Com inflação acima da expectativa, economistas apontam saídas além de subir juros
Alta dos preços ocorre a despeito do endurecimento dos juros, que voltaram a subir nos últimos encontros do Comitê de Política Monetária (Copom)
A prévia da inflação acima das expectativas em novembro acende um alerta no mercado sobre alternativas para trazer os preços para baixo, além da alta dos juros pelo Banco Central (BC).
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) foi acelerou 0,62% neste mês, ante alta de 0,54% em outubro. No acumulado de 12 meses, o indicador foi a 4,77% – se mantendo acima do teto da meta da inflação. O BC persegue meta de 3% neste ano e nos próximos, com margem de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
A alta dos preços ocorre a despeito do endurecimento dos juros, que voltaram a subir nos últimos encontros do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.
No início deste mês, o colegiado elevou a taxa básica em 0,5 ponto, ao patamar de 11,25% ao ano. Em setembro, o colegiado já havia decidido de forma unânime pelo aumento de 0,25 ponto na Selic, passando a 10,75%, a primeira elevação desde agosto de 2022.
Em entrevista ao CNN Money, Diego Hernandez, economista e fundador da Ativa Investimentos, pontuou que a taxa de juros elevada não será o suficiente para conter o aumento dos preços.
“Temos dados que podem estar sendo pressionados artificialmente pela política fiscal. E a política monetária por si só não será o suficiente para conter a alta da inflação”, diz o especialista.
“A Política monetária por si só não será suficiente para conter o aumento de inflação. É importante que o lado fiscal seja sanado. Caso contrário, o trabalho do novo presidente do BC vai ser um trabalho bem difícil em elevar os juros para 12%, 13%, 14%… e não ver um efeito muito grande no lado real da economia”.
Ajustes fiscais são fundamentais
Na ponta fiscal, analistas ouvidos pela CNN são unânimes em apontar o controle de gastos do governo como parte fundamental de controlar os preços e, assim, aliviar a alta dos juros pelo BC.
Paulo Gala, economista-chefe Banco Master, ressalta que a economia brasileira está muito aquecida – cenário que se vê com desemprego ao menor patamar em uma década.
O esperado pacote de ajuste fiscal que deve ser anunciado pelo governo federal nesta semana é uma das saídas para ajudar a desacelerar as atividades e contribuir para uma política de juros mais frouxos.
“Quanto mais controlar os gastos agora, o que eu acho correto, menos pressão sobre os juros”, resume o economista.
Na mesma linha, Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, pontou que o impulso fiscal, ou seja, a injeção de recursos públicos na economia, é “exagerado”.
Segundo ela, são necessárias políticas “anticíclicas”, com a retirada de estímulos para que o crescimento do país seja mais equilibrado e não resulte em inflação.
“A gente, na verdade, precisa de ver uma desaceleração do crescimento da nossa economia, porque esse crescimento está além do nosso potencial e está gerando inflação. Um corte de gastos nesse momento é positivo para o crescimento”, disse ao CNN Money.
Já Felipe Salto, economista-chefe da Warren, também aponta para o câmbio como um fator que puxa os preços para cima, que também é resultado da expectativa com a política fiscal do Executivo.
“Me parece que não há muita saída, por ora, enquanto o governo não desanuviar o quadro no que se refere às contas públicas. Daí a importância do pacote”, pontua.