CNT e Anfavea defendem mistura de biodiesel de 10%
Conforme alegações apresentadas aos Senado, o nível acima de 10% pode gerar problemas para os motores dos veículos
A Confederação Nacional do Transporte (CNT) e a associação que representa as montadoras de veículos, a Anfavea, defenderam nesta terça-feira (5) em audiência no Senado, que a mistura de biodiesel no diesel seja fixada em 10%, citando que níveis acima desse índice geram problemas para os motores.
Isso significaria uma redução ante os 13% que poderiam estar vigorando pela lei neste ano, conforme regra que prevê aumentos graduais na mistura de biodiesel.
O patamar de 10% é o que está em vigor para o bimestre novembro e dezembro, após o governo reduzir a mistura devido aos altos custos do produto, na esteira da forte demanda por soja, que responde por mais de 70% da matéria-prima do biodiesel no Brasil.
“A CNT está defendendo manutenção de 10%, que é o que está agora”, afirmou o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, durante a audiência.
“Acreditamos na mediação do Parlamento… não adianta negar o problema, precisamos fazer política de forma que seja favorável ao país”, acrescentou ele.
Segundo a CNT, a mistura maior de biodiesel gera problemas como o entupimento de filtros, bicos injetores, formação de resíduos em tanques de combustíveis, além de borra no cárter e dificuldades na partida a frio.
Questionada pela Reuters se busca mudar a legislação, a CNT afirmou que “está trabalhando politicamente para solucionar o problema” e que uma das intenções “é fazer o pedido formal” de mudança.
O diretor técnico da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea), Henry Joseph Junior, também defendeu a manutenção da mistura de 10%.
“A Anfavea entende que o uso com teores superiores a 10%, com a qualidade e especificações técnicas atuais, não é recomendável”, afirmou Joseph, lembrando que o processo de testes para uma mistura maior, anteriormente, foi atropelado.
Ele disse ainda que outras rotas tecnológicas de produção de biocombustíveis estão sendo adotadas com sucesso na Europa.
O presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda, destacou durante o evento que o setor de postos, como consequência dos problemas do biodiesel, enfrenta reclamações frequentes de caminhoneiros pela qualidade do produto.
“Reclamações são frequentes e muitas vezes os postos são processados por proprietários de caminhões.”
Produtores rebatem
Também presente na audiência, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Fernando Cadore, disse que é preciso melhorar a qualidade e evoluir com as tecnologias, mas não se pode tomar medidas que limitem a produção de biodiesel, como as defendidas por CNT e Anfavea.
“Limitar a incorporação de biocombustíveis não seria uma ação inteligente, pois estaríamos desestimulando a produção”, declarou ele, durante a audiência.
Ele admitiu que o custo do biocombustível ficou “um pouco mais alto” proporcionalmente, diante da queda do petróleo durante a pandemia, mas que isso deve ser equalizado, à medida que o combustível fóssil está subindo novamente.
O presidente da Aprosoja lembrou que o Brasil é fortemente dependente das exportações de soja, especialmente para a China, e limitar o processamento da oleaginosa no país pode afetar a cadeia produtiva.
Do processamento, a indústria produz farelo de soja, importante ingrediente da ração destinada a criações da indústria de carnes, além do óleo, demandado para produzir o biodiesel e consumido para fins alimentícios.
Na mesma linha, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, afirmou que a discussão deve ser em torno de melhorar a qualidade e não de reduzir a mistura.
“O biodiesel tem características diferentes do diesel, que exigem, sim, algumas mudanças de práticas, e cabe a quem está na cadeia adotar essas práticas”, afirmou, ressaltando que há seis etapas pelas quais passam o biocombustível após o produtor.
“Os produtores disseram que estão dispostos a trabalhar com o restante da cadeia para implementar essas práticas, mas fomos ignorados.”
Nassar pontuou ainda acreditar que o biodiesel está “sofrendo um ataque” e que a definição de percentuais de misturas cabe ao governo federal, que fixou percentuais como parte de uma política pública.
“Foi formada uma coalizão, a meu ver, (reunindo grupos) que nem poderiam estar juntos, porque o tamanho dos setores que estão ali, a mim gera preocupação até do ponto de vista concorrencial, com discurso totalmente preparado, estruturado, isso não está correto.”
Nassar frisou ainda que procurou várias das organizações que formaram tal coalizão, e que nenhuma delas se interessou em conhecer o programa de especificação de qualidade da Abiove.
“Na verdade, não se trata de questão de qualidade e sim de fixar o biodiesel em um nível abaixo, de prejudicar um setor que está trazendo mudanças num mercado de combustível.”