EUA perdem 701 mil empregos em março, o pior resultado desde 2009
Especialistas estimam que desemprego pode chegar a 30%, taxa que ultrapassa a da Grande Depressão


Pela primeira vez na década, as empresas dos Estados Unidos demitiram mais do que contrataram. Em março, a economia americana fechou 701 mil postos de emprego, de acordo com dados do Bureau of Labor Statistics, uma espécie de secretaria do ministério do trabalho. O mês passado foi o pior para os empregos americanos desde março de 2009.
Também foi a primeira vez que a economia americana perdeu empregos desde setembro de 2010. A taxa de desemprego cresceu 4,4%, a maior desde agosto de 2017, que também representa a maior variação mensal desde janeiro de 1975.
Boa parte do fechamento de vagas ocorreu em restaurantes e bares, empresas nas quais mais de 417 mil empregos foram afetados. Os varejistas cortaram 46.200 empregos e as vagas em serviços de saúde caíram em 43.000, já que as consultas de rotina em dentistas e consultórios médicos também diminuíram.
Se há alguma boa notícia no relatório de março, é que grande parte das demissões foi temporária: 1,8 milhão de pessoas ficaram temporariamente desempregadas no mês passado, contra 1 milhão em fevereiro.
Essa situação pode piorar, e muito
O mercado de trabalho provavelmente vai ficar muito pior a partir do próximo mês. Os números no relatório de empregos são provenientes de duas pesquisas. Uma, com 60 mil famílias e outra, com 145 mil empresas e agências governamentais.
Essas pesquisas são realizadas durante a semana, incluindo o 12º dia do mês, que, desta vez, caiu na segunda semana de março. Os decretos de isolamento social e os fechamentos de algumas empresas estavam apenas começando naquele período e passaram a ser realmente expressivos durante a semana seguinte.
O relatório referente ao mês de abril, que deve ser divulgado até 8 de maio, pode incluir os quase 10 milhões de americanos que solicitaram benefícios de desemprego pela primeira vez, enquanto o surto de coronavírus obrigava as empresas a fecharem e as pessoas a ficarem em casa.
Em vários distritos dos Estados Unidos, os cidadãos podem solicitar subsídios caso sofram corte de renda, benefícios ou se as jornadas de trabalho forem reduzidas. Isso não significa, portanto, que necessariamente todos os 10 milhões de pessoas perderam o emprego. Porém, os números de pedidos de subsídio, que são liberados toda quinta-feira de manhã, são um melhor indicador em tempo real das dificuldades no mercado de trabalho do que o próprio relatório mensal de empregos.
A taxa oficial de desemprego nos EUA ainda pode subir significativamente. No relatório mensal de empregos do Labor Department’s, o ministério do trabalho americano, os trabalhadores podem ser caracterizados como “desempregadas” se estiverem disponíveis para trabalhar, e tiverem procurado por emprego sem sucesso nas últimas quatro semanas. Ou seja, a estatística não depende de quem solicitou ou não os benefícios.
Quanto pode piorar?
Uma das piores projeções vem do Federal Reserve de Saint Louis (St. Louis Fed), que previu que o desemprego poderia subir mais de 30%. Se isso acontecer, a estatística será maior do que no período da Grande Depressão. Historicamente, a taxa de desemprego americana atingiu um pico de 24,9% em 1933.
Durante a recessão de 2009, a maior taxa de desemprego atingida chegou a 10%, para se ter noção.
Economistas do Goldman Sachs indicam que a taxa de desemprego pode chegar a 15% no meio do ano. Ian Shepherdson, da Pantheon Macroeconomics, espera que o teto das demissões seja de 20 milhões e que a taxa de desempregados fique entre 13% e 16%. Já de acordo com Paul Ashworth, da Capitol Economics, a taxa de desemprego pode atingir 10,1% em abril.
Na quinta-feira (2), o gabinete do orçamento do Congresso americano anunciou que a taxa de desemprego deve ultrapassar os 10% no segundo trimestre, de acordo com as novas estimativas.
* colaborou Christine Romans, da CNN