É muito difícil não ocorrer uma recessão nos EUA em 2023, diz ex-diretor do BC
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central, afirmou que país ainda foi tímido em altas de juros para conter a inflação
Com a maior inflação em mais de 40 anos e um ciclo de alta de juros ainda no começo, os Estados Unidos devem enfrentar uma recessão no próximo ano, segundo o ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo.
Em entrevista à CNN, Figueiredo afirmou que o país não vê uma inflação do tipo há décadas, e por isso está aprendendo a lidar com ela. “Nesse caso o Brasil tem uma vantagem, já lidou muitas vezes com a inflação e sabe lidar, não à toa estamos no fim do ciclo e eles começando”.
Na avaliação do ex-diretor, o banco central do país, o Federal Reserve, foi muito tímido na alta de juros até agora, por não saber lidar com a inflação e achar que a situação se resolveria sozinha.
“A inflação está em 8% e os juros ainda abaixo de 1%, e eles têm a crença de que com juros a 3% resolvem o problema, mas não resolvem. Terão que fazer mais coisas para conseguir reduzir a inflação, e é nesse momento que estamos chegando, perceberam isso”, diz.
Por isso, o mercado passou a projetar nessa semana uma alta de 0,75 ponto percentual nos juros, e não mais 0,5 p.p., nas próximas reuniões de política monetária, um movimento que ocorreu pela última vez em 1994.
“Vamos ver se o Fed vai entregar isso. Eu tendo a achar que sim, embora haja uma grande dúvida sobre essa decisão. Não aconteceu na história uma inflação superior a 5% que um país, para conter, não tenha chegado a uma recessão, é muito difícil que a gente não veja uma recessão nos Estados Unidos em 2023”.
Já em relação ao Brasil, Figueiredo afirma que a alta nesta reunião, de 0,5 p.p., deve ser a última, mas que a autarquia não deve ser explícita quanto a essa posição.
“Estamos fazendo o nosso dever de casa, no final do processo de aperto monetário, mas como o resto do mundo não está ainda, a inflação continua subindo, surpreendendo para cima. É muito difícil o BC ser assertivo na reunião e dizer que vai parar porque lá fora por exemplo o petróleo subiu mais 10% no mês passado, é difícil que a gente não importe mais inflação”, diz.
Por isso, o cenário de incertezas justificaria, na visão do ex-diretor, que a autarquia sinalização a intenção de encerrar o ciclo, mas deixando uma porta aberta para uma possível alta na próxima reunião.
Mesmo assim, ele considera que o valor final da taxa Selic não deve ter uma grande variação, entre 13,25% e 13,5%.
“O diretor de política monetária do Banco Central disse em um evento que a intenção era não subir muito mais os juros, e ficar mais tempo no valor se for necessário, o que eu acho inclusive muito razoável. Não adianta ficar escalando, tem um tempo para a inflação responder para a política monetária, e não adianta ficar subindo sem a resposta”.