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    Fracasso em plano econômico de Liz Truss a levou a renunciar como premiê; entenda

    Assim que chegou à Downing Street, Liz Truss defendeu proposta de cortar impostos para cidadãos e empresas como forma de impulsionar a economia britânica, mas o mercado reagiu negativamente

    Fabrício Juliãodo CNN Brasil Business , em São Paulo

    As seis semanas de Liz Truss à frente do Reino Unido foram marcadas por instabilidades provocadas por uma crise financeira na região, ampliada após o anúncio de um plano de crescimento assim que a primeira-ministra assumiu o posto ocupado por Boris Johnson.

    Quando chegou à Downing Street, Liz Truss defendeu uma proposta de cortar impostos para cidadãos e empresas como forma de impulsionar a economia britânica, mas o mercado reagiu negativamente às intenções da política conservadora e a libra acabou despencando.

    Pode parecer estranho investidores reagirem negativamente à redução de impostos, mas especialistas explicam que isso ocorreu por dois motivos: o risco fiscal e a queda de braço contra a luta pelo controle da inflação.

     

    Truss pretendia reduzir a taxa máxima de imposto de renda de 45% para 40%, além de reduções de taxas para a compra de casas e o cancelamento de um aumento planejado nos impostos empresariais, que estava definido pelo governo anterior para passar de 19% para 25%. Com esses cortes, o Tesouro do Reino perderia 45 bilhões de libras (cerca de R$ 263 bilhões) das receitas do governo nos próximos cinco anos.

    Além do risco fiscal britânico com a perda bilionária pelo corte de impostos, o fato de Truss não priorizar a inflação foi outro motivo que explica sua queda, segundo o economista Igor Lucena.

    O Escritório de Estatísticas Nacionais disse que o índice de preços ao consumidor aumentou 10,1% em termos anuais em setembro, levando a inflação do país de volta ao nível mais alto em 40 anos.

    “O plano dela fracassou porque houve uma falta de foco no combate a inflação, um impacto no fiscal robusto e um terceiro motivo que eu citaria que é como essa combinação gera baixo crescimento econômico, justamente o oposto do que ela pretendia”, afirmou o economista.

    “Ninguém comprou a ideia de que diminuição de impostos em um momento de inflação elevada traria bons resultados econômicos”, acrescentou.

    O mercado reagiu mal às intenções de Truss, o que forçou o Banco da Inglaterra a tentar conter uma forte liquidação nos mercados de títulos do governo britânico de 2,1 trilhões de libras, expandindo sua compra de emergência para dívidas indexadas à inflação.

    O banco central britânico havia dividido seu programa para comprar até 10 bilhões de libras em gilts (títulos do Tesouro Britânico) por dia para incluir até 5 bilhões de libras em títulos indexados.

    “Não foram os políticos que puxaram a orelha da primeira-ministra, mas sim o mercado financeiro, que derrubou as ações e encostou os títulos ingleses lá em cima. O banco central inglês precisou gostar bastante libra para segurar o mercado e acalmar todo mundo”, destacou o professor de geoeconomia internacional da ESPM, Leonardo Trevisan.

    Os especialistas ressaltaram que as intenções da primeira-ministra eram expressas durante a eleição para assumir a liderança do Partido Conservador, antes mesmo de ser escolhida para comandar o país.

    “Para pensarmos na renúncia de Liz Truss, temos que lembrar da sua eleição, em que ela já defendia a redução dos impostos para impulsionar o crescimento do país, enquanto seu oponente Rishi Sunak acusava de ser um plano de ‘faz de contas'”, pontuou Igor Lucena.

    Já Trevisan afirmou acreditar que nem mesmo os conservadores achavam que ela seria tão fiel aos seus princípios. “Truss tem como inspiração Margaret Thatcher, mas que foi primeira-ministra em 1979, em outro contexto do mundo e realidade do Reino Unido de hoje. Os ingleses tinham um ânimo no fim de década de 1970 de livre mercado, enquanto hoje o ânimo deles é de combate de inflação. Ela não soube entender a sua realidade”, declarou.

    Em meio às críticas, após o plano não surtir o efeito desejado com a população, Liz Truss demitiu o ministro das Finanças do Reino Unido (chanceler) Kwasi Kwarteng, na semana passada.

    Após a confirmação de sua demissão, Kwarteng publicou uma carta para a premiê em que continua defendendo o plano econômico amplamente criticado, que criou a indignação pública dos britânicos e acabou lhe custando o emprego.

    “Mesmo demitindo o ministro das Finanças, ficou a imagem de uma certa distância com a realidade social inglesa, o que custou o cargo dela. Seria muito difícil se manter como primeira-ministra nesta situação, era uma crônica quase anunciada a sua saída”, disse Leonardo Trevisan.

    O ex-ministro das Relações Exteriores Jeremy Hunt, visto por muitos no partido como “um par de mãos seguras”, foi nomeado ministro das Finanças do Reino Unido.

    Liz Truss renunciou seis dias após a queda de seu chanceler, não aguentando à pressão do Partido Conservador, do Parlamento e da opinião pública. Ela teve o mandato mais curto de um primeiro-ministro na história do país, exercendo o cargo por seis semanas.

     

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