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    CEO da Azul sobre tentativa de comprar Latam: vamos deixar o mundo girar

    John Rodgerson, presidente da companhia aérea Azul, deu entrevista ao CNN Soft Business, programa semanal sobre negócios, investimentos e tecnologia

    Fernando NakagawaPhelipe Sianido CNN Brasil Business , em São Paulo

    “Vamos deixar o mundo girar algumas vezes e ver o que acontece”. É assim, em bom português, que o norte-americano John Rodgerson, presidente da Azul, resume os planos da companhia após a tentativa frustrada de comprar o controle da concorrente Latam.

    E, enquanto o mundo gira, o executivo aproveita para voltar a defender a consolidação do setor aéreo no Brasil e mostra que não desistiu da ideia. “A Air Canada tem mais do que 70% do mercado e é super saudável. Você nem sabe qual é a segunda empresa do Canadá”, disse em entrevista ao CNN Soft Business.

    Braço direito do fundador David Neeleman há duas décadas, Rodgerson escolheu a dedo o exemplo do Canadá para defender que ter 70% do mercado não é um problema. O número não é por acaso. Juntas, Azul e Latam teriam, atualmente, quase 70% do mercado doméstico.

    As duas concorrentes, aliás, têm disputado passageiro a passageiro e terminaram quase empatadas no ano passado: 33,8% voaram com a Latam e 33,5% com a Azul. Por enquanto, porém, diz que vai esperar a decisão da Justiça dos Estados Unidos, onde tramita o processo de recuperação judicial da concorrente.

    O presidente da Azul também faz um pedido às autoridades brasileiras. “Nos deixem em paz. É isso que eu queria”. Rodgerson diz que muitas decisões do poder público pioram o ambiente de negócios no Brasil, como o aumento de impostos e obrigações atribuídas às aéreas.

    “Temos que entender que, quando os preços sobem muito, quem é impactado é o passageiro da classe C. Aviação não é o fim, é um meio. É um meio para fazer a economia crescer”.

    O CNN Soft Business é o programa semanal da CNN Brasil sobre negócios, investimentos e tecnologia e é exibido todas as quintas-feiras às 22h30.

    Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista:

    Como está a Azul neste momento em que o setor tenta sair da pandemia?

    John Rodgerson: Estávamos indo super bem, mas obviamente a variante Ômicron tem impactado, mas acho que será uma coisa breve. Então, estou mais animado. No quarto trimestre de 2021, tivemos mais passageiros voando do que nós tivemos em 2019. Isso quer dizer que o brasileiro quer voar e me dá muito ânimo.

    Quando a pandemia acabar, quais passam a ser os grandes desafios da Azul? Essa recuperação vai ser rápida?

    A demanda está boa. Eu brinco que a melhor coisa que o Brasil pode fazer é fechar as fronteiras, o que deixa o brasileiro voar dentro do Brasil. Em vez de estar em Nova York, o brasileiro está em Fernando de Noronha, está em Jericoacoara. Ir para esses lugares ajuda a economia brasileira.

    Mas nosso maior desafio é, sem sombra de dúvida, o dólar. O atual patamar do dólar é um grande desafio para o nosso setor. Com isso, temos que achar maneiras para sermos mais eficientes, produzir mais receita. É como nós estamos fazendo com [transporte de] cargas e voando para muito mais cidades para achar demanda.

    Diante do dólar caro e o petróleo em firme alta, é de se esperar que essa retomada terá mais voos, mas com passagens mais caras?

    O que determina o preço da passagem não é dólar, não é combustível, é a demanda. Para os preços subirem, nós temos que ter demanda para fazer isso. Então, nosso trabalho é achar demanda, mais conectividade, mais cidades pequenas, indo atrás do agronegócio, indo atrás das partes da economia que estão indo bem. Esta é a maneira que nós vamos enfrentar esse dólar mais elevado.

    Mas a maior parte dos seus custos é dolarizada. Só a demanda vai ser suficiente para manter os preços num patamar de equilíbrio?

    Não. O que nós temos que visar como empresa é que nós temos que ser mais eficientes. E, na pandemia, nós aprendemos a ser mais eficientes. Nós temos, por exemplo, menos gente no aeroporto porque muita gente está usando o seu celular para fazer o check-in. Empresas têm que cortar custos. Quando você vai comprar carne, leite ou roupa, tudo está mais caro. Então, obviamente isso acontece com as empresas aéreas também.

    Temos que elevar o preço da passagem para cobrir nossos custos, né? Mas, de novo, nós temos que achar maneiras para sermos mais eficientes todos os dias e também achar outras receitas. A carga é uma coisa que está crescendo muito. Então, o preço da passagem pode ser mais estável pelo fato de que nós temos uma receita de cargas que não tínhamos em 2019.

    Vamos ter mais R$ 1 bilhão de receita da carga neste ano que não tínhamos no passado. Isso ajuda muito a cobrir os custos do dólar mais elevado.

    Qual que é a porcentagem das cargas na receita total da Azul?

    É mais que 10%. Estamos animados porque criamos um negócio durante a pandemia que agora é mais ou menos 10% do nosso faturamento. Antes da pandemia era 2% ou 3%.

    Falando sobre a concorrência, a Azul está frustrada por ter feito uma proposta para a compra da Latam, e essa proposta aparentemente sequer ter sido analisada?

    Você tem três empresas aéreas no Brasil, mas uma está em recuperação judicial. Então, isso quer dizer que uma não deu certo, o plano de negócio não deu certo. Se estou frustrado? Isso vai ser decidido em juízo, na corte. Vai ter um monte de credor brigando, mas eu vou seguir a minha vida.

    Estou feliz com o plano de negócio que nós temos, mas acho que teria sido muito saudável [com a compra]. Quando você fala em concorrência e olha para o mundo, temos empresas se juntando. Pegue um país como o Canadá, onde a Air Canada tem mais do que 70% do mercado e é super saudável. Você nem sabe qual é a segunda área do Canadá.

    E o que Brasil quer? Quer empresas fortes que podem conectar cidades pequenas com o mundo? Então, pode ter mais concorrência, mas a tendência mundial é ser o oposto: se juntar para conectar mais e ser a melhor opção para os clientes.

    A sua proposta pela Latam continua em cima da mesa? Vocês desistiram do negócio?

    Temos que ver o que acontece na corte. A gente vai acompanhar, mas não é meu foco agora. Vamos deixar o mundo girar algumas vezes e ver o que acontece.

    O que o poder público pode fazer para tentar incentivar o setor? A gente teve iniciativas como cobrança de bagagem ou a permissão de capital estrangeiro, mas aparentemente isso tudo foi insuficiente para dar um empurrão para o setor

    Deixe a gente em paz. É isso que eu queria [do setor público]. Nós somos um dos únicos países do mundo onde não recebemos subsídio do governo. Você tem que lembrar que nós estamos em uma indústria mundial e meu concorrente não é só a Latam, Gol ou Passaredo.

    O concorrente também é a Delta, American Airlines, TAP, Lufthansa e todas aquelas empresas são subsidiadas por governos. Temos uma tendência do Brasil de botar mais impostos em cima do setor, que é uma coisa péssima.

    Nós levantamos um dia e agora vão tributar nosso leasing [arrendamento de aeronaves], que já está dolarizado. O que nós temos que tentar fazer é tirar tributos, ver como nós podemos baixar o preço do combustível, porque é isso que vai convidar mais gente entrar no bolo para viajar.

    E temos que entender que, quando os preços sobem muito, quem é impactado é o passageiro da classe C. A classe A vai viajar se o preço for R$ 500, R$ 1.000 ou R$ 2.000. Aviação não é o fim, é um meio. É um meio para fazer a economia crescer.

    Há espaço para mais concorrência no Brasil? Por que não temos empresas low cost ou low fare por aqui?

    Nós tivemos uma empresa que entrou no ano passado e já fechou as portas, por quê? Porque para entrar no Brasil você tem que ter muita grana, tem que ter muito capital mesmo. Essa empresa começou no meio da pandemia e eles tiveram acesso aos slots [autorizações de pouso e decolagem] em Congonhas. São coisas que a Azul não tinha quando começamos.

    Hoje, o dólar está perto de R$ 5,50, e quando a Azul começou há 14 anos estava em R$ 1,58. Os desafios são bem diferentes daquela época, mas há espaço, sempre tem espaço para concorrência. Mas a Azul levou anos para concorrer com a Gol e TAM. O Brasil não é um lugar fácil para fazer negócios, mas a oportunidade aqui é grande demais.

    Então, por que essas low cost não entraram aqui em Brasil ainda? Porque o combustível aqui é 50% mais alto do que outros países do mundo, porque você pode fechar o aeroporto Santos Dumont que não tem nada a ver com a empresa aérea só por causa de chuva e você tem que pagar hotel, internet, comida e o telefonema do passageiro.

    Depois desses dois anos de massacre financeiro gerado pela pandemia, o que você diria para os seus acionistas?

    Eu estou aqui porque acredito. Tive oportunidade para sair, para fazer outras coisas. Se com tantos desafios e quase seis meses sem receita, a Azul não quebrou, é tempo para investir. Nós fomos testados como o maior teste que pode acontecer para qualquer empresa no mundo. Nossos concorrentes tiveram subsídios, alguns entraram em recuperação judicial, mas nós seguimos vivos.

    Tivemos mais passageiros e receita no quarto trimestre de 2020 e em 2021 do que nós tivemos em 2019. Estamos fazendo as coisas certas. Agora, nós estamos servindo 150 cidades. Antes da pandemia, eram 118. Então, confia. Se a pandemia não quebrou a Azul, é tempo para se juntar conosco porque a gente vai voar muito mais longe.

    Assista ao programa CNN Soft Business

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