Inflação na Argentina chega a 60,7% em 12 meses, maior valor em 30 anos
Resultado representa uma aceleração em relação ao avanço anual de 58% registrado em abril
A inflação ao consumidor na Argentina saltou para 60,7% em maio na comparação com igual mês de 2021, informou o Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (Indec) nesta terça-feira (14). O resultado representa o maior valor em 30 anos, e uma aceleração em relação ao avanço anual de 58% registrado em abril.
Na comparação mensal, o indicador teve alta de 5,1% em maio – neste caso, uma desaceleração após o aumento de 6% em abril.
De acordo com o Indec, a maior alta no mês foi no setor de saúde (6,2%), em especial devido à variação nos preços de medicamentos. A segunda maior elevação foi no setor de transportes (6,1%) devido ao aumento nos combustíveis.
Em seu site, o Indec é identificado como um “órgão público descentralizado de natureza técnica, no âmbito do Ministério da Economia da Nação, que exerce a direção superior de todas as atividades estatísticas oficiais realizadas na República Argentina”. O instituto é o equivalente no Brasil ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados publicados pelo instituto servem como base para a criação de políticas públicas no governo argentino, inclusive em relação ao combate à inflação.
Em 2017, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) declarou que a instituição segue as recomendações da organização para garantir a formação de um “sistema estatístico de alta qualidade, institucionalmente sólido e independente”.
Possibilidade de calote
Em meio a uma série de problemas econômicos estruturais, a crise na Argentina pode ganhar um novo capítulo ainda neste mês.
O governo do país tentar renovar títulos de dívida em pesos que vencem em junho para evitar um calote no mercado doméstico. Ao todo, eles são avaliados em 600 bilhões de pesos argentinos.
Para Leonardo Trevisan, professor da ESPM, o caso é “um grande teste se efetivamente a crise argentina chegou ao mercado de títulos internos”, o que pode afetar a confiança dos investidores em relação à capacidade do governo de honrar suas dívidas, em especial com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O cenário, no entanto, não é o mais favorável, em meio a um ambiente financeiro externo altamente volátil e a uma fuga de investidores em busca de mercados menos arriscados.
Na segunda-feira (13), o dólar oficial atingiu a maior variação diária em dois meses em relação ao peso argentino, e bateu um novo recorde, superando os 122 pesos argentinos.
Alberto Ramos, diretor do grupo de pesquisas macroeconômicas para América Latina do Goldman Sachs, atribui o cenário a uma combinação de fatores, com um choque no mercado que levou à valorização do dólar devido ao ciclo de alta de juros pelo Federal Reserve e a potencialização desses efeitos pelas “vulnerabilidades da Argentina”, que possui um ambiente macroeconômico vulnerável.
Um possível calote na dívida interna não seria novidade, e ocorreu recentemente, no governo do ex-presidente Mauricio Macri, mas é um indicativo, segundo especialistas ouvidos pela CNN, que pouco mudou com o atual presidente, Alberto Fernandéz, apesar de serem governos ideologicamente distintos.
O ex-diretor do Banco Mundial Otaviano Canuto acredita que o governo argentino não terá outra alternativa a não ser aumentar as taxas de juros e tornar os títulos mais atrativos, e ressalta sinalizações do governo de aumento de impostos para incrementar as fontes de receita.
“A situação de reservas livres é muito apertada, então todo mundo morre de medo, e às vezes são retroalimentadores, porque se o governo precisar enviar dinheiro para fora, não tem. Quando tem medo, a tentação de fugir desse risco é grande”, avalia.