se dividem entre a participação na B2W e a rede de lojas físicas, ganharam 11%.
No mesmo período, o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, ainda acumula perdas de 24%. Os números levam em consideração os valores de fechamento até 27 de maio.
Na outra ponta, ainda penando para se recuperar do tombo pós-pandemia, estão varejistas de vestuário como as Lojas Renner (-29%), Guararapes (dona da Riachuelo, com -40%), as Lojas Marisa (-44%) e fabricante e rede de franquias Cia. Hering (-59%).
“O e-commerce está ganhando em duas frentes: o aumento que já vinha tendo de mais pessoas adquirindo coisas online, e a substituição daqueles que estão comprando por aplicativo o que antes compravam na rua”, disse Paulo Ghedini, sócio e analista de ações da gestora de fundos Perfin. “O número de usuários novos na plataforma delas cresceu muito, e são clientes que vão ficar depois.”
Ele destaca que, mais do que uma divisão entre empresas que possuem e-commerce e as que não, há uma diferença clara na natureza dos produtos vendidos por elas: as que têm as operações digitais mais desenvolvidas estão ligadas a produtos como eletrônicos, eletrodomésticos e artigos domésticos.
Do outro lado, estão as que vendem roupas e artigos pessoais, produtos que ainda enfrentam uma barreira cultural maior para serem comprados à distância. “As pessoas não vão deixar de se vestir, elas vão voltar a comprar roupa. Não será neste ano e essas empresas vão sofrer, mas, para o investidor, interessa o potencial de fluxo de caixa do negócio ao longo de toda a vida; não é porque a receita vai cair neste ano que ela deve necessariamente estar valendo menos”, afirmou.
As recomendações, variam de empresa para empresa. Veja o que os analistas estão falando sobre as cinco maiores varejistas do Ibovespa, como opção de investimento neste momento:
Magazine Luiza (MGLU3)
Com valorização superior a 1.000% nos últimos anos e mais de 40% só em 2020, o Magazine Luiza é um desafio para os gestores, que a recomendam com ressalvas: ela sempre já está cara, mas sempre sobe mais.
“Quem já tem não recomendo vender de jeito nenhum”, diz Christian Lupinacci, analista do banco digital Modalmais.. Para comprar, é mais complicado, ela já está com o preço esticado, mas sempre está esticando mais. Uma boa estratégia para ela é ir comprando as ações aos poucos, em pequenas parcelas.”
Ghedini, da Perfin, também concorda ser uma ótima empresa, mas que, por já estar com o preço muito alto, pode não ser melhor opção do que outras semelhantes que estão com maior potencial de valorização, como a Via Varejo.
Os analistas reforçam que, na maior parte dos casos, os retornos devem ser esperados em prazos mais longos, de dois a três anos, e não no curto prazo, enquanto a volatilidade e a incerteza da pandemia ainda nubla os mercados.
Lojas Renner (LREN3)
É a maior varejista do setor de vestuário que está na bolsa, e também a preferida dos analistas quando comparada a concorrentes como a Guararapes (dona da Riachuelo), as Lojas Marisa e a Hering, que vêm de níveis de vendas, caixa e endividamento não tão bons.
“Comprar Lojas Renner, neste momento, é como comprar um Porsche a preço de carro popular, enquanto as outras é mais como comprar um carro mediano também a preço de carro popular”, diz Lupinacci, do Modalmais.
As ações dela caíram 30% neste ano e estão sendo negociadas na faixa dos R$ 40 – para Lupinacci, o preço justo é na faixa dos R$ 55 a R$ 60. “Quando voltar a esse preço, daí reavaliamos para ver o potencial dali para frente. Até lá, não tenho receio nenhum, é uma empresa de ótima qualidade, que está passando por um momento complicado, mas que vai passar.”
Lojas Americanas (LAME4)
As Lojas Americanas são uma das companhias que estão na carteira da Perfin. De acordo com Ghedini, é uma boa maneira de estar exposto à B2W, que é uma das empresas do grupo mas já está com as ações caras, em sua visão.
“Em torno de 30% das lojas físicas das Americanas estão em shopping; o resto são lojas de rua, que ficaram abertas e sofreram menos que as demais”, disse o analista. “Eles têm um mix muito variado, que inclui alimentos e produtos de higiene, e aumentaram a oferta desses produtos.”
“É uma empresa boa, mas ela teve uma valorização muito rápida, de cerca de 100% em dois meses, o que exige atenção”, ressalvou Lupinacci, da Modalmais.
B2W Digital (BTOW3)
A varejista que mais se valorizou na bolsa neste ano, com alta acumulada de 50%, a B2W está sendo considerada cara pelos analistas consultados, embora pese a favor dela os resultados excepcionais dos últimos meses. “Ela teve um aumento próximo de 75% em valor de mercadorias vendidas em abril, e, em maio, esse aumento estava superior a 100%, na comparação com maio do ano passado”, disse Ghedini, da Perfin.
“É uma empresa muito boa, mas já está bem precificada por enquanto”, disse Lupinacci. “As ações já subiram muito, por causa dessa questão do comércio online, e em algum momento podem passar por alguma correção”.
Via Varejo (VVAR3)
Atualmente, é uma das preferidas dos analistas, já que vem de uma grande reestruturação na direção no ano passado e uma política forte de digitalização dos negócios desde então. Isso a coloca em um estágio anterior ao que se tornou hoje a Magazine Luiza, que já vem há anos trabalhando na integração online e off-line suas operações.
Há, entretanto, a ressalva de que ela é uma ação bem mais volátil, e por isso mais arriscada a perdas – o papel vem alternando fortes altas a fortes quedas nos pregões recentes.
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“Ela está se reestruturando de anos difíceis por que passou até a metade do ano passado, e a nossa recomendação para este papel está baseada 100% na expectativa de que o time novo deve conseguir transformá-la em termos de tecnologia e de cultura”, disse Ghedini, da Perfin.
Lupinacci, do Modalmais, diz que o preço dela pode ir a R$ 16 ou R$ 20, a depender de como a empresa faça seus próximos investimentos – atualmente, a companhia se prepara para uma nova oferta de ações na bolsa de valores para levantar dinheiro. Os papéis da Via Varejo chegaram a cair a R$ 5 em março, e agora já mais que dobraram, sendo comercializados na faixa de R$ 12.
“Quem tinha comprado bastante pode aproveitar para realizar uma parte dos lucros agora”, disse Lupinacci, embora recomende manter a ação na carteira.
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