É possível investir em infraestrutura respeitando orçamento, diz economista
Marcelo Allain, diretor do BR Infra Group, admite que os obstáculos para o investimento em infraestrutura não podem ser resolvidos de um dia para outro
O debate sobre a recuperação econômica no pós-pandemia ressuscitou uma fórmula conhecida no Brasil: o investimento público, como motor do crescimento. A infraestrutura foi o setor apontado pelos ministros militares do governo federal como prioritário no plano que nasceu por vias tortas e agora busca alguma sustentação no governo.
Além da barreira política, com a discordância do ministro Paulo Guedes ao chamado Pró-Brasil, há o obstáculo fiscal, ou seja, um aumento descontrolado dos gastos públicos para o combate ao contágio do coronavírus, comprometendo a solvência do país. A equipe econômica alerta para o risco de gestão da dívida pública a partir do ano que vem, se o excesso de gastos não ficar contido em 2020.
Nesta entrevista ao CNN Business, o economista Marcelo Allain, diretor do BR Infra Group, analisa a proposta do governo e fala de soluções que não comprometam o equilíbrio das contas públicas.
Segundo ele, todos os setores já estão passando por dificuldade tremenda em função da queda na demanda. Menos passageiros, menos pedágios, menos consumo de energia, água, entre outros, o que desequilibra financeiramente quem já tem operação instalada.
Allain reconhece que os obstáculos para um aumento do investimento em infraestrutura não podem ser resolvidos de um dia para outro. Regulação, risco jurídico, burocracia fazem parte da realidade brasileira e já provocaram atrasos históricos em diversos setores.
“Já acertamos e já erramos, mas há dois ou três anos estamos resolvendo este problema. A pandemia é força maior e paralisou muita coisa. Vai levar um tempo pra estruturar os projetos de concessão, mesmo aqueles que já estão caminhando terão que ser revistos em função do ambiente de elevada incerteza”, diz Allain.
Para o especialista em infraestrutura, diante dos desafios que a crise impõe, o Brasil vai precisar seguir o que o mundo todo está fazendo, ou seja, liderando gastos, investimentos e programas. No nosso caso, Allain acredita que haja uma solução dentro do orçamento federal sem gerar risco ou instabilidade fiscal.
“Há muito ruído no debate, porque estamos diante de extremos. De um lado, só o gasto público pode ser feito e de outro, achar que equilíbrio fiscal implica em nao ter nenhum tipo de gasto público. Temos uma linha que tem que ser seguida na reforma da Estado, para aumentar eficiência e garantir solvência de longo prazo. Mas o momento agora, com esta parada súbita, é possível ajeitar algo dentro do orçamento”, pondera o diretor do BR Infra Group.