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    Conheça a Vaxart, empresa que pode estar no caminho para a vacina da COVID-19

    As ações da Vaxart subiram mais de 500% neste ano. Mas é necessário calma (e muitos testes) antes de cravar que a empresa terá sucesso no medicamento

    A empresa de biotecnologia norte-americana Vaxart causou frisson no mercado na última terça-feira ao anunciar que conseguiu resultados positivos em testes para uma possível vacina contra o novo coronavírus. Esperançosos, investidores correram para apostar na companhia e as ações saltaram mais de 30% naquele dia.

    Depois da disparada, em movimento de ajuste, os papéis fecharam em queda no dia seguinte e nesta quinta (23) recuam cerca de 10%, na casa dos US$ 2,64. 

    Mesmo com a diminuição do ímpeto dos investidores, as ações da empresa acumulam alta de mais de 500% no índice Nasdaq, que reúne as principais empresas de tecnologia na Bolsa de Nova York.E foi exatamente em janeiro que a Vaxart anunciou que tinha lançado um programa para criar algum medicamento realmente efetivo à COVID-19.

    Na terça-feira (21), a solução apresentada pela companhia é baseada em um comprimido, que deve ser ingerido à temperatura ambiente, e que representaria uma vantagem em relação a soluções injetáveis.

    A Vaxart é a mais recente a passar pelo fenômeno. Concorrentes como Novavax, Inovio, Moderna e Gilead também viram suas ações se valorizarem depois de comunicarem avanços em pesquisas sobre vacinas contra a COVID-19.

    Por isso, alguns analistas pregam calma antes de embarcar em investimentos nas ações da Vaxart. Isso porque é difícil saber se a empresa conseguirá alcançar uma cura agora. Por enquanto, é especulação – algo que alguns investidores adoram nesses momentos turbulentos. No longo prazo, ainda há dúvida se vai ser, de fato, a Vaxart que chegará à frente no fim dessa corrida. 

    Mas quem é a Vaxart, companhia que pode estar no caminho para encontrar essa resposta?

    A Vaxart foi fundada em 2004, na Califórnia, nos Estados Unidos, berço das startups e da inovação no país. Tem ações negociadas na Nasdaq, a bolsa de tecnologia norte-americana, onde é avaliada em cerca de US$ 190 milhões. 

    A empresa que existe hoje resulta de uma série de fusões no setor ao longo dos anos. Ela tem cerca de 30 funcionários e sua sede fica na cidade de South San Francisco.

    O fundador e diretor científico da empresa, Sean Tucker, é engenheiro químico com Ph.D. em imunologia e o presidente, Wouter Latour, tem experiência executiva em grandes empresas farmacêuticas e biotecnologia, como Genelabs, SmithKline Biologicals e Novartis.

    A Vaxart é focada em criar vacinas orais, administradas por meio de um comprimido conservado em temperatura ambiente (dispensando refrigeração), em vez de injeção. 

    “Vacinas são um dos meios mais econômicos de proteger populações de doenças infecciosas. Para cumprir todo o seu potencial, elas precisam ser fáceis de fazer, fáceis de distribuir e fáceis de tomar”, diz Wouter Latour ao resumir a missão da empresa, em sua página oficial.

    A companhia também está trabalhando para desenvolver uma fórmula líquida para crianças pequenas e adultos que não conseguem engolir comprimidos (a exemplo da que era usada no Brasil contra o vírus da poliomielite, na campanha conhecida pelo famoso personagem Zé Gotinha).
     
    De acordo com a Vaxart, ao envolver o intestino delgado, esse tipo de vacina é capaz de gerar respostas sistêmicas amplas e também respostas imunológicas nas mucosas, o que resultaria em uma imunidade “robusta e persistente”. Essa seria uma “característica única” das vacinas da empresa e trariam um resultado que as injetáveis não conseguem. 

    A tecnologia para a criação dessas vacinas orais é registrada em patentes nacionais e internacionais, segundo a empresa.

    No que ela trabalha

    A empresa está atualmente desenvolvendo possíveis vacinas contra agentes de várias doenças infecciosas. Entre eles estão o norovírus, que causa problemas gastrointestinais; o influenza sazonal, vírus da gripe; o vírus sincicial respiratório, que causa doenças respiratórias; e os vírus H5N1 (da gripe aviária) e H1N1 (da gripe suína). O grupo diz que os comprimidos já foram testados em mais de 400 “sujeitos” e que, até agora, os estudos mostraram segurança e tolerância “favoráveis”.

    Também trabalha em sua primeira vacina terapêutica voltada ao câncer de colo do útero e à displasia causados pelos vírus HPV tipo 16 e 18.

    A vacina contra o novo coronavírus está na fase inicial do processo de desenvolvimento de medicamentos, a dos estudos pré-clínicos — quando são feitos testes em animais. As pesquisas estão sendo conduzidas em parceria com a Emergent BioSolutions.

    Terminada essa etapa, a vacina deve seguir para a fase 1 do estudo clínico, quando começam os testes em uma parcela reduzida de humanos. A Vaxart espera que isso aconteça no segundo semestre de 2020.

    Nenhuma das vacinas desenvolvidas pela empresa, porém, já chegou ao mercado

    A mais avançada, a vacina monovalente contra o influenza sazonal, está na fase 2 dos estudos clínicos — que é quando os testes em humanos são ampliados. É nessa fase que são avaliadas as reações ao medicamento testado e definidas as doses a serem aplicadas, por exemplo.

    Para se tornar um produto comercial, o estudo ainda tem de passar pela fase 3 do estudo clínico (quando o medicamento testado é comparado com outros e, depois, encaminhado para aprovação dos órgãos reguladores). Depois, o produto vai para o mercado, mas ainda passa pela fase 4, quando os possíveis efeitos colaterais são analisados.

    A empresa é dona, no entanto, dos direitos do medicamento Inavir, usado para prevenir e tratar gripe, licenciado no Japão.

    Perfil financeiro

    Como é comum entre empresas de tecnologia, a Vaxart ainda não dá lucro: em 2019, teve um prejuízo de US$ 18,6 milhões, contra perda de US$ 18 milhões um ano antes. Já as receitas somaram US$ 9,8 milhões no ano passado, alta de 137% sobre os US$ 4,15 milhões faturados em 2018.

    No fim do ano passado, os ativos da Vaxart somavam US$ 37 milhões e a empresa tinha US$ 13,5 milhões em caixa e equivalentes. 

    No primeiro trimestre deste ano, a companhia levantou US$ 9,8 milhões com a emissão de warrants (derivativos). Também completou em março uma oferta na qual levantou US$ 10 milhões com a venda de 4 milhões de common stocks (ações ordinárias) e warrants para a compra de 2 milhões de ações que podem ser exercidas por US$ 2,50 por ação.

    Entre os principais investidores da empresa estão os fundos de investimento Armistice capital (dono de mais da metade da fatia detida por investidores institucionais na empresa), Care Capital e BML Investment Partners.

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