Cortes na oferta de petróleo pela Opep podem gerar inflação e prejudicar crescimento, diz agência
Déficit, que produtores fora da Opep não conseguirão ou não tentarão cobrir, poderá impulsionar os preços do petróleo, agravando a inflação num momento de aparente desaceleração
O mercado de petróleo global vai acumular um déficit muito maior e bem antes do que se previa, depois de alguns dos principais integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) terem anunciado inesperados cortes adicionais na produção, em uma iniciativa liderada pela Arábia Saudita, segundo avaliação da Agência Internacional de Energia (AIE).
Em relatório mensal publicado nesta sexta-feira (14), a agência com sede em Paris prevê que o déficit na oferta de petróleo alcançará 2 milhões de barris por dia (bpd) até o terceiro trimestre deste ano.
O déficit, que produtores fora da Opep não conseguirão ou não tentarão cobrir, poderá impulsionar os preços do petróleo, agravando a inflação num momento de aparente desaceleração e comprometendo o crescimento econômico, diz a AIE.
Há cerca de duas semanas, a Arábia Saudita e outros produtores da Opep+ – que inclui Opep e aliados – anunciaram planos de fazer cortes adicionais de quase 1,2 milhão de bpd na oferta, pegando os mercados de surpresa.
A decisão veio exatamente num momento de consenso entre analistas do setor de que o mercado precisaria ampliar a produção de petróleo, e não o contrário, para satisfazer a demanda crescente da China, que está em fase de recuperação, e evitar que os preços subissem.
A Rússia, que também faz parte da Opep+, anunciou separadamente que estenderá atuais cortes em sua oferta até o fim do ano. Como resultado, os cortes totais deverão chegar a cerca de 1,6 milhão de bpd.
No relatório, a AIE prevê que os cortes reduzirão a oferta global de petróleo em 1,4 milhão de bpd entre março e o fim do ano. A redução deverá começar no próximo mês e se estender até o fim de 2023. Por seus cálculos, a oferta fora da Opep+ deverá crescer 1 milhão de bpd no mesmo período, o que não seria suficiente para compensar os cortes.
Em função dos cortes, a AIE dobrou sua previsão de déficit na oferta global de petróleo em 2023, de 400 mil bpd para 800 mil bpd. A agência também reduziu sua projeção para a oferta este ano em 500 mil bpd, para um total de 101,1 milhões de bpd.
Em relação à demanda, a AIE continua prevendo um aumento de 2 milhões de bpd no consumo deste ano. A agência, no entanto, fez um pequeno corte na projeção para a demanda total em 2023, de 100 mil bpd, a 101,9 milhões de bpd.