Como alguns investidores lucraram com as enormes perdas do mercado de ações
Como isso foi possível? Graças a fundos de hedge projetados para gerar lucro à medida que o mercado mais amplo afundava com o avanço da pandemia de coronavírus
O gerente de fundos de hedge Bill Ackman, de Nova York, apareceu na CNBC no início de março implorando por algum tipo de proteção federal porque achava que o “inferno” estava chegando. O que os investidores não perceberam foi que Ackman estava prestes a lucrar bastante com a turbulência em Wall Street.
Ackman divulgou recentemente uma carta a investidores em seus fundos da Pershing Square Capital Management na qual informava que eles haviam ganhado US$ 2,6 bilhões com a queda das ações. Como ele fez isso? Graças a fundos de hedge projetados para gerar lucro à medida que o mercado mais amplo afundava com o avanço da pandemia de coronavírus. Esses fundos foram abertos pela primeira vez no início de março.
Ackman não está sozinho. Vários investidores se beneficiaram da grande queda de Wall Street este ano com a estratégia de vender a descoberto e manter ETFs – os fundos negociados como ações nas bolsas – que apostam contra o mercado. Os vendedores a descoberto geralmente ganham dinheiro alugando uma ação ou vendendo-a, com a esperança de recomprá-la mais tarde, a um preço mais baixo. A diferença entre o preço de venda original e o preço de recompra é o lucro. Em outras palavras, se você vender uma ação a descoberto por US$ 50 e ela cair para US$ 30, você ganha US$ 20.
Dois ETFs que apostam em um mercado mais amplo – o Direxion Daily S&P 500 Bear 1X Shares ETF (SPDN) e o ProShares Short S&P500 ETF (SH) – subiram mais de 13% este ano, enquanto o próprio S&P 500 caiu quase 19%.
E dois fundos que estão escolhendo ações individuais a descoberto – o ETF AdvisorShares Ranger Equity Bear (HDGE) e o AdvisorShares Dorsey Wright Short ETF (DWSH) – subiram quase 30% e 55% em 2020, respectivamente.
Os investidores estão fazendo apostas curtas particularmente grandes em empresas que mais perdem com uma queda prolongada na atividade econômica.
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Isso explica o recente interesse em ações de redes de hotéis, como Marriott (MAR) e Hilton (HLT), e de indústrias de equipamentos industriais, como a Caterpillar (CAT), por exemplo. Trata-se de “uma óbvia venda a descoberto relacionada à quarentena”, afirmou Ihor Dusaniwsky, diretor de análise preditiva da empresa de pesquisa S3 Partners, em um relatório no final da semana passada.
Ainda assim, os ganhos gerados com a venda a descoberto podem evaporar rapidamente se o mercado mais amplo ou as ações individuais que estão fortemente vendidas começarem a se recuperar.
E se o pior tiver passado?
É o que pode estar acontecendo agora. Os investidores podem estar começando a perceber que o colapso do mercado de março talvez tenha sido extremo demais. “Nesse processo de venda rápido demais não é uma surpresa ver gente tentando matar uma mosca com uma bala de canhão”, observou Solita Marcelli, vice-diretora de investimentos da UBS Global Wealth Management nas Américas, em relatório esta semana.
Quando os mercados começam a se recuperar, a situação pode ficar crítica para os vendedores a descoberto, que veem as perdas aumentarem cada vez que uma ação que eles precisam recomprar lá adiante se valoriza. Novamente, vejamos o exemplo do vendedor a descoberto que alugou uma ação a US$ 50. Se ela, em vez de baixar, toma o rumo contrário e vai a US$ 70, ele terá uma perda de US$ 20. Se subir ainda mais, para US$ 90, a perda será de US$ 40. E assim por diante.
Isso cria um fenômeno conhecido como short squeeze. “Se o mercado continuar se recuperando, a melhor saída para esse aperto é pagar altas despesas diárias de financiamento e diminuir os lucros da marcação a mercado”, recomenda Dusaniwsky, da S3. O ETF ProShares Short S&P 500 despencou 8% nos últimos cinco dias, à medida que o mercado mais amplo se recuperava.
Até Ackman parece pensar que o pior já passou para os mercados. Ele escreveu em sua carta aos acionistas que o fundo Pershing “reimplantou substancialmente a receita líquida das operações de hedge”, acrescentando posições em empresas que ele já possui – como a Agilent (A), a Berkshire Hathaway (BRKB) de Warren Buffett, Hilton, Lowe’s (LOW) e Resturant Brands (QSR).
Ackman disse também que comprou uma nova participação na Starbucks (SBUX) depois de vender a posição em janeiro. Ou seja, parece que ele mudou um pouco de ritmo. Antes, estava com medo, mas agora está usando o dinheiro que gerou de sua aposta de baixa para aproveitar os baixos preços do mercado.
“Ao vender o hedge, geramos US$ 2,6 bilhões em recursos, direcionando a maior parte desse lucro a investimentos novos e existentes, e acreditamos que eles serão recompensados ??à medida que os mercados se recuperarem”, escreveu Ackman.