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    Contribuição previdenciária dos jovens de 20 a 29 anos caiu para 64,1% em 2023, mostra Ipea

    Precarização do mercado de trabalho e aumento da desigualdade são principais fatores por trás da redução, segundo apontam especialistas ouvidos pela CNN

    Maria Luiza Araujoda CNN , São Paulo

    Mudanças na estrutura do mercado de trabalho tem corroborado para uma menor contribuição dos jovens para a previdência social. Isso é o que mostra o relatório A Queda na Contribuição Previdenciária entre os Jovens Ocupados, do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (IPEA).

    Segundo o relatório, a contribuição dos jovens de 20 a 29 anos apresentou uma trajetória de queda nos últimos 11 anos, com a taxa passando de 66,9% em 2012 para 64,1% em 2023.

    A redução acontece após mudanças significativas “na estrutura de ocupação dos jovens, em que se diminuiu a participação dos empregos com carteira de trabalho e aumentou o trabalho por conta própria- os famosos MEI”, afirma o autor do estudo e economista, Rogério Nagamini. 

    Nagamini, que atualmente é especialista em políticas públicas e gestão governamental no Ipea, explica como os dados contrafactuais produzidos no levantamento ajudam a entender os principais fatores que ocasionaram a mudança. 

    Na estimativa, caso fosse mantida a mesma estrutura de posição na ocupação de 2012, mas com percentual de contribuição para previdência de 2023, o patamar estimado seria de 69,1%, ou seja, superior ao número obtido em 2023 (64,1%).

    Nesse período, foi observado uma diminuição na participação do grupo etário jovem no emprego com carteira de trabalho assinada no setor privado. Se em 2012 cerca de 53,2% estavam dentro do regime CLT, em 2023 esse número caiu para 48,6%, com os jovens se deslocando para ocupações de patamar baixo ou menor de contribuição.

    Fatores por trás da redução

    Além do aumento na informalidade, a professora da Fundação Getúlio Vargas e conselheira do Corecon-SP, Carla Beni, afirma que o aumento da desigualdade no período pós-pandemia também entra nessa conta.

    “Enquanto existe o jovem com qualificação, existe aquele que teve que trabalhar para ajudar a família e já começa na informalidade, não realizando nenhuma contribuição. E com o aumento da desigualdade esse ciclo se perpetua”, explica Beni. 

    Soma-se a isso o crescimento em “voo de galinha” da economia brasileira, no qual ao iniciar um processo de recuperação a mesma volta a recuar ou estagnar por falta de condições estruturais.

    “A gente não tem um crescimento econômico com uma trajetória linear, o que se chama de crescimento em voo de galinha. E esse voo de galinha tem um ponto aqui que é fundamental, porque o investimento de hoje é o emprego de amanhã”, acrescenta a conselheira do Corecon-SP.

    Para além desses fatores, Beni também afirma ser essencial uma campanha de conscientização, principalmente para os mais jovens, sobre a importância da contribuição como um exercício de cidadania.

    “Nós temos algumas raízes culturais que são preocupantes, nós somos o país da sonegação. A pessoa cresce no seu núcleo familiar escutando que sonegar imposto é bom. Contudo, o jovem precisa entender que essa contribuição é importante para ele e para o país”, salienta.

    Impactos no Brasil do futuro

    Os principais efeitos desse movimento de queda na contribuição devem ser vistos no modelo previdenciário brasileiro, isso porque é a contribuição dos trabalhadores ativos que financia a aposentadoria da população idosa.

    População essa que aumentou em 57,4% nos últimos anos, segundo o último censo realizado pelo IBGE. O total de pessoas com 65 anos ou mais saltou de 14 milhões em 2010 para 22,1 milhões em 2022.

    A economista e professora da Unicamp, Simone Deos acredita que o cenário atual é preocupante e acende um sinal de alerta para a estrutura do mercado de trabalho precarizado e para a sustentação do sistema previdenciário.

    “Ou se ataca com políticas públicas esse problema da precariedade, da informalidade do trabalho, de forma a ampliar o percentual de contribuição previdenciária dos trabalhadores mais jovens, ou a conta não vai fechar”, pontua.

    Em paralelo, a professora da Fundação Getúlio Vargas complementa que para solucionar o problema seria necessário reestruturar o cálculo de saída, com o aumento da idade mínima para se aposentar ou com o Estado colocando uma parte maior para poder “fechar a contribuição”.

    “Ou o Estado tem que fazer um aporte maior na previdência, ou aumentar a data de saída. Então ao invés de se aposentar com 62 anos, passa-se a aposentar com 64, 65 anos e assim sucessivamente”, conclui Beni.

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