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    Fed começa a dar mais atenção aos riscos de recessão nos EUA, avaliam especialistas

    Com a nova alta, a taxa básica de juros dos EUA passa do intervalo de 1,5% a 1,75% ao ano para 2,25% a 2,5%

    Pedro Zanattado CNN Brasil Business , em São Paulo

    O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, elevou pela quarta vez neste ano a taxa de juros do país. A alta foi de 0,75 ponto percentual, em mais uma tentativa de conter a maior inflação em mais de 40 anos na economia norte-americana.

    O anúncio feito nesta quarta-feira (27) já era esperado pelo mercado. No entanto, para especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business, a autoridade adicionou um ponto maior de atenção nos riscos de recessão na economia americana, apesar de ressaltarem seu comprometimento no médio prazo com a busca de estabilidade nos preços.

    Em seu tradicional discurso após a divulgação, o presidente da instituição, Jerome Powell, que a autarquia pode realizar altas de juros menores nos próximos meses, mas manterá uma política monetária restritiva.

    Citando as projeções da reunião de junho, ele apontou uma taxa terminal em 2022 de 3% a 3,5%, o que indicaria uma elevação de 0,5 p.p. e duas de 0,25 p.p. nas próximas três reuniões.

    Na visão de Powell, “deve se tornar apropriado reduzir o ritmo do aumento dos juros conforme taxas ficam mais restritivas”.

    Com a nova alta, a taxa básica de juros dos EUA passa do intervalo de 1,5% a 1,75% ao ano para 2,25% a 2,5%. A elevação faz parte de ciclo de alta de juros que começou em março de 2022.

    A taxa iniciou o ciclo em 0% ao ano, e os aumentos são os primeiros desde 2018. Uma alta de 0,75 p.p. já havia sido realizada pelo Fed em junho, no maior valor desde 1994.

    Balanço

    A avaliação feita por especialistas e consultorias é de que a alta reforça o comprometimento do Comitê de política monetária em garantir a estabilidade de preços no médio prazo.

    Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, afirma que o setor imobiliário, os gastos das famílias e a indústria já começam a dar sinais de arrefecimento, refletindo as condições financeiras mais apertadas.

    Com isso, o entendimento é de que o Fed deva continuar o monitoramento da atividade econômica para as próximas reuniões.

    Em relatório divulgado nesta quarta-feira, a Genial Investimentos avalia que o comunicado do Fed reforçou que o comitê seguirá observando as implicações da condução da política monetária na economia e estará preparado para ajustar a direção da política monetária no caso do surgimento de riscos que possam impedir o comitê de atingir suas metas.

    Joaquim Sampaio, Sócio da RPS Capital, entende que o comunicado não trouxe grandes novidades desde a última reunião. No entanto, o economista avalia que, em sua coletiva para a imprensa, o Fed abordou sinais de uma desaceleração na economia norte-americana.

    “O presidente do Fed, Jerome Powell, começou dar um certo peso para esse componente [da atividade econômica]. Acho que é a grande novidade, pois um mês atrás ele dispensava totalmente qualquer preocupação com a atividade e focava 100% na inflação. Por isso estamos vendo um comunicado mais dovish (mais brando), por ele começar dar um peso para a atividade que está dando sinais claros de piora”, afirmou.

    Expectativas

    Segundo a Genial Investimentos, nesse sentido, serão levadas em consideração pela instituição financeira as informações sobre saúde pública, mercado de trabalho, inflação, expectativas de inflação, pressões inflacionárias, e dos desenvolvimentos financeiros e internacionais.

    “Para a próxima reunião um novo aumento de 0,75 ponto percentual pode ser apropriado, mas a decisão será dependente dos dados disponíveis. Já para os próximos meses, o ritmo de aumento da taxa de juros será decidido a cada reunião a partir de análise da evolução dos indicadores econômicos”.

    Para a economista-chefe da Rico, Rachel de Sá, a previsão é de que os juros básicos nos EUA alcancem 3,25% ao ano até o final deste ano.

    A expectativa de que outras elevações devem ocorrer nos próximos meses foi confirmada pelo próprio presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira, ao informar que a autarquia pode realizar altas de juros menores nos próximos meses, mas manterá uma política monetária restritiva.

    Citando as projeções da reunião de junho, ele apontou uma taxa terminal em 2022 de 3% a 3,5%, o que indicaria uma elevação de 0,5 p.p. e duas de 0,25 p.p. nas próximas três reuniões.

    Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, os em meio à desaceleração econômica acelerada e a percepção de que commodities já fizeram pico “os investidores começam a precificar uma trajetória mais serena nos juros futuros, esperando que os próximos dados demonstrem que o pico dá inflação já foi ultrapassado”.

    O economista diz que, apesar do cenário de inflação, que segue “azedo”, o comunicado e a entrevista coletiva favorecem uma redução na alta de juros para 0,50 ponto percentual na reunião de setembro.

    Segundo Borsoi, com isso, o Fed estaria migrando para uma postura “assistir mais, agir menos”, frente à percepção do comitê de que a política monetária deixou de ser expansionista e começa a endereçar os desequilíbrios entre oferta e demanda.

    Francisco Nobre, economista da XP também prevê um aumento para a próxima reunião, no entanto, ele reforça que a magnitude da alta vai depender do fator inflação.

    Se esse aumento vai ser de 0,50 ou 0,75 pontos percentuais vai depender dos dados que saírem daqui para frente. Acreditamos que eles devem reduzir a magnitude dos aumentos para 0,50. Mas, se os dados de julho vierem pior do que o esperado, isso provavelmente reforçaria uma decisão mais agressiva

    Por fim Nobre diz que o Fed agora vai levar os juros para o campo contracionista – aquele que esfria a atividade econômica e reduz a demanda -, necessário para trazer a inflação para dentro da meta (de 2% ao ano).

    As causas

    Rachel de Sá, avalia que o ciclo de alta de juros que tem sido observado nos EUA e em demais países desenvolvidos possui, entre as causas, os estímulos fiscais e monetários maciços implementados para enfrentar a pandemia da Covid-19, que impulsionaram a demanda fortemente.

    Além disso, está a invasão da Ucrânia pela Rússia, dois agentes importantes de commodities, que ajudou a impulsionar o preço de bens básicos no mundo, especialmente agrícolas e energéticos, como é o caso do petróleo.

    “Como resultado, passamos a ver recorde atrás de recorde nos números de inflação ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, a inflação ao consumidor alcançou o maior patamar dos últimos 40 anos, acima de 9,0% e muito longe da meta de 2,0% do banco central do país”.

    De Sá destaca que Fed, assim como outros bancos centrais ao redor do mundo, está tomando o caminho oposto ao que vinha sendo feito desde a eclosão da pandemia da Covid-19. Ou seja, passaram a reduzir os estímulos à economia com o objetivo de esfriar a atividade, e assim, tirar pressão dos preços de bens e serviços.

    “Em bom português: o dinheiro abundante e crédito barato para “bombar” a economia deram lugar ao dinheiro mais escasso e ao crédito mais caro para “frear” a economia”.

    Impactos no Brasil

    Sobre como o aumento de juros nos EUA pode impactar a economia brasileira, o economista da XP Francisco Nobre diz que o diferencial nas taxas de juros entre o Brasil e os Estados Unidos diminui, uma vez que o Banco Central (BC) deu início ao processo de aperto monetário antes que o Fed. Sendo assim, a taxa básica brasileira deve sofrer mais um aumento e, segundo o economista, começar a parar, enquanto os aumentos devem continuar nos EUA.

    “O diferencial de juros deve diminuir e, isso pode ter como consequência, uma retirada de capital do Brasil fluindo para a economia norte-americana, o que pode desvalorizar o real no curto prazo”.

    Já no médio prazo, Nobre afirma que uma desaceleração global pode prejudicar a atividade econômica brasileira, visto que a inflação é um problema de vários países e as instituições financeiras estão aumentando os juros e tirando os estímulos econômicos para poder reduzir a demanda e, por consequência, diminuir a inflação. Contudo, as ações tendem a esfriar a economia e diminuir a atividade econômica global.

    Essa desaceleração global deve repercutir aqui no Brasil no médio prazo. Penso que deve impactar mais o PIB de 2023, mais do que o desse ano. Se o esfriamento da economia global for mais forte, entraremos em um quadro de recessão global e isso vai impactar na atividade do Brasil. Principalmente se os preços das commodities refletirem essa aumento da aversão ao risco, a desaceleração da demanda e a queda na atividade no mundo”, conclui.

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