Cotado para o MEC, Renato Feder ajudou a construir império da Multilaser
Empresário presidiu grupo ao lado do amigo Alexandre Ostrowiecki por 15 anos. Juntos, eles fizeram da ex-recicladora de cartuchos um negócio que fatura R$ 2 bi
Depois da turbulenta passagem relâmpago de Carlos Alberto Decotelli pelo Ministério da Educação, o presidente Jair Bolsonaro pode confirmar o nome de Renato Feder para comandar a pasta.
Feder já tem experiência na gestão pública, e mais ainda no setor privado.
O empresário de 42 anos assumiu a Secretaria da Educação e do Esporte do Paraná no ano passado e foi também assessor técnico da pasta no estado de São paulo de 2017 a 2018.
Ele é herdeiro do grupo Elgin, que começou com as icônicas máquinas de costura e hoje fabrica diversos eletrodomésticos. Mas foi pela sociedade na Multilaser que ele ficou conhecido no mercado.
Feder presidiu a empresa junto com o amigo de infância Alexandre Ostrowiecki por 15 anos. Deixou o posto no fim de 2018, quando decidiu ser secretário.
Alexandre é filho do fundador da companhia, Israel Ostrowiecki, e precisou assumir o pequeno negócio de reciclagem de cartuchos para impressoras após a morte repentina do pai, que desapareceu durante um mergulho na Costa Rica, em 2003. Ele tinha 24 anos e convidou o amigo para ajudá-lo no desafio.
Feder tinha a possibilidade de trabalhar na Elgin com sua família, mas decidiu construir sua própria companhia, como já contou em entrevistas.
Deu certo. Juntos, os dois sócios transformaram a Multilaser em uma gigante que vende mais de 3,5 mil produtos dos mais diversos tipos: desde drones e celulares até escovas de dentes elétricas e bolas de pilates.
Crescimento de 60 vezes
De um faturamento de cerca de R$ 30 milhões em 2002, a empresa saltou para uma receita líquida de R$ 1,9 bilhão no ano passado e hoje emprega cerca de 3 mil pessoas.
A diversificação foi a base para o crescimento (e sobrevivência). Sufocada pelas grandes fabricantes de cartuchos originais, a Multilaser começou a vender também produtos ligados à informática importados, sobretudo da China.
Hoje, com portfólio ainda mais ampliado, continua trazendo componentes e itens prontos do país asiático, onde mantém um escritório, mas também tem duas fábricas no Brasil: uma em Minas Gerais e outra na Zona Franca de Manaus.
No fim do ano passado, a companhia se aventurou em mais uma frente, o varejo, e abriu sua primeira loja em um shopping em São Paulo.
Em 2018, flertou com uma abertura de capital e chegou a protocolar um pedido de oferta pública inicial (IPO) junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), xerife do mercado no Brasil. Mas desistiu da bolsa, ao menos por enquanto.
Contratos públicos
A empresa, é verdade, também cresceu ao fechar contratos milionários com o poder público. E isso começou ainda durante o governo de Dilma Rousseff (PT).
Entre 2011 e 2018, como mostra reportagem da CNN, a Multilaser fechou 28 contratos com órgãos ligados aos Ministérios da Previdência Social, Economia, Educação e Advocacia-Geral da União (AGU). Esses contratos, juntos, totalizaram mais de R$ 400 mil.
O maior deles, fechado ainda durante a administração de Dilma Rousseff, foi firmado justamente com o MEC, no valor de R$ 151 mil, e tinha como objetivo o fornecimento de 600 tablets para escolas da rede pública.
Durante o governo Bolsonaro, essa conta também subiu. O primeiro deles foi de R$ 14,2 milhões, firmado em dezembro de 2019, para fornecer 28 mil tablets ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O segundo, menor, somou R$ 313 mil – foi para comprar máscaras cirúrgias para o próprio Ministério da Educação.
Abertura de mercado?
A Multilaser diz que desde que Feder deixou a co-presidência, no fim de 2018, não tem qualquer cargo na empresa e que sua participação no negócio é minoritária.
Formado em administração pela Fundação Getulio Vargas com mestrado em economia pela Universidade de São Paulo, o novo futuro ministro também foi professor de matemática.
No LinkedIn, apresenta-se como “professor, diretor de escola, empresário, administrador e mestre em economia”.
“Acredito que a educação precisa de estratégias pedagógicas inovadoras e de políticas públicas mais eficientes, capazes de dar suporte aos professores na missão de ensinar e de permitir que nossas crianças e jovens possam aprender mais”, escreve.
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