Juros futuros encostam em 13% com pressão de Treasuries e cenário fiscal
Em sintonia com o exterior, as taxas dos DIs passaram a escalar níveis mais altos já no início da sessão
As taxas dos DIs fecharam nesta quarta-feira (23) em alta firme, aproximando-se novamente dos 13% em vários vencimentos, com a curva a termo reagindo ao avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior e às preocupações em torno do equilíbrio fiscal no Brasil.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 – que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo – estava em 11,226%, ante 11,209% do ajuste anterior. A taxa do contrato para janeiro de 2026 marcava 12,75% ante 12,711%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2029 estava em 12,965%, ante 12,888%, e o contrato para janeiro de 2030 tinha taxa de 12,97%, ante 12,888%.
A quarta-feira foi mais um dia de alta firme dos yields nos EUA, com o retorno do título de dez anos chegando a atingir 4,25% pela manhã, refletindo a expectativa de cortes menores de juros pelo Federal Reserve no futuro próximo e o aumento da probabilidade de Donald Trump vencer a eleição presidencial nos EUA.
As promessas de Trump de elevar impostos de importação, conter a imigração e baixar impostos têm sido consideradas inflacionárias, sustentando nas últimas semanas o avanço do dólar e dos yields.
Em sintonia com o exterior, as taxas dos DIs passaram a escalar níveis mais altos já no início da sessão, em movimento impulsionado ainda pela desconfiança, entre os agentes de mercado, na capacidade do governo Lula de equilibrar as contas públicas.
“A alta dos juros dos Treasuries, que subiram mais de 50 bps nas últimas semanas, a decepção com a decisão do governo de reduzir o contingenciamento de gastos na apresentação do relatório de despesas e receitas do 4º bimestre e a falta de medidas de contenção de gastos, em meio à aceleração da inflação, formam um coquetel explosivo para os juros locais”, resumiu pela manhã o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, em comentário enviado a clientes.
No mercado, uma das dúvidas é se as medidas de contenção de gastos a serem apresentadas pelo governo após as eleições municipais serão, de fato, eficazes.
Além disso, notícias de que algumas das medidas pensadas pelo Ministério da Fazenda para cortar despesas encontra resistências de outros setores do governo manteve o pessimismo entre os investidores nesta quarta-feira.
Em Washington, onde participa de reunião de ministros do G20, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que parece “um pouco exagerado” afirmar que o governo não está tomando conta das contas públicas”.
“Nós voltaremos (de viagem), vamos ter várias reuniões com ele (Lula) e vamos discutir. Ele é o presidente e vai saber decidir”, acrescentou o ministro.
No pior momento da sessão, às 14h42, a taxa do DI para janeiro de 2030 atingiu os 13%, em alta de 11 pontos-base ante o ajuste da véspera.
No meio da tarde, a divulgação do Livro Bege do Federal Reserve chegou a trazer certa volatilidade para as curvas nos EUA e no Brasil, mas o impacto foi momentâneo. O documento informou que a atividade econômica nos EUA ficou quase estável de setembro até o início de outubro, enquanto empresas observaram um aumento nas contratações.
No Brasil, perto do fechamento a curva precificava 90% de probabilidade de alta de 50 pontos-base da taxa básica Selic em novembro, contra 10% de chance de elevação de 75 pontos-base. Na última terça-feira (22) os percentuais eram de 91% e 9%, respectivamente. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.
No fim da manhã, o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Paulo Picchetti, afirmou que o Brasil está passando por uma transição de regime caracterizada por juros contracionistas, redução de estímulo fiscal e sinais de desaceleração da atividade, o que amplia as incertezas.
Segundo ele, isso leva o BC a depender de dados para definir a política de juros à frente. Os comentários de Picchetti não influenciaram de forma decisiva os negócios com DIs.
Às 16h37, o rendimento do Treasury de dez anos – referência global para decisões de investimento – subia 3 pontos-base, a 4,238%.
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