Setor da construção defende flexibilizar Bolsa Família para gerar empregos
Com proposta de flexibilização do programa, trabalhador integrado a mercado de trabalho não perderia imediatamente auxílio


Representantes do setor da construção civil divulgaram, nesta quarta-feira (12), uma carta na qual propõem um modelo de flexibilização para o Bolsa Família (BF). A ideia é criar um modelo de transição no qual o benefício seja reduzido gradativamente conforme a renda cresce.
A carta, divulgada no Metro Quadrado, do Brazil Journal, reforça a importância do programa social para assegurar renda mínima e garantir que os beneficiários tenham uma vida digna, além do impulso que é gerado para a economia local e nacional.
Contudo, o setor afirma que a atual estrutura do Bolsa Família incentiva uma dependência involuntária daqueles que recebem o auxílio, o que acaba prejudicando a oferta de mão de obra no mercado de trabalho.
“A estrutura atual do programa incentiva a permanência na assistência ao criar um dilema cruel para seus beneficiários: ingressar em um emprego formal e perder 100% do auxílio, ou manter-se em um ciclo de dependência para garantir uma segurança financeira mínima”.
Com a proposta de flexibilização do benefício, o trabalhador integrado ao mercado de trabalho não perderia imediatamente o auxílio, mas o montante seria reduzido de forma progressiva à medida que o colaborador ganhasse estabilidade no mercado formal.
“Ao criar um modelo de transição no qual o benefício seja reduzido gradativamente conforme a renda cresce, o Brasil pode experimentar um salto econômico, com impacto direto na geração de empregos, no aumento da arrecadação e na estabilidade inflacionária. Se os beneficiários puderem trabalhar sem perder imediatamente o auxílio, mais dinheiro circulará, aquecendo a economia”, diz o texto.
Economia dinâmica
Ao propor uma flexibilização do programa com a redução progressiva do benefício, o setor vê grande potencial para a dinâmica econômica e para o setor da construção civil, que exerce papel importante no mercado de trabalho.
“Se os beneficiários puderem trabalhar sem perder imediatamente o auxílio, mais dinheiro circulará, aquecendo a economia. A construção civil e a indústria poderão preencher vagas essenciais e voltar a operar com força total, reduzindo atrasos em obras e contribuindo para o crescimento do PIB”, diz o documento.
Assinaram a carta Rubens Menin, chairman da MRV&Co, controlador do Inter, da Log Commercial Properties e da CNN Brasil; Ricardo Valadares Gontijo, chairman da Direcional Engenharia; Claudio Andrade, chairman da Tenda e Roberto Reis, publicitário e consultor político.
Leia carta na íntegra
Trabalho + Bolsa Família: o binômio que pode mudar o Brasil
O Bolsa Família é um dos pilares do Estado de bem estar social brasileiro, impactando a vida de milhões de famílias e contribuindo para uma sociedade mais justa e igualitária. Os mais de R$ 14 bilhões gastos anualmente beneficiam 20,7 milhões de lares em todo o País – uma rede de proteção social essencial num Brasil profundamente desigual.
O Bolsa Família garante não só o acesso a necessidades básicas – alimentação, saúde e educação – como também impulsiona a economia local e nacional.
Ao assegurar uma renda mínima, o programa permite que os beneficiados tenham vidas dignas enquanto se preparam para maior autonomia.
Dito isto, o programa tem um lado sombrio: a dependência involuntária.
Apesar de sua relevância, o Bolsa Família gerou um efeito colateral perigoso: um aprisionamento social, uma submissão indesejada, dependência e estagnação econômica de milhões de brasileiros.
A estrutura atual do programa incentiva a permanência na assistência ao criar um dilema cruel para seus beneficiários: ingressar em um emprego formal e perder 100% do auxílio, ou manter-se em um ciclo de dependência para garantir uma segurança financeira mínima. Esse modelo desestimula o crescimento econômico, empurra trabalhadores para a informalidade e contribui para a escassez de mão de obra em setores essenciais.
O nó que precisamos desatar é: como fazer trabalho e Bolsa Família andar juntos?
A flexibilização do Bolsa Família é uma discussão para já. Permitir que os beneficiários possam trabalhar sem perder imediatamente o direito ao auxílio é uma mudança que pode transformar o mercado de trabalho e a economia do País. Setores como a construção civil enfrentam uma crise de mão de obra porque muitos potenciais trabalhadores não querem perder o benefício ao aceitar um emprego formal.
Ao criar um modelo de transição no qual o benefício seja reduzido gradativamente conforme a renda cresce, o Brasil pode experimentar um salto econômico, com impacto direto na geração de empregos, no aumento da arrecadação e na estabilidade inflacionária.
Se os beneficiários puderem trabalhar sem perder imediatamente o auxílio, mais dinheiro circulará, aquecendo a economia.
A construção civil e a indústria poderão preencher vagas essenciais e voltar a operar com força total, reduzindo atrasos em obras e contribuindo para o crescimento do PIB.
Com mais trabalhadores ativos, a produção cresce, equilibrando oferta e demanda e estabilizando preços.
Diversos estudos indicam que políticas de inserção laboral contribuem com o crescimento do PIB.
Claro, não basta simplesmente aprovar a medida e esperar que tudo se resolva. É fundamental executá-la com transparência e responsabilidade, em vez de tratá-la como uma jogada eleitoreira.
A transição deveria ser gradual. O benefício deve ser reduzido de forma progressiva à medida que o trabalhador ganhe estabilidade no mercado formal.
A flexibilização do Bolsa Família é um aprimoramento essencial para que ele cumpra sua missão de maneira mais eficaz. Não podemos mais ignorar a realidade: milhares de beneficiários já estão buscando renda extra na informalidade.
O Brasil precisa de uma solução que equilibre segurança social e mobilidade econômica. A pergunta não é se devemos mudar, mas como e quando o faremos.
Rubens Menin é chairman da MRV&Co.
Ricardo Valadares Gontijo é chairman da Direcional Engenharia.
Claudio Andrade é chairman da Tenda.
Roberto Reis é publicitário e consultor político.