Dado de inflação nos EUA não deve mudar alta de 0,75 p em juros, dizem analistas
Resultado da inflação de agosto frustrou expectativa do mercado, que espera alívio maior nos preços, mas não deve refletir em aperto monetário mais agressivo na próxima reunião, em 21 de setembro
A inflação nos Estados Unidos variou 0,1% em agosto, acima da projeção do mercado, que esperava deflação de 0,1% no período.
Ainda que o resultado tenha frustrado as previsões de alívio maior nos preços, o movimento não deve refletir, segundo analistas, em um aperto monetário mais agressivo por parte do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) na próxima reunião, em 21 de setembro.
“A leitura de hoje não deve alterar os próximos passos da política monetária, que deve se confirmar em uma alta de 75 pontos-base (0,25 p.p.) na reunião da próxima semana. Para o mercado, no entanto, o dado frustra as expectativas de que a inflação seria controlada mais rapidamente e o aperto monetário, mesmo após reforçado pelo Fed, não seria necessário em tanta intensidade”, afirmou Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.
“O dado hoje mostra que ainda temos um cenário de muita incerteza e a inflação ainda é um problema que requer taxas de juros maiores nos países desenvolvidos”, acrescentou.
Após a divulgação do relatório do governo norte-americano, mostrando que os preços ao consumidor não caíram como esperado em agosto, contratos futuros vinculados à taxa básica de juros do Fed caíram.
O movimento pode ser interpretado como uma confirmação de que o Fed entregará pelo menos um aumento de 75 pontos-base na próxima semana, com uma pequena chance de um aumento ainda maior (de 1 ponto percentual).
“O dado consolida o cenário de uma 3ª alta consecutiva de 0,75 p.p. por parte do Fed, mas existe algum risco menor de 1 ponto percentual”, diz Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, que acredita que exista a possibilidade de um aumento mais agressivo dos juros pelo FOMC (comitê de política monetária do Fed), ainda que o consenso do mercado seja a subida de 0,75 ponto.
Processo desinflacionário pode continuar
Segundo Francisco Nobre, economista da XP, apesar do resultado de agosto ter indicado resiliência dos preços, o processo desinflacionário deve continuar avançando.
Para ele, os mercados estão “quase totalmente precificados”, com o Fed provavelmente aumentando mais 0,75 ponto percentual na semana que vem.
“Acreditamos que a impressão do CPI de hoje os forçará a entregar 75 pontos-base em vez de 50 pbs, o que achamos um erro, considerando o risco de um efeito defasado da política monetária na economia e as perspectivas econômicas ainda muito incertas”, disse.
“De qualquer forma, uma decisão mais agressiva em setembro não altera necessariamente o patamar da taxa de juros terminal. Ainda consideramos que a taxa de Fed Funds terminal será de 3,5%, e não 4% como o mercado está precificando atualmente. Além disso, continuamos a ver espaço para cortes de juros a partir do 4º trimestre de 2023 devido à desaceleração da atividade econômica e desinflação significativa. Esperamos que o Fed atinja a neutralidade em 2,5% no primeiro trimestre de 2024”, argumentou.
A XP projeta o CPI principal terminando 2022 em 6,4%, enquanto o núcleo em 5,4% (anteriormente 6,2% e 4,9%, respectivamente). Já para 2023, a inflação cheia tem previsão de encerrar o ano em 2,9%, enquanto o núcleo da inflação em 2,8%.
Já Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, acredita que exista a possibilidade de um aumento mais agressivo dos juros pelo FOMC, ainda que o consenso do mercado seja a subida de 0,75 ponto.
“O dado consolida o cenário de uma 3ª alta consecutiva de 0,75 p.p. por parte do Fed, mas existe algum risco menor de 1 ponto percentual”, destacou.
Impactos para o Brasil
O resultado da inflação americana em agosto e os próximos passos do Fed impactam o dia a dia dos brasileiros, ainda que a notícia possa parecer distante, de acordo com a economista da Rico Investimentos Rachel de Sá.
Segundo ela, apesar da alta maior do que o esperado, a inflação começa a dar sinais de desaceleração. Como o resultado mensal indica, apesar da alta em serviços e desequilíbrios ainda presentes no setor de energia global, a queda no preço de certas commodities (como alimentos e combustíveis) e de produtos industriais – diante da melhora das cadeias de produção globais – tem ajudado a reduzir o ritmo da inflação no EUA. E de maneira similar, no resto do mundo.
“Também ‘importamos’ parte da inflação de bens e serviços americanos. Os Estados Unidos são nosso segundo principal parceiro comercial, de quem importamos diversos produtos e serviços, como máquinas e equipamentos e serviços de tecnologia e comunicação. Assim, quanto maior a inflação por lá, maior a inflação dos produtos que importamos por aqui – impactando nossa inflação.
A economista ressaltou que juros em alta nos Estados Unidos significam menor liquidez para mercados – ou seja, menos dinheiro em busca de retornos no mundo, além de reduzirem a atratividade relativa de ativos em países mais arriscados, como o Brasil.
“Deste modo, o rumo dos juros nos Estados Unidos também impacta os nossos juros por aqui, especialmente aqueles determinados pela relação entre percepção de risco e demanda no mercado – os juros de longo prazo, que tanto impactam a vida de empresas e famílias no país”, concluiu.