Estímulos econômicos, vacinação: como os países do G20 enfrentaram a pandemia
Assuntos debatidos no encontro se concentram em temas como o combate às mudanças climáticas e a condução da recuperação econômica global


A 16ª reunião do G20, que acontece neste fim de semana, em Roma, na Itália, volta a ser realizada de forma presencial, após o encontro de 2020, sediado pela Arábia Saudita, ter ocorrido de forma virtual devido à pandemia de Covid-19.
Em meio à volta dos apertos de mãos entre os líderes, os assuntos debatidos no encontro se concentram em temas como o combate às mudanças climáticas, fazendo da reunião em Roma uma “prévia” da COP26, e a condução da recuperação econômica global em relação à pandemia de Covid-19.
Responsáveis por 75% do volume de exportações global, o G20 é o grupo das nações com as maiores economias mundiais. Ele é composto por África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia. A União Europeia é o vigésimo integrante do bloco.
O CNN Brasil Business analisou dados de entidades internacionais e conversou com especialistas sobre a situação dos países do bloco em relação aos estímulos econômicos para o enfrentamento da pandemia, avanços na vacinação e número de mortes por Covid-19. Confira:
Trilhões de dólares para a retomada econômica
Os países do G20 utilizaram boa parte do seu PIB para combater à pandemia.
De acordo com o monitor fiscal do Fundo Monetário Internacional (FMI), que desde janeiro de 2020 acompanha os gastos, empréstimos e garantias dados pelos governos, Itália, com 46,2%, Japão, com 45%, e Alemanha, com 43,1%, são os que mais comprometeram suas reservas buscando mitigar os impactos da pandemia. No Brasil, os gastos são proporcionais a 15,4% do PIB.
Para Ricardo Reis, professor da London School of Economics and Political Sciences no Reino Unido (LSE), quem gastou mais não necessariamente conseguiu proteger melhor a população contra o vírus.
“Alguns países como os Estados Unidos gastaram muito dinheiro, mesmo que 80% disso não fosse necessário. Enquanto outros fizeram de uma forma mais cirúrgica. Quando se olha para os resultados, o mais surpreendente é ver que a recuperação de uma economia que gastou pouco frente a outra que gastou mais é muito semelhante.”
Ainda assim, o relatório “World Economic Outlook” (Perspectiva Econômica Mundial), divulgado em outubro pelo FMI, sugere que, para que a economia global volte a atingir níveis pré-pandemia, o investimento precisa ser elevado.
Segundo o documento, a soma dos pacotes de estímulos econômicos do G20 do começo da crise sanitária até os próximos anos gira em torno dos US$ 15 trilhões.
A Comissão Europeia declarou que planeja injetar 2,018 bilhões de euros (US$ 2,35 trilhões) na economia nos próximos sete anos. A estrutura do plano engloba medidas de auxílio, como suporte para trabalhadores e acesso a crédito, além de investimentos em tecnologias renováveis.
Para Reis, a estratégia da União Europeia busca tornar o continente menos dependente de mercados externos: “A União Europeia está sentindo que está ficando para trás nessas questões digitais, ao ver empresas americanas controlarem o setor digital. Há também uma preocupação que vem com a pandemia para um maior nacionalismo, e a busca por querer produzir mais dentro do bloco”.
Já os Estados Unidos têm em mãos um orçamento de US$ 4,7 trilhões para ser utilizado com as medidas de mitigação e estímulo à economia. De acordo com o site oficial do governo americano, o USA Spending, US$ 3,4 trilhões desse montante já foram utilizados.
Na análise do professor, o pacote americano busca cumprir as mudanças prometidas por Joe Biden, “criando um estado social maior o mais depressa possível e gastando muito, pois não se sabe se terão o Congresso daqui a quatro anos”.
Já as medidas dos mercados emergentes do G20 passam longe dos trilhões. Apesar dos R$ 520 bilhões gastos em 2020 pelo governo brasileiro no combate a pandemia e no suporte de renda, de acordo com o professor da Faculdade de Economia da USP, Paulo Feldmann, o Brasil não tem plano traçado para os próximos anos.
Vacinação

Até esta última semana, quase 7 bilhões de doses de vacina contra a Covid-19 tinham sido aplicadas mundo afora. Cerca de 5,4 bilhões delas, ou 78%, acabaram nos braços de habitantes do G20. O restante, 1,54 bilhão, foi dividido entre as outras centenas de nações do planeta.
Dentro do G20, o Brasil é o quinto país que mais vacinou sua população, com quase 273 milhões de doses administradas. A China ocupa o primeiro lugar, com mais de 2 bilhões de doses aplicadas, seguida pela Índia, com 805 milhões de doses.
As nações ricas vêm recebendo críticas em relação à compra exacerbada de vacinas. Como parte de um grupo que representa 80% do PIB mundial, alguns países do G20 fecharam diversos contratos com farmacêuticas, garantindo uma quantidade de doses muito superior à necessária para vacinar toda a população.
Um projeto organizado pela Duke Global Health Innovation Center, que contabiliza quanto cada país assegurou de doses de vacinas, aponta a discrepância.
O Canadá, por exemplo, do começo da pandemia até este mês, comprou o equivalente a 11 doses de vacina por habitante. O país conseguiria, dessa forma, imunizar sua população completamente por quase seis vezes. A Austrália comprou o equivalente a 9,18 doses por habitante. O Brasil, até agora, adquiriu 2,83 doses por habitante.
Enquanto isso, a promessa dos países desenvolvidos de doar doses sobressalentes da vacina para o consórcio Covax Facility caminha a passos lentos. O programa, parceria entre Unicef, Organização Mundial da Saúde, Banco Mundial e Fundação Bill e Melinda Gates, tem como meta fazer a distribuição de 2 bilhões de doses para nações mais pobres. Até outubro, porém, o consórcio havia distribuído menos de um quarto disso: 406 milhões de doses para 144 países.
O maior lote de doações viria dos Estados Unidos, com 800 milhões de doses. Até agora, entregaram 108 milhões. A União Europeia prometeu 345 milhões de doses, mas distribuiu 40,6 milhões. Segundo um relatório do G20, a demora da entrega se deve a problemas e atrasos nas cadeias de produção.
Um levantamento feito pela companhia de análises científicas Airfinity mostrou que a distribuição de vacinas foi 15 vezes maior para os países do G20 do que para nações da África Subsaariana. Foi também 15 vezes maior do que as doses entregues a países de baixa renda e três vezes maior do que as vendidas para todos os outros países do mundo somados.
Em carta aberta aos líderes do G20, a Unicef pediu para que a vacinação se torne mais igualitária. A diretora-executiva da organização, Henrietta Fore, afirmou que “a desigualdade vacinal não está apenas deixando os países pobres para trás, está deixando o mundo todo para trás”
“No momento que líderes [do G20] se encontram para estabelecer prioridades para a próxima fase da resposta à Covid-19, é vital que eles se lembrem que, na corrida pela vacina da Covid, nós vencemos juntos ou perdemos juntos”, disse.
Mas a discrepância da vacinação também é vista entre os integrantes do próprio grupo. Enquanto países como Coreia do Sul, Canadá, Japão e Itália já tiveram mais de 70% da sua população completamente vacinada, na Índia, o índice fica abaixo de 23%. Na África do Sul, abaixo de 20%.
De acordo com um relatório do G20, uma força-tarefa busca encontrar caminhos para chegar à meta de ter pelo menos 40% da população de cada país vacinada até o fim de 2021, e 70% até o fim de 2022.
Mortes por Covid-19
A reunião do G20 ocorre no centro de convenções “La Nuvola” (A Nuvem, em tradução do italiano). Mas o grupo dos países mais ricos do mundo, que concentra 60% da população mundial, carrega consigo um dado sombrio: juntos, eles são responsáveis por mais de dois terços das mortes (66%) por Covid-19 em todo o mundo.
Segundo o levantamento feito pela Universidade Johns Hopkins, desde o início da pandemia até 27 de outubro deste ano, foram registradas quase 5 milhões de mortes por Covid-19 no planeta. Destas, 3,3 milhões delas ocorreram em nações do G20.
Em números absolutos, os Estados Unidos são responsáveis por 14% do total de mortes por Covid-19 no mundo. O Brasil vem logo atrás, com 12% do total. Mas quando a análise dos dados é feita de forma proporcional à população do país, o Brasil passa à frente dos americanos.
Segundo o site Our World in Data, o Brasil teve 2.835 mortes por milhão de habitantes. É o maior número dos países do G20. A Argentina, segunda colocada, teve 2.541 mortes por milhão. Em terceiro lugar estão os Estados Unidos, com 2.227 mortes por milhão de pessoas.
Já a Austrália, país com clima que se assemelha ao brasileiro, mas que fez um severo lockdown durante muitos meses e impôs rígidas restrições a viagens, registrou 65 mortes por milhão de pessoas.