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    Foxconn oferece pagar trabalhadores para deixar fábrica de iPhone após protestos

    Centenas de pessoas entraram em confronto violento com forças de segurança na China, na terça e quarta-feira

    Nectar GanJuliana Liudo CNN Business

    A Foxconn ofereceu pagar 10.000 yuans (US$ 1.400) aos trabalhadores recém-contratados para deixar a maior fábrica de montagem de iPhones do mundo, em uma tentativa de reprimir os protestos que levaram centenas de pessoas a entrar em confronto com as forças de segurança no complexo da China.

    O fornecedor da Apple fez a oferta na quarta-feira após cenas dramáticas de protestos violentos em seu campus em Zhengzhou, capital da província de Henan, em uma mensagem de texto enviada de seu departamento de recursos humanos aos trabalhadores.

    Na mensagem, vista pela CNN, a empresa pedia que os trabalhadores “por favor, regressem aos vossos dormitórios” no campus. A companhia também prometeu pagar a eles 8.000 yuans (US$ 1.116) se eles concordassem em sair da Foxconn e outros 2.000 yuans (US$  279) depois que eles embarcassem em um ônibus para deixar o local.

    O protesto eclodiu na noite de terça-feira e tinham relação com os termos dos pacotes de pagamento dos novos contratados e as preocupações relacionadas à Covid-19 e a segurança dos funcionários.

    As cenas se tornaram cada vez mais violentas na quarta-feira, quando os trabalhadores entraram em confronto com um grande número de forças de segurança, incluindo oficiais da equipe SWAT.

    Um grupo de seguranças vestidos com roupas de proteção chuta e espanca um trabalhador caído no chão durante protesto na Foxconn, China, em 23 de novembro
    Um grupo de seguranças vestidos com roupas de proteção chuta e espanca um trabalhador caído no chão durante protesto na Foxconn, China, em 23 de novembro / Obtida pela CNN

    Vídeos que circulam nas redes sociais mostram grupos de policiais vestidos com roupas de proteção chutando e batendo em manifestantes com cassetetes e barras de metal. Alguns trabalhadores foram vistos derrubando cercas, jogando garrafas e barreiras contra os policiais e quebrando e virando veículos da polícia.

    O protesto terminou em grande parte por volta das 22h de quarta-feira, quando os trabalhadores voltaram para seus dormitórios, tendo recebido a oferta de pagamento da Foxconn e temendo uma repressão mais dura por parte das autoridades, disse uma testemunha à CNN.

    A fábrica de Zhengzhou foi atingida por um surto de Covid em outubro, que a forçou a fechar e levou a um êxodo em massa de trabalhadores que fugiam do surto. Mais tarde, a Foxconn lançou uma grande campanha de recrutamento, na qual mais de 100.000 pessoas se inscreveram para preencher os cargos anunciados, informou a mídia estatal chinesa.

    De acordo com um documento que estabelece o pacote salarial dos novos contratados visto pela CNN, os trabalhadores receberam a promessa de um bônus de 3.000 yuans (US$ 418,8) após 30 dias de trabalho, com outros 3.000 yuans a serem pagos após um total de 60 dias.

    Trabalhadores jogam partes das barreiras de metal que derrubaram na polícia durante protesto na Foxconn em Zhengzhou, China, em 23 de novembro
    Trabalhadores jogam partes das barreiras de metal que derrubaram na polícia durante protesto na Foxconn em Zhengzhou, China, em 23 de novembro / Obtida pela CNN

    No entanto, de acordo com um trabalhador, após chegarem à fábrica, os novos contratados foram informados pela Foxconn que só receberiam o primeiro bônus em 15 de março e a segunda parcela em maio – ou seja, eles deveriam trabalhar durante o feriado do Ano Novo Lunar, que começa em janeiro de 2023, para receber o primeiro pagamento do bônus.

    “Os novos recrutas tiveram que trabalhar mais dias para receber o bônus que lhes foi prometido, então se sentiram enganados”, disse o trabalhador à CNN.

    Em um comunicado na quinta-feira, a Foxconn disse que entendia totalmente as preocupações dos novos recrutas sobre “possíveis mudanças na política de subsídios”, que atribuiu a “um erro técnico (que) ocorreu durante o processo de integração”.

    “Pedimos desculpas por um erro de entrada no sistema de computador e garantimos que o pagamento real é o mesmo acordado”, afirmou.

    A Foxconn estava se comunicando com os funcionários e garantindo que os salários e bônus seriam pagos “de acordo com as políticas da empresa”, afirmou.

    A Apple, para a qual a Foxconn fabrica uma gama de produtos, disse à CNN Business que seus funcionários estavam nas instalações de Zhengzhou.

    Trabalhadores da maior fábrica de iPhone do mundo enfrentam agentes de segurança durante protesto na China
    Trabalhadores da maior fábrica de iPhone do mundo enfrentam agentes de segurança durante protesto na China / Obtida pela CNN

    “Estamos revisando a situação e trabalhando em estreita colaboração com a Foxconn para garantir que as preocupações de seus funcionários sejam abordadas”, afirmou em comunicado.

    Na manhã desta quinta-feira, alguns trabalhadores que concordaram em sair receberam a primeira parte do pagamento, disse um trabalhador em uma transmissão ao vivo, que mostrou trabalhadores fazendo fila do lado de fora para fazer testes de Covid enquanto esperavam os ônibus que partiam. No final do dia, as transmissões ao vivo mostraram longas filas de trabalhadores embarcando nos ônibus.

    Mas para alguns, o problema está longe de terminar. Após serem levados para a estação de trem de Zhengzhou, muitos não conseguiram uma passagem para casa, disse outro trabalhador em uma transmissão ao vivo na tarde de quinta-feira. Como ele, milhares de trabalhadores ficaram presos na estação, disse ele, enquanto virava a câmera para mostrar as grandes multidões.

    Zhengzhou deve impor um bloqueio de cinco dias em seus distritos urbanos, que incluem a estação de trem, a partir da meia-noite de sexta-feira, anunciaram as autoridades anteriormente.

    Protestos violentos

    O protesto começou do lado de fora dos dormitórios dos trabalhadores no amplo campus da Foxconn na noite de terça-feira (22), com centenas marchando e cantando slogans como “Abaixo a Foxconn”, de acordo com vídeos de mídia social e um relato de testemunha. Vídeos mostraram trabalhadores entrando em confronto com seguranças e lutando contra o gás lacrimogêneo disparado pela polícia.

    O impasse durou até a manhã desta quarta-feira. A situação piorou rapidamente quando um grande número de policiais, a maioria coberta com roupas brancas de proteção e algumas segurando escudos e cassetetes, foram enviadas para o local. Vídeos mostraram colunas de veículos da polícia, alguns marcados com “SWAT”, chegando ao campus, que normalmente abriga cerca de 200.000 trabalhadores.

    Mais trabalhadores se juntaram ao protesto após assistir a transmissões ao vivo nas plataformas de vídeo Kuaishou e Douyin, a versão chinesa do TikTok, disse o trabalhador à CNN. Muitas transmissões ao vivo foram cortadas ou censuradas. As buscas online por “Foxconn” em chinês foram restritas.

    Alguns manifestantes marcharam até o portão principal do complexo da instalação de produção, localizado em uma área separada dos dormitórios dos trabalhadores, na tentativa de bloquear o trabalho de montagem, disse o trabalhador.

    Outros manifestantes tomaram a iniciativa de invadir o complexo de produção. Eles quebraram cabines de teste da Covid, portas de vidro e painéis publicitários em restaurantes na área de produção, segundo o trabalhador.

    Tendo trabalhado na fábrica de Zhengzhou por seis anos, ele disse que agora estava profundamente desapontado com a Foxconn e planejava sair. Com um salário mensal básico de 2.300 yuans (US$  321), ele ganha entre 4.000 e 5.000 yuans (US$  698) por mês, incluindo pagamento de horas extras, trabalhando 10 horas por dia e sete dias por semana durante a pandemia.

    “A Foxconn é uma empresa taiwanesa”, disse ele. “Não só não espalhou os valores de democracia e liberdade de Taiwan para o continente, como foi assimilado pelo Partido Comunista Chinês e se tornou tão cruel e desumano. Eu me sinto muito triste com isso.”

    Embora não fosse um dos novos recrutas, ele protestou com eles em apoio, acrescentando: “Se hoje eu me calo sobre o sofrimento dos outros, quem falará por mim amanhã?”

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