Diplomatas veem Argentina “discrepante” no G20 e tentam manobrar declaração por consenso
Pontos de discordância caem sobre questão identitária, principalmente igualdade de gênero
Diplomatas brasileiros avaliam as posições da Argentina “discrepantes” do restante dos países membros do G20, enquanto enviados dos líderes negociam a declaração final do grupo, no Rio de Janeiro.
Os pontos de discordância caem sobre a questão identitária, principalmente igualdade de gênero.
O esforço neste momento é para manobrar a linguagem de maneira a agregar o vizinho e abrir caminho a um texto de consenso.
A Argentina resiste à agenda da presidência nas reuniões dos enviados dos líderes, que acontecem desde terça-feira (12) até esta sexta (15). A posição, porém, não é uma novidade para os negociadores do Brasil, que viram o país interditar declaração ministerial durante sua presidência no G20.
Os quadros que falaram sob reserva à CNN veem a questão de maneira pragmática: o governo argentino diverge ideologicamente da agenda proposta.
“Milei tem suas visões e princípios, e agora o país reflete as posições dele. Isso dificulta o consenso. Não tem como escapar disso”, diz um deles.
Na percepção dos diplomatas, este é o resumo da divergência e não há tentativa deliberada por parte do governo Milei de tentar “melar” a declaração de líderes e demais entregas da presidência brasileira.
Agora os sherpas articulam a linguagem para agregar a visão argentina sem tornar o texto brando e assim afastar o suporte de países que gostariam de uma declaração potente em suporte à igualdade de gênero — ou mesmo ferir as premissas propostas pela presidência.
A única declaração ministerial frustrada no G20 Brasil foi do grupo de empoderamento feminino, por oposição do governo Milei. Teve de ser divulgada uma declaração da presidência brasileira com sinalização à igualdade de gênero e destaque para o fato de que todos o grupo exceto a Argentina concordaram com os termos.
Já a declaração ministerial de consenso do grupo de cultura foi firmada, mas recebeu asteriscos, também por conta do vizinho. A equipe de Milei discordou dos parágrafos 6 e 8, que defendem a cultura como caminho para a agenda 2030 e a garantia de investimentos públicos para a área, respectivamente.
A primeira-dama Janja Lula da Silva criticou na quinta-feira (14) a resistência da Argentina de Javier Milei à declaração por empoderamento feminino. A fala aconteceu no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, na abertura do G20 Social.