Depois de acordo fracassado com a Boeing, restam três alternativas à Embraer
Segundo apurou a CNN, o governo está avaliando o assunto da Embraer com cuidado, mas as negociações sobre o futuro da companhia ainda não começaram



No último sábado, a Boeing confirmou o que o mercado já especulava: não vai concluir a aquisição da área de jatos regionais da Embraer por US$ 4,8 bilhões e deixou em suspenso a parceria entre as duas empresas.
A gigante americana rompeu o negócio com o argumento de que a fabricante brasileira não cumpriu suas obrigações contratuais para o fechamento do negócio. A Embraer nega e entrou na arbitragem pedindo indenização.
Pessoas que acompanham o assunto de perto avaliam que o problema é o preço. Quando o negócio foi fechado, em janeiro de 2019, o valor de mercado da Embraer variava entre US$ 3,3 bilhões e US$ 3,7 bilhões.
A Boeing considerava o negócio estratégico e aceitou pagar um prêmio, fechando a compra de cerca de 80% da Embraer por US$ 4,8 bilhões. O contrato demorou a ser fechado aguardando a aprovação de órgãos reguladores ao redor do mundo.
Enquanto isso, o valor de mercado da Embraer passou a cair. Primeiro, porque a concorrente Airbus/Bombardier passou a ganhar espaço no mercado de jatos regionais. Depois, por causa da crise do novo coronavírus, que reduziu drasticamente o número de vôos.
Atualmente, o valor de mercado da Embraer está entre US$ 1 bilhão e US$ 1,1 bilhão. E apenas em dividendos a Boeing teria que pagar à empresa brasileira cerca de US$ 1,6 bilhão, além dos US$ 4,8 bilhões pela participação. Ou seja, o negócio perdeu a racionalidade econômica para a Boeing.
Sem a Boeing, a situação ficou ainda mais difícil para a fabricante brasileira e o preço das ações refletiu isso. Somente nesta segunda-feira os papeis caíram 7,49%, enquanto as ações da Boeing fecharam praticamente estáveis.
A Embraer está garantindo aos investidores que tem um caixa robusto, que promoveu cortes de custos, redução de produção e está pronta para resistir sozinha aos desafios impostos ao mercado pelo novo coronavírus. Os analistas estimam que a venda de aeronaves deve demorar cinco anos para se normalizar.
O discurso, contudo, é contraditório em relação ao que a própria empresa defendeu para aprovar o negócio com a Boeing: a de que não sobreviveria sozinha depois que a Airbus comprou sua concorrente histórica, a canadense Bombardier. E isso foi antes do novo coronavírus.
Por conta disso, pessoas a par do assunto afirmam que existem três caminhos para a Embraer:
1) Renegociar o acordo com a Boeing, que permanece como a parceria mais óbvia, mas certamente o preço pago seria muito inferior.
2) Vender parte do seu negócio para estatais da China, que estão crescendo na área de jatos regionais. Os chineses, no entanto, são negociadores duros e uma aliança com o gigante asiático provocaria muita preocupação no governo brasileiro. A Embraer é considerada uma empresa estratégica para a segurança do país
3) Tentar se manter sozinha com apoio do governo brasileiro. BNDES e bancos privados vem analisando empréstimos para grandes empresas, incluindo as maiores companhias aéreas.
Segundo apurou a CNN, o governo está avaliando o assunto com cuidado, mas as negociações ainda não começaram. Para as empresas aéreas, como Latam, Gol e Azul, o formato em análise é um empréstimo que pode se transformar em participação acionária se houver calote.
A Embraer nasceu como uma empresa estatal e foi privatizada em 1994 no governo Fernando Henrique Cardoso. Dependendo do tamanho do empréstimo e de sua capacidade de pagamento, não se pode descartar um risco de reestatização da empresa num cenário extremo – algo pouco palatável à agenda liberal do ministro Paulo Guedes.