Com comunicado morno, decisão do BC não surpreende e mostra Copom “tranquilo”, dizem especialistas
Comitê optou por reduzir a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, a 11,25% ao ano


O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) sobre a redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, agora em 11,25%, não trouxe surpresas e veio em linha com o esperado pelo mercado, dizem especialistas consultados pela CNN.
Marco Caruso, economista-chefe do PicPay, avalia que o destaque do anúncio foi justamente a ausência de novidades. No entanto, demonstra um colegiado “tranquilo” com o ritmo de cortes — pelo menos para os próximos dois encontros.
“O comunicado basicamente veio igual ao anterior, com mudanças muito marginais. E o modelo do comunicado também não teve grandes mudanças — ele voltou a projetar os mesmos ‘IPCAs’ para 2024 e 2025, é isso também conversa com um comunicado de que não precisava ter grandes mudanças”, afirma.
Na avaliação de Caruso, havia a possibilidade de algum tipo de mudança nas projeções de inflação, uma vez que o indicador está “melhor do que se imaginava”. Além disso, ele destaca a projeção do Boletim Focus, que aponta redução no IPCA para 2024.
“Isso conversava com o modelo do BC que poderia projetar uma inflação mais baixa. Por outro lado, tínhamos um câmbio mais pressionado, um Focus que já está trabalhando com uma Selic menor e o petróleo mais alto. Então essas duas coisas acabaram se ‘cancelando’ e o modelo dele não mudou frente à última decisão”, acrescenta.
Na mesma linha, Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, avalia que o tom do comunicado foi neutro e quase “monocromático”.
“Ele fez uma atualização do cenário externo, mas muito modesta, muito enxuta. Se ele quisesse ser mais hawkish [agressivo], ele poderia ter acentuado as tintas em relação à piora do cenário externo, mas ele não fez isso”, avalia.
Damico também acredita em pelo menos mais dois cortes da mesma magnitude por parte do Copom que, segundo a economista, também é algo amplamente esperado pelo mercado.
“O único ponto de mudança no comunicado que merece destaque em relação à estratégia de política monetária foi reconhecer que o ano de 2025 já entra com maior peso no horizonte relevante. A partir de abril, 2025 entrará totalmente no horizonte relevante e 2024 vai sair completamente”, complementa.
Para Thomas Gibertoni, especialista em investimentos da Portofino Multi Family Office, o comitê deixou claro que possíveis mudanças na Selic dependem do desenvolvimento das taxas de juros nas economias desenvolvidas.
“Mas ele se comprometeu em ter cautela e demonstrou que deve manter os próximos cortes no mesmo nível, sem mudar o tamanho do corte por enquanto”, avalia.
Eduarda Schmidt, economista da Órama Investimentos, destaca que ainda há desafios a serem enfrentados no cenário doméstico.
Para a especialista, as recentes leituras de inflação trouxeram atenção ao grupo de serviços subjacentes, mas seguiram o ritmo de desinflação esperado.
“Do lado da atividade, ainda vemos resiliência, com um mercado de trabalho forte. No fiscal, as dúvidas acerca da meta de resultado primário e o anúncio do novo Programa de Industrialização Brasileira trazem desconforto ao mercado, que não permite que as expectativas da inflação convirjam para o centro da meta”, pontua.
Eduarda avalia ainda que a incerteza em relação à trajetória de juros nos Estados Unidos, à escalada de conflitos no Oriente Médio e à resiliência da atividade americana, em especial do mercado de trabalho, ainda exigem cautela do Copom na condução da política monetária.