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    Movimento de compra de corretoras de investimento por bancos é bom para quem?

    O mercado cresceu por causa das corretoras e elas se multiplicaram porque o investidor retroalimenta seu modelo. E, nesse date, tinha alguém de vela: os bancos

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business

    Em maio de 2017, quando o Itaú comprou 49,9% da XP por R$ 5,7 bilhões, a corretora tinha R$ 69 bilhões sob custódia, e a B3 contava com cerca de 600 mil investidores ativos. De lá para cá, o mercado acionário quintuplicou: já são 3 milhões de CPFs cadastrados na bolsa. Já o total sob a tutela da XP cresceu ainda mais, quase sete vezes, para R$ 500 bilhões.

    Obviamente, uma coisa não anda separada da outra. O mercado cresceu por causa das corretoras, e elas se multiplicaram porque o investidor varejo retroalimenta seu modelo. E, nesse date, tinha alguém de vela: os bancos. É claro que o volume administrado pelas instituições tradicionais segue sendo superior, mas a dificuldade estava em estabelecer diálogo com esse público.

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    A solução para parte deles, a exemplo do que o Itaú fez, foi ir às compras. Há pouco mais de um mês, o Santander anunciou a aquisição de 60% da Toro Investimentos, plataforma educacional transformada em corretora de investimentos em 2018. Na mesma linha, o Nubank divulgou, também em setembro, a compra da Easynvest.

    E, na última segunda-feira (26), foi a vez do BTG Pactual anunciar a entrada da Necton Corretora no grupo por R$ 348 milhões. Com isso, o banco, numa tacada só, arremata mais de 40 mil clientes e R$ 16 bilhões em recursos dos clientes sob custódia. (Todas as negociações dependem de aprovação das entidades regulatórias, como Cade e Banco Central.)

    Isso sem falar no Bradesco, que comprou a Ágora, e no Neon, que comprou a Magliano. 

    A partir disso, pode-se fazer uma infinidade de perguntas, mas há três fundamentais: por que isso é bom para os bancos? O que agrega para as corretoras? E, mais importante, como fica o cliente nessa história?

    Bancos 

    Para as poucas instituições bancárias que dominam o mercado há anos, essa movimentação é uma questão sobretudo de linguagem, mas também de proteção. Fábio Gallo, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), enxerga o movimento como orgânico, de necessidade mesmo. Ele diz que, como qualquer conglomerado grande, os bancos são mais lentos.

    “As corretoras, por outro lado, já nascem digitais, com menos custo e comportamento ágil, utilizando tecnologia”, diz. “Os bancos compram porque têm muito dinheiro, e é a única maneira possível de entrar nesse mercado. Eles não conseguem montar nada parecido internamente porque têm outra cultura.”

    Marcos Piellusch, consultor e professor de finanças na FIA, corrobora com o sentimento e entende que essa necessidade de introduzir uma nova cultura diz muito sobre a incapacidade dos bancos de competir neste novo mercado. E, no pacote, as aquisições trazem uma cartela de clientes, licença para intermediar operações em bolsa, tecnologia…

    “É um movimento também de proteção dos bancos, ampliar portfólio de produtos. Hoje eles têm uma capacidade muito grande de gerenciar perfis e crédito, mas têm dificuldade de se aproximar do mercado”, diz. “O gerente do banco normalmente é voltado para metas, também para pagar a grande estrutura. A corretora se aproxima mais do cliente.” 

    Não por acaso, a intenção do BTG é manter a operação da Necton independente. O Santander disse que a plataforma Pi e a Toro contribuirão “com seus diferenciais de mercado para a formação de uma plataforma completa de produtos”.

    Corretoras 

    Sabe quando aquele ativo que você investe há anos finalmente se valoriza e você decide vender para realizar lucros? É o que as corretoras estão fazendo. O modelo atual de empresas de tecnologia e de finanças privilegia o crescimento acelerado. E isso custa dinheiro.

    É sabido que muitas corretoras queimam caixa, dão prejuízo e dependem de rodadas de investimento para se manter operando. Os sócios por vezes nem veem a cor do dinheiro nos primeiros anos, e a aquisição pode ser um atalho. “Aceitar ser comprado não quer dizer que vai entrar dinheiro no caixa das empresas, e sim no bolso dos sócios”, diz Piellusch. “Mas podem haver aportes, claro.”

    É o caso da Necton que deve acelerar aquisição de outras casas com o dinheiro do BTG. Segundo Marcos Azer Maluf, presidente da corretora, a Necton ficou no positivo todos os meses de 2020, e, no ano passado, terminou com lucro de R$ 14,3 milhões. Bem diferente do cenário de 2018, quando terminou com prejuízo de R$ 10,8 milhões. 

    Clientes

    O maior interessado nessa história toda, o investidor, tem que ficar atento a alguns pontos. Entre os pontos positivos, Piellusch, da FIA, cita a ampliação do portfólio de serviços de ambas as partes. Além disso, os bancos tradicionais dão uma camada extra de segurança aos negócios das corretoras.

    E pontos negativos? É possível que as corretoras coloquem em suas plataformas produtos pouco adequados à realidade dos investidores. Logo, Gallo, da FGV, diz que o investidor precisa estudar cada vez mais para tomar as decisões corretas.

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