Conheça a Ather Energy, startup indiana que produz uma scooter elétrica a cada 90 segundos
Em três anos, vendas mensais da empresa cresceram em 75 vezes
Na fábrica de uma startup localizada no sul da Índia, uma scooter elétrica novinha em folha é produzida a cada 90 segundos.
Para o CEO da Ather Energy, Tarun Mehta, as vendas da companhia estão indo “elétrica e loucamente” rápidas.
A Ather é uma fabricante indiana de scooters elétricas que viu um acentuado crescimento na demanda por seus produtos.
De acordo com Mehta, a companhia vendia mensalmente 200 unidades por volta de 2020. Agora, são “facilmente” distribuídas cerca de 15 mil scooters por mês.
“As receitas estão disparando”, disse Mehta à CNN.
Índia ‘eletrificada’
Na Índia, o mercado de veículos pessoais elétricos está cada vez mais em evidência. Uma pesquisa da empresa de consultoria Bain aponta que essa indústria deve passar a valer US$ 100 bilhões (cerca de R$ 498 bilhões) por volta de 2030.
No país mais populoso do mundo, veículos de duas e três rodas são o foco principal, superando outros meios de transporte, como carros, em cerca de quatro vezes.
Essa nova realidade “eletrificada” fica clara ao passar pelas ruas de cidades como Nova Delhi ou Bangalore. Os registros de ciclomotores elétricos – que custam apenas US$ 1000 (cerca de R$ 4980) – nas ruas dispararam mais de 10 vezes em todo o país nos últimos três anos.
A preferência pela modalidade de veículos é endossada por ambientalistas e pelo governo. A alternativa permite a redução da emissão de gases tóxicos que têm piorado a qualidade do ar de metrópoles em toda a Índia.
O país do sul da Ásia está correndo para se tornar verde, com o objetivo de ter veículos elétricos (EVs, na sigla em inglês) respondendo por um terço de todas as vendas de carros particulares.
Além disso, a Índia prevê que 80% dos veículos de duas e três rodas vendidos sejam elétricos até o final da década.
‘Revolução’ em duas rodas
Além da Ather, – que aumentou suas vendas em 75 vezes nos últimos três anos – empresas já consolidadas como a Hero Motorcorp, maior fabricante mundial de veículos de duas rodas, investiram pesadamente na eletrificação de suas ofertas.
“Nos últimos três anos, um impulso significativo foi trazido ao mercado”, disse Brajesh Chhibber, sócio da McKinsey que co-lidera o think tank da empresa sobre mobilidade futura na Índia.
No ano passado, quase 7% de todos os veículos de duas rodas vendidos eram veículos elétricos – subindo de um “número quase insignificante de unidades há três anos” para 1 milhão, observou Chhibber. “É um salto incrível.”
O impulso foi alimentado por forte apoio do estado, particularmente por meio de uma política conhecida como “FAME”, ou Adoção e Fabricação Mais Rápida de Veículos Elétricos.
O programa, iniciado em 2019, está investindo mais de 100 bilhões de rúpias (cerca de R$ 5,97 bilhões) para subsidiar EVs para consumidores e instalar milhares de estações de carregamento de veículos elétricos em todo o país.
De acordo com a Bain, um veículo de duas rodas de alta velocidade em Delhi agora pode ser 15% a 20% mais caro do que seu equivalente movido a diesel. Sem os subsídios, os EVs eram tinham valor mais alto em até 30%. O barateamento estimulou muitos consumidores a fazerem a troca.
A Ather, que vê a transição como nada menos que uma “revolução”, é uma das dezenas de startups beneficiadas. Ele se junta a pelo menos outros 55 fabricantes de veículos elétricos que surgiram para atender à demanda, de acordo com dados do governo.
Contudo, apesar de ter atingido um milhão de unidades vendidas no ano passado, a Índia ainda tem um longo caminho para percorrer. “A frota total de veículos de duas e três rodas da Índia [é] de 250 milhões – deixando um espaço imenso para o crescimento sustentado”, pontua o Fórum Econômico Mundial (FEM).
Em um relatório de dezembro de 2022, a Bain previu que os veículos de duas e três rodas seriam “a vanguarda para a adoção de EVs”, em parte porque os usuários podem ter maior independência e “adequação ao carregamento doméstico”.
Outros dois atrativos são a economia com combustível promovida pelo uso de veículos elétricos e os esforços para reduzir pegadas de carbono.
De acordo com a Bain, as empresas de e-commerce Flipkart e de delivery de alimentos Zomato se comprometeram a mudarem por completo suas frotas para EVs até 2030.
Desafios para crescimento
Contudo, a Índia ainda enfrenta desafios para expandir esse mercado.
As autoridades indianas ainda trabalham para reverter o atraso em infraestrutura de logística do país.
A Índia vem comissionando novas redes de carregamento em 68 cidades em 25 estados, bem como dezenas de rodovias ou vias expressas, de acordo com uma declaração feita em julho pelo Ministério das Indústrias Pesadas.
Porém, a grande extensão do país e as vastas regiões rurais e subdesenvolvidas indicam que a Índia ainda tem um longo caminho a percorrer – e muito dinheiro para investir.
Em um relatório de novembro, o FEM estimou que são necessários aproximadamente US$ 285 bilhões (R$ 1,419 trilhão) para eletrificar totalmente o mercado de veículos de duas e três rodas da Índia.
Para Anmol Singh Jaggi, CEO da BluSmart, – uma empresa indiana de compartilhamento de viagens que usa uma frota totalmente elétrica – o “maior obstáculo” é a falta de estações de carregamento.
“Embora tenhamos construído algumas estações muito grandes, ainda estamos necessitados por uma infraestrutura de carregamento em grande escala”, disse Jaggi à CNN. “Acho que o governo precisa fazer mais sobre [isso], mais do que apenas incentivos fiscais.”
Mesmo com os subsídios do governo, alguns consumidores permanecem céticos em relação aos EVs.
Especialistas apontam que o caminho é a conscientização, uma vez que os clientes questionam a segurança, a confiabilidade ou o valor dos veículos movidos a bateria. Alguns consumidores acreditam que os preços desses modelos ainda são muito altos.
O sócio da McKinsey, Brajesh Chhibber, disse que é necessário mais tempo para que as pessoas entendam os benefícios econômicos de adotarem veículos elétricos, como a economia de combustível ou menores custos de manutenção.
Os fabricantes de veículos de duas rodas argumentam que, com o custo relativamente alto do combustível na Índia, leva menos de um ano para o proprietário começar a ver economias na compra de uma scooter ou motocicleta elétrica, em comparação com o custo de operação de um veículo com motor à combustão.
“Ainda há alguma hesitação em comprar carros elétricos”, observou Chhibber. “No futuro, à medida que os preços das baterias caírem e os fabricantes de veículos ganharem escala, no geral a equação se equilibrará.” Autoridades e empresários concordam com a ideia.
Jaggi, que opera uma frota de mais de 4.000 carros, disse que há muito tempo está otimista com as previsões “de que o custo das baterias continuará caindo a medida que a eficiência aumentará”.
“Isso vai criar oportunidades para muitos jovens empreendedores como nós”, disse ele. “Este é um tipo de oportunidade única no século.”