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    Interessa ao Brics moldar nova governança global, diz especialista do Insper ao WW

    Roberto Dumas comenta ao WW sobre papel de oposição do bloco ao Ocidente

    João Nakamurada CNN , em São Paulo

    A Cúpula entre os chefes de Estado e representantes do Brics está marcada para esta quarta-feira (23). E na visão de Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, o grupo tem se fortalecido em torno de uma ideia de resistência ao Ocidente.

    Em entrevista ao WW desta terça-feira (22), Dumas retoma a questão da Conferência de Bretton Woods, que firmou o atual sistema financeiro mundial.

    Oriundos dos acordos firmados nesse encontro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial têm regimentos duramente criticados pelos países emergentes, por conta da falta de representatividade que suas governanças permitem

    “Pelo menos usando a narrativa dos fundadores do grupo do Brics, existe o interesse de projetar uma nova governança global no pós-Bretton Woods. Vários países não conseguem impor seus pesos geopolíticos como gostariam nessas instituições”, aponta o professor do Insper.

    “Então, se eu não consigo entrar num clube, que eu monte um clube, como é o caso do banco dos Brics.”

    Em meio ao cenário de devastação ocasionado pela Segunda Guerra Mundial e à ressaca da Crise de 1929, economistas de 44 países se reuniram para redesenhar o formato do sistema financeiro internacional.

    Naquele momento, o cenário econômico era marcado por recessão, escassez de crédito e produção em queda.

    Os acordos definiram um sistema de taxas de câmbio fixas, no qual as moedas dos países eram atreladas ao dólar norte-americano, que por sua vez era lastreado em ouro.

    O chamado padrão dólar-ouro se manteve em vigor até 1971, quando foi derrubado pelo então presidente dos EUA Richard Nixon, para proteger a moeda diante da demanda mundial pelo mineral precioso. Mas, até hoje, ambos os valores são usados como referência no mercado.

    Os órgãos fundados na reunião seguem como as principais instituições financeiras internacionais. Mas o que se aponta é que ambas evoluíram pouco desde lá em relação a sua governança, e apesar de terem sido importantes para a estruturação do sistema pós-1945, não seriam capazes de atender as demandas do mundo contemporâneo.

    O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) foi fundado em 2014, durante a Cúpula do Brics realizada em Fortaleza. O principal objetivo do banco é fomentar investimentos nos países emergentes, cada vez mais buscando evitar a dependência do dólar por parte de seus membros. Hoje, inclusive, está à mesa de discussão do grupo a criação de uma moeda comum.

    Dumas aponta que por essa postura e pelos caminhos que o bloco têm escolhido expandir, ele cada vez mais se consolida como um grupo “anti-Ocidente”. Originalmente formado por China, Rússia e Índia, o grupo conta com África do Sul e, entre suas mais recentes inclusões, Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Egito.

    “Se isso não é um grupo anti-Ocidente, não sei o que é. Logo, não vamos viver mais em um mundo unilateral, mas multipolarizado, com vários países no meio das discussões importantes”, aponta o professor.

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