Em meio à ‘safra dos ventos’, eólica compensa parte das perdas de hidrelétricas
Setor tem batido recordes de produção no período mais favorável ao segmento no ano
Praticamente inexistente na matriz energética brasileira durante a crise de 2001, a energia eólica já se tornou a segunda mais utilizada no país, respondendo por 10,8% do consumo do Sistema Interligado Nacional (SIN), de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Essa proporção, contudo, vai aumentar até novembro, período até o qual se estende o que o mercado energético classifica como “safra dos ventos”.
O segundo semestre do ano é o momento no qual, tradicionalmente, registram-se os ventos mais favoráveis para a produção de energia eólica brasileira. Para ela, não basta ventar: é necessário que tenha ventos estáveis, com velocidade adequada e sem mudanças bruscas de direção. Essas condições mais favoráveis que ocorrem durante a safra aumentam a participação do segmento na matriz.
Neste período, a eólica costuma bater recordes de geração, que aumentam a participação do segmento na matriz. Frequentemente ela se aproxima dos 20% e, neste momento, está em 16,9%. No mesmo período, as hidrelétricas, responsáveis por 63,2% da capacidade instalada, têm contribuído apenas com 43,3% da energia, devido à baixa dos reservatórios.
O Brasil tem atualmente a sétima maior capacidade mundial instalada de produção de energia eólica, com 726 parques capazes de produzir 19,1 gigawatts (GW). A meta é fechar o ano com 20,1 GW, quase 14 vezes mais que o registrado no país dez anos antes. Ritmo que, de acordo com Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), seguirá intenso nos próximos anos.
“Nós vamos expandir a capacidade instalada para 30 GW até 2024. Isto, com base em contratos de leilões já realizados e obras em andamento, não são apenas expectativas. Temos adicionado, em média, 3 GW de capacidade instalada por ano. Cerca de 80% da energia eólica do Brasil hoje está concentrada no Nordeste, que tem os melhores ventos, mas há também uma produção importante no Rio Grande do Sul”, afirma.
Durante a safra dos ventos, o setor costuma bater recordes de geração que aumentam a participação do segmento na matriz. Frequentemente ela se aproxima dos 20% e, neste momento, está em 17,9%. Enquanto isto, as hidrelétricas, responsáveis por 63,2% da capacidade instalada, tem entregue 43,9% da energia.
Para Elbia Gannoum, um dos desafios do planejamento energético brasileiros é assimilar que as hidrelétricas não podem mais entregar energia correspondente à capacidade instalada de produção.
“Mesmo que não estivéssemos em meio a uma crise hídrica, a energia já estaria no centro das discussões porque é influenciada por vários fatores. Entre eles, as mudanças climáticas que alteram os ciclos da natureza, e as metas ambientais. O planejador energético, que faz um trabalho muito bom, precisa entender que as hidrelétricas não podem mais entregar 63,2% da energia brasileira. Talvez possa entregar 50%”, avalia.
Os planos de diversificação da matriz, conduzidos pelo Ministério de Minas de Energia, pretendem reduzir a participação das hidrelétricas, de 63,2% em 2021, para 58,9% até dezembro de 2025. O dado é do relatório do Programa Mensal da Operação (PMO), elaborado pelo ONS em agosto.