Economia está parada e deve continuar assim em 2022, afirma especialista
Apesar de resultado positivo da "prévia do PIB" em novembro e dezembro, houve desaceleração no segundo semestre de 2021
Considerado a prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) emendou duas altas em novembro e dezembro de 2021, fechando o ano com avanço de 4,5%. Mas, apesar dos resultados, Marcelo Kfoury, professor de economia FGV-EESP, afirma que a economia brasileira está parada, e deve continuar assim em 2022.
“Temos que pensar na margem, em novembro e dezembro o PIB não foi mal, o IBC-Br foi de 0,5% de novembro e agora 0,3% em dezembro, então no fim do ano aparentemente houve uma recuperação, mas se pegar o quarto trimestre do ano passado, o crescimento vai ser próximo de 0%”, afirmou em entrevista à CNN nesta sexta-feira (11).
Ele avalia que o cenário no segundo semestre foi de desaceleração da economia, com alguns PIBs negativos. “A economia cresceu forte no primeiro trimestre e depois parou no segundo, terceiro e quarto, e está ao redor de 0%”.
O crescimento no ano de 4,5%, segundo ele, também é “meio enganoso”. O motivo é que a alta é praticamente equivalente à queda de 2020, devido à pandemia, quando o PIB recuou 4,1%.
“Se pegar nos dois anos, está meio que zero a zero, então a economia está meio parada, quase estacionada, e a perspectiva para 2022 é por aí também”, diz.
O economista afirma que ainda há poucos dados econômicos para janeiro de 2022, mas a produção de veículos, por exemplo, foi “muito ruim”. Ao mesmo tempo, a confiança da indústria, serviços e comércio no mês vieram todas negativas, o que ele avalia ser um “mau sinal” para o primeiro trimestre.
“No fim do ano, mesmo tendo alguma recuperação na indústria, teve um número forte nos serviços e as vendas do comércio ficaram no zero a zero. Tudo junto mostra que a economia está bem próxima da estabilidade”, diz.
A estagnação econômica está ligada à alta inflação, com a consequente elevação de juros pelo Banco Central para combatê-la. Como a autarquia sinalizou que o ciclo de alta ainda continuará em 2022, Kfoury afirma que “a política monetária não vai ajudar a economia a crescer neste ano”.
Já a política fiscal pode ter “alguma ajuda” no crescimento, já que em ano eleitoral é comum que os investimentos pela União e estados aumentem.
No caso do crescimento do setor de serviços em 2021, o professor afirma que “houve uma defasagem no setor de serviço para recuperar. A indústria recuperou muito forte e desde julho está patinando”.
“Por ter tido o isolamento social por mais tempo, serviços está recuperando por último, então esse número de crescimento de 10% é um pouco enganoso porque é a recuperação da pandemia que veio mais atrasada”, diz.
“Já o setor industrial teve uma demanda forte logo depois da pandemia, mas está com falta de peças, então a queda de 24% na produção de veículos em janeiro em relação a janeiro de 2021 é porque está faltando peças, principalmente componentes eletrônicos, não só para os automóveis, mas para toda a indústria, então mesmo com a demanda o setor não está conseguindo crescer pelas questões logísticas”, avalia.
Por outro lado, Kfoury avalia que ainda “há bastante para recuperar em termos de queda do desemprego. Tem chances de continuar caindo, o que é uma boa notícia. Em termos de renda, vamos ver como vai ficar a inflação. Para esse ano estão prevendo entre 5% e 6%, que é alguma melhora e pode reduzir o impacto”.
*Sob supervisão de Elis Franco