Lula quer ter alguém no BC para controlar, diz Schwartsman ao CNN Entrevistas
Ex-diretor do BC também classifica que a taxa Selic — atualmente em 10,5% ao ano — é “altíssima”; confira íntegra do CNN Entrevistas às 18h30 deste sábado (22)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer ter o controle sobre o Banco Central (BC) a despeito da autonomia formal conquistada pela instituição.
A opinião é do ex-diretor do Banco Central e consultor da A.C. Pastore, Alexandre Schwartsman, entrevistado desse fim de semana do CNN Entrevistas.
“Lula quer ter alguém no BC para controlar de alguma forma. A gente vê uma tentativa permanente de influenciar os rumos de política monetária”, disse Schwartsman.
O ex-diretor do BC e ex-economista-chefe de grandes bancos, como ABN Amro e Santander, destaca o interesse do atual governo em influenciar os rumos dos juros, mas reconhece que essa é uma característica comum a muitos políticos.
“Ao longo dos anos, a gente vê uma tentativa permanente de influenciar rumos de política monetária”, disse, ao comentar que o mundo político não entendeu “como se lida” com o BC, especialmente em um período de autonomia.
“A instituição é independente. E, exatamente por isso, o lado que indica não convive bem (com isso)”.
Sobre o processo de sucessão na presidência do BC, Schwartsman avalia que é melhor que o atual governo indique o novo presidente o quanto antes. O mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente, termina em 31 de dezembro de 2024.
“Acho melhor que se indique antes do que depois. Mas não sei se o governo vai ter coragem. Se tiver alguém leniente com inflação, as expectativas vão subir e vão ser seis meses de gritaria”, disse, ao comentar a possibilidade de que o nome escolhido seja anunciado já após o recesso de julho.
“Mas eu desconfio que (a indicação) seja bem no final do prazo para evitar isso (a gritaria)”, disse.
Na entrevista, o economista elogia o trabalho de Campos Neto, mas classifica que a taxa Selic — atualmente em 10,5% ao ano — é “altíssima”.
Para Schwartsman, os juros só voltarão a cair quando o governo conseguir endereçar problemas profundos, especialmente o fiscal.
“Sem cuidar das contas públicas, eu acho difícil”, respondeu ao ser questionado sobre quando a taxa Selic voltará a um dígito.
“Parece que isso passa pela capacidade de limitar o crescimento do gasto real do governo. Isso dito, o teto de gastos se revelou insustentável. O arcabouço fiscal também é insustentável. O teto durou alguns anos. O arcabouço acabou antes de começar”, disse.