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    Corte no diesel segue política da Petrobras e queda do petróleo, dizem analistas

    Estatal realizou segunda redução no preço do combustível em uma semana, após sequência de seis altas

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business , em São Paulo

    A redução de R$ 0,22 no preço do diesel para distribuidoras anunciada nesta quinta-feira (11) pela Petrobras segue a política de preços da estatal, dizem especialistas ao CNN Brasil Business.

    O novo valor, que entrará em vigor na sexta-feira (12), está ligado a dois movimentos de queda: do petróleo e do dólar.

    Com isso, a estatal teve espaço para realizar o segundo corte no preço do diesel em uma semana, após a sequência de seis altas entre setembro de 2021 e junho de 2022.

    Causas

    O anúncio da Petrobras é um “sinal de normalidade e continuidade da política de paridade de importação”, segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura e Energia (CBIE).

    Ele afirma que o diesel no Brasil está mais caro que no mercado internacional, portanto era necessário que a estatal reduzisse o preço para seguir a conformidade com a política de paridade internacional.

    Pires avalia que a decisão não foi politizada, já que a política de preços dá espaço tanto para aumentos quanto para reduções.

    Para ele, o principal fator por trás do corte foi a desvalorização recente no preço do petróleo. Em julho, o barril tipo Brent, referência para a Petrobras, voltou a negociar abaixo dos US$ 100.

    A queda refletiu fatores como o anúncio de aumento de produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e, especialmente, a revisão de projeções para a demanda global, com expectativa de que os países consumam menos petróleo conformem suas economias desaceleram para combater a inflação e correm risco de entrar em recessão.

    “O preço do petróleo caiu pela preocupação de recessão com a alta de juros nos Estados Unidos, então está recuando mesmo com a guerra na Ucrânia”, ressalta.

    Rafael Felipe Schiozer, professor de finanças da FGV EAESP, também vê fundamento no anúncio da Petrobras, e destaca que, além da queda nos preços internacionais do petróleo e do diesel, houve um peso do câmbio na decisão.

    “O dólar vem caindo há umas três semanas, o que se traduz nos combustíveis, e o preço do diesel no mercado internacional caiu comparado ao fim de julho, em quase 10%”, diz.

    Ele ressalta que a Petrobras adotou recentemente uma política de repassar mais frequentemente a variação nos preços da gasolina do que no diesel, o que leva a reajustes mais espaçados.

    “A lógica é que os preços do diesel tem impacto mais de médio e longo prazo nos outros preços, pensando em transportadoras, e elas precisam se proteger mais da variação se ela ocorre rapidamente. Quando repassa menos frequentemente, o valor de reajuste é maior”, explica.

    Nesse sentido, Sergio Araujo, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustível (Abicom) considera que o corte no diesel é “coerente” com a política de preços.

    “Apontamos defasagem de R$ 0,60 no diesel em relação ao exterior antes do anúncio, então foi um reajuste bem razoável. O que esperamos é que a precificação continue assim, quando sobe preços no mercado internacional ou câmbio, aumenta, e se os dois caem, o preço reduz”, diz.

    Impacto na inflação

    Schiozer afirma que o corte no preço do diesel, que já totaliza R$ 0,44 em uma semana, deve ser sentido de duas formas na inflação.

    A primeira é direta, já que o diesel faz parte da cesta de produtos acompanhado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Se o preço dele cai, o produto contribui para um recuo do indicador.

    Além disso, o diesel é usado como combustível no transporte terrestre, e “é insumo para quase tudo que é transportado no país, então o custo dos fretes pode cair”.

    Entretanto, o professor lembra que há um tempo até essa queda de fato chegar ao preço final dos produtos pago pelos consumidores. Dependendo do produto, a demora pode ser de até dois meses.

    Pires também acredita que o corte ajudará na redução da inflação, em especial pela redução de custo no transporte terrestre.

    Ele lembra, ainda, que “a inflação está caindo muito em função da redução no preço de energia e combustível, com o petróleo caindo e a redução do ICMS cobrado para esses produtos”.

    O economista afirma que, se a tendência internacional de queda do petróleo se mantiver, “há espaço para que a Petrobras faça novas reduções na gasolina e no diesel”.

    Porém, a commodity tem apresentado alta volatilidade, e pode entrar em uma sequência de alta durante o inverno no Hemisfério Norte, dependendo de novas sanções contra a Rússia ou cortes no fornecimento de gás natural pelo país.

    Já o presidente da Abicom afirma que “o mercado está muito volátil, as commodities estão variando muito. O petróleo já está volátil, e o diesel mais ainda, bastante descolado do petróleo, então não dá para prever. Depende também do comportamento do câmbio, e o real tem valorizado nos últimos dias”.

    “É difícil prever. É um momento de muita instabilidade no preço do petróleo, e por consequência dos combustíveis. Há uma incerteza sobre uma possível recessão nos Estados Unidos e no mundo, e esse sentimento muda semana após semana, influenciando no preço do petróleo”, avalia Schiozer.

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