GM anuncia redução de 50% de sua frota de autônomos após acidentes nos EUA
Suspensão vem logo após Cruise vencer batalha judicial para operar frota durante todo o dia


O estado da Califórnia pediu à General Motors (GM) que retirasse “imediatamente” parte dos taxis-robô Cruise de circulação após os veículos autônomos se envolverem em duas colisões – incluindo uma com um caminhão de bombeiros ativo – na semana passada em São Francisco.
O Departamento de Veículos Motorizados (DMV, na sigla em inglês) da Califórnia confirmou à CNN que está investigando “recentes incidentes envolvendo veículos da Cruise em São Francisco”.
“O DMV está em contato com a Cruise e autoridades policiais para apurar os fatos e solicitou que a empresa reduza imediatamente sua frota ativa de veículos em operação em 50% até que a investigação seja concluída e a Cruise tome as ações apropriadas para melhorar a segurança no trânsito”, afirmou o departamento em comunicado.
A determinação do DMV estabelece que a Cruise, a desenvolvedora de veículos autônomos da GM, não pode ter mais de 50 carros sem motorista em operação durante o dia e 150 à noite. Segundo o departamento da Califórnia, a Cruise concordou com o pedido.
Um porta-voz da empresa disse à CNN que a Cruise também está investigando o acidente com o caminhão de bombeiros.
Regulação na Califórnia
Os acidentes ocorreram menos de duas semanas após os reguladores da Califórnia sinalizarem luz verde para a Cruise e sua concorrente Waymo a oferecerem viagens de robotáxi em São Francisco a qualquer hora do dia.
Antes da aprovação, a Cruise só estava autorizada a oferecer o serviço de transporte de passageiros sem motorista durante a noite, das 22h às 6h, quando há menos movimento que pudesse confundir o software do veículo autônomo.
As colisões, que ocorreram na última quinta-feira (17), revelam riscos potenciais da tecnologia sem motorista.
Em nota, o gerente geral da Cruise em São Francisco disse que o acidente com o caminhão de bombeiros ocorreu quando o veículo se direcionava para prestar socorro e mudou para uma faixa na contramão para contornar um sinal vermelho.
O carro sem motorista da Cruise identificou o risco, mas “foi incapaz de evitar a colisão”, afirma a nota.
Conheça as principais empresas que trabalham em veículos autônomos
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1- Honda Legend
Em 2021, a Honda apresentou o sedan Legend, o primeiro veículo com software Nível 3 a ser comercializado. Equipado com o sistema “Traffic Jam Pilot”, ele integra condução autônoma parcial, ou seja, possui a capacidade de controlar a aceleração, a travagem, setas e o volante.
Contudo, ao assumir a direção, o veículo necessita da confirmação do condutor para fazer manobras em segurança. Além disso, o “Traffic Jam Pilot” no momento só pode ser acionado até os 50 km/h.
A Honda busca desenvolver um modelo com máxima autonomia até 2029. O objetivo da companhia é reduzir a taxa de fatalidades envolvendo seus veículos a zero. • REUTERS/Issei Kato/Arquivo
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2- O “guardião” da Toyota
A Toyota trabalha o Conceito de Mobilidade em Parceria (Mobility Teammate Concept, ou MTC) na automação de seus veículos. A ideia consiste “na crença de que pessoas e veículos podem trabalhar juntos para tornar a mobilidade segura, conveniente, eficiente e divertida”.
O “carro chefe” da iniciativa é o sistema Guardian, que está sendo testado em modelos do sedan LS da Lexus, a divisão de luxo da Toyota. A ideia é integrar ao esforço do motorista o auxílio de uma IA que dê assistência e orientações.
Outra alternativa é o sistema Chauffeur, destinado para aqueles que não podem ou optam por não dirigir, que possuirá um software de Nível 4, ou seja, o veículo poderá se dirigir sozinho. • Divulgação/Toyota
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3- O conceito de futuro da Volkswagen
Em 2022, a Volkswagen apresentou o veículo "conceito" GEN.TRAVEL, cuja ideia é apresentar a mobilidade do futuro.
O carro elétrico futurista é um protótipo real que dirige de forma autônoma, com o software mais avançado (Nível 5), que permite ao veículo atingir altas velocidades. • Volkswagen Group (VAG)/divulgação
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O GEN.TRAVEL permite que o motorista desfrute do tempo em deslocamento para lazer ou trabalho. O modelo inclusive conta com uma tecnologia de realidade aumentada.
Segundo o Grupo Volkswagen, o projeto é um “estudo para 2030”. Assim, a proposta é testar recursos que poderão ser usados em trabalhos futuros não só da marca principal, mas para o grupo como um todo, como Audi, Bugatti e Porsche. • Volkswagen Group (VAG)/divulgação
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4- Cruise, da GM
Cruise é a marca de autônomos da General Motors, a fabricante da Chevrolet, cujos veículos autônomos elétricos rodaram pela cidade de São Francisco, na Califórnia. Contudo, a experiência gerou uma certa dor de cabeça para a GM.
A Administração Nacional de Segurança Rodoviária (NHTSA, na sigla em inglês) abriu investigações contra a Cruise após três denúncias de falhas no sistema. Em 2022, a empresa chegou a repensar o software dos veículos depois de um acidente com duas pessoas feridas.
A montadora vem promovendo uma campanha para conscientizar vendedores e compradores que seu software de Nível 3 ainda requer a atenção do piloto. Agora, a GM busca uma licença para produzir mais de 2.500 veículos autônomos anualmente nos EUA. • Divulgação/GM
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5- Uber
Os esforços da Uber para desenvolver carros autônomos começaram em 2015. Segundo a empresa, o objetivo é “reimaginar a maneira como o mundo se move para o melhor”.
Ao longo dos anos, o aplicativo de transporte tentou investidas com diversas montadoras de veículos e desenvolvedoras de tecnologia. • REUTERS/Francis Mascarenhas
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Uber e Volvo
A primeira parceria foi em 2016, quando a Uber uniu forças à Volvo. O primeiro veículo a “ganhar vida própria” foi o SUV XC90, anunciado em junho de 2019. Equipado com radares ultrassônicos, câmeras 360º e sistemas de backup para freios, direção e energia, o modelo iria compor “uma frota segura, escalável e autônoma”, segundo a Uber.
Contudo, em 2018, ainda na fase de testes, o XC90 atropelou uma pedestre, ocasionando um acidente fatal. Após o julgamento do caso no final de 2019, a Uber perdeu a licença para testes no estado do Arizona. • Divulgação/Volvo
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Os testes passaram a ser limitados, até que em 2020 a Uber vendeu sua operação de autônomos após ser processada pela Waymo - divisão de carros autônomos da Alphabet, dona do Google - por espionagem industrial.
Hoje, a parceria com a Volvo segue para automatizar a frota de caminhões da Uber Freight, projeto de carretos do aplicativo. • Divulgação/Volvo
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Uber e Motional
Em 2022, a Uber retomou o sonho de ter uma frota de autônomos para transporte de passageiros. O aplicativo firmou contrato com a Motional, uma startup de tecnologia fruto de um consórcio entre a Aptiv e a Hyundai. Em Las Vegas, o “táxi robô” da Motional já atende tanto pedidos de viagens quanto entregas pelo Uber Eats. O veículo possui um piloto a postos caso se faça necessário. • Divulgação/Motional
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Uber… e Waymo
Quase três anos após a conclusão do processo, a Uber e a Waymo fecharam uma parceria para atender a cidade de Phoenix em conjunto. O projeto é atrativa para a Uber por atender as expectativas de seus clientes e reduzir gastos.
Já para a Waymo, a oportunidade é perfeita para se ter acesso instantâneo à base de clientes da Uber. A empresa possui uma meta de aumentar em 10 vezes as solicitações de viagens até o verão de 2024. A operação da Waymo cobre uma região de cerca de 466,2 km², área maior que a cidade de Salvador, Bahia (423 km²).
Recentemente, a Waymo conseguiu uma licença para operar em qualquer hora do dia na cidade de São Francisco. • Divulgação/Waymo
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6- BMW iX
O modelo é o primeiro SUV completamente elétrico da montadora alemã. O iX foi lançado em 2022 com os Níveis 1 e 2 de automação, ou seja, ele consegue controlar aceleração e frenagem e indicar algumas direções.
Em agosto daquele ano, a BMW reforçou que um acidente com o iX - que acabou em uma fatalidade - ocorreu pois o motorista deveria ter ficado atento à estrada.
O Grupo BMW segue em parceria com as empresas de tecnologia Qualcomm Technologies e Arriver para produzir veículos com automação de Nível 3 até 2025 em outros modelos da marca, como o novo BMW Série 7. • Divulgação/BMW
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7- Carro robô da Baidu, o “Google da China”
A Baidu, popularmente conhecida como “Google da China”, anunciou em 2022 o desenvolvimento do ROBO-01. O veículo produzido pela JIDU, parceria entre a Baidu e a Geely, promete configurações inteligentes de direção com um design futurista. O conceito pode apresentar tecnologia de Nível 4, a autonomia quase total. • Divulgação/JIDU
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8- Audi Grandsphere
A Audi define o conceito Grandsphere como “um jato particular sobre rodas”. O projeto foi apresentado em 2021 prometendo uma revolução nas estradas. Com 5,35 metros de comprimento, o sedan foi projetado para ter um luxuoso e espaçoso interior para os passageiros poderem aproveitar enquanto viajam em um veículo com autonomia Nível 4. • Divulgação/Audi
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9- Sistema Drive Pilot da Mercedes
Na Alemanha, os modelos EQS e S-Class da Mercedes-Benz já podem ser adquiridos com a tecnologia de autonomia Nível 3. O sistema Drive Pilot foi projetado para funcionar em rodovias com tráfego intenso em velocidades inferiores a 64,4 km/h. A Mercedes planeja comercializar os modelos com piloto automático ainda em 2023. • Divulgação/Mercedes-Benz
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10- “Full Self-Driving” (FSD), da Tesla
Desde 2016, o CEO da companhia, Elon Musk, promete que o sistema de piloto automático da Tesla é capaz de dirigir melhor que um piloto humano. Contudo, ao longo daquele ano, duas pessoas morreram em acidentes ligados ao piloto automático do Modelo S da Tesla.
Segundo dados da NHTSA, o sistema da Tesla esteve envolvido em 736 acidentes e 17 mortes desde 2019. Apesar de Musk alegar que o FSD possa funcionar como um software de Nível 3, a incapacidade dele em conduzir o veículo o coloca como uma tecnologia de Nível 2. • Divulgação/Tesla
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Um passageiro saiu com ferimentos leves e foi levado ao hospital de ambulância, de acordo com a empresa.
A Cruise disse à CNN que o outro acidente – que também aconteceu na quinta-feira – ocorreu quando outro carro ultrapassou o sinal vermelho “em alta velocidade”.
“O AV (sigla para “veículo autônomo”, em inglês) detectou o automóvel e freou, mas o outro veículo fez contato com o nosso. Não havia passageiros em nosso AV e o motorista do outro veículo foi tratado e liberado no local”, disse Hannah Lindow, porta-voz da Cruise, à CNN.
Não está claro se os dois acidentes teriam sido evitados se houvesse um motorista humano em vez de um veículo autônomo envolvido – mas os acidentes não foram os únicos dois incidentes da semana passada envolvendo carros sem motorista da Cruise em São Francisco.
Na terça-feira passada (15), a Cruise confirmou no X, ex-Twitter, que um de seus táxis sem motorista entrou em uma área de construção e parou em concreto molhado.
“Este veículo já foi recuperado e estamos em contato com a prefeitura sobre isso”, disse a empresa.
‘Pista de obstáculos’
Os acidentes ocorridos destacam os desafios de se desenvolver veículos para passageiros que sejam totalmente autônomos e seguros.
A GM adquiriu a Cruise Automation em 2016 por US$ 1 bilhão (R$ 3,6 bilhões na cotação da época), consolidando seu lugar na corrida por veículos autônomos.
Contudo, desde então muitas empresas reduziram ou abandonaram suas ambições por carros sem motorista. O empreendimento se provou caro, e programar todas as situações que os humanos podem enfrentar ao volante é difícil e demorado.
Aplicativos de viagens como Uber e Lyft venderam unidades de veículos autônomos nos últimos anos. Até mesmo o CEO da Tesla, Elon Musk, que está otimista com a tecnologia de veículos autônomos, ainda não cumpriu sua promessa.
Os veículos da Tesla agora vêm com a opção de adicionar o recurso de piloto automático “Full Self-Driving” (FSD) em testes beta por US$ 15 mil (R$ 74,71 mil), mas os motoristas devem concordar em “ficar alertas, manter as mãos no volante o tempo todo e manter o controle do carro”.