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    Davos termina com temor do futuro: guerra, inflação, recessão e até fome no radar

    Há temor generalizado de que a guerra na Ucrânia e o embargo à Rússia poderão levar o mundo a uma nova —e longa— crise econômica e social

    Fernando Nakagawado CNN Brasil Business , Enviado especial a Davos

    A primeira edição do Fórum Econômico Mundial organizada fora do inverno termina em uma linda quinta-feira (26) de sol da primavera em Davos, na Suíça. A meteorologia para o futuro, porém, é diferente. A elite global desce os Alpes Suíços com medo do futuro e o pior: com pouquíssimas respostas.

    Há temor generalizado de que a guerra na Ucrânia e o embargo à Rússia poderão levar o mundo a uma nova —e longa— crise econômica e social.

    Em Davos, a elite global falou abertamente do aumento da inflação em todo o planeta, risco de recessão nas maiores economias e chance de falta de alimentos para os mais pobres.

    Essa bola de neve de problemas surge como consequência da pandemia e da guerra na Ucrânia.

    As preocupações, porém, não se limitam ao embargo aos russos e a perspectiva de diminuição do fornecimento de gás e petróleo aos europeus.

    Esse problema existe, e pode levar a União Europeia a, no limite, racionar gás no inverno. Isso significa botar o pé no freio da indústria, e até passar frio.

    Mas a lista de problemas no radar de Davos segue —é longa.

    A disparada do preço das commodities tem levado a uma onda inflacionária em todo o mundo. Como reação, os bancos centrais de todo o planeta —inclusive no Brasil— estão ou se prepararam para um longo ciclo de aperto monetário. Ou seja, alta dos juros. Assim, as economias devem desacelerar ainda mais.

    Somadas, a crise energética e alta do juro podem levar economias à recessão. Estados Unidos e a Europa são os primeiros candidatos a essa hipótese. Ao mesmo tempo, os sinais da China não são nada positivos, com desaceleração cada vez mais visível da atividade diante da política de tolerância zero com a Covid-19 por lá.

    Ou seja, o mundo já cresce menos —e o freio seguirá sendo sentido.

    Não bastassem os problemas econômicos, há um risco humanitário no radar: o Fórum falou abertamente do risco de segurança alimentar. Traduzindo: fome.

    Com a guerra, a oferta de alimentos, como o trigo, caiu para vários países pobres e acendeu a luz de alerta. Outro problema: a oferta de fertilizantes está em risco, o que pode comprometer a produção agrícola.

    Um exemplo dado pelo próprio Fórum: se a Rússia interrompe o fornecimento de fertilizantes, cai a produção de soja no Brasil, os porcos na China comem menos ração que contém soja e haverá menor oferta de proteína animal.

    Assim, cairá a oferta e os preços subirão ainda mais – o que prejudica especialmente os mais pobres.

    Em busca de respostas, Davos chegou a poucos consensos. Diante de pensamentos insondáveis de Vladimir Putin, não há resposta sobre como acabar com a guerra na Ucrânia.

    Também houve pouco avanço sobre como evitar a queda da produção agrícola e o aumento da fome no mundo.

    Uma das poucas unanimidades é que, diante da inflação alta, a alta do juro deverá ser muito bem calibrada, especialmente pelo Federal Reserve nos EUA e pelo Banco Central Europeu.

    Será preciso dosar o remédio para não matar o paciente. Outro caminho consensual é acelerar a transição para a energia verde.

    O problema é que esse caminho é longo e os resultados só virão vários anos à frente. Até lá, como franceses vão aquecer suas casas? Como funcionarão as indústrias alemãs?

    Hoje, quinta-feira, 26 de maio de 2022, o sol brilha e faz quase 20°C na Suíça, mas ninguém, definitivamente, sabe como estará o mundo no próximo inverno.

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