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    Caso Carrefour: mais de 40 entidades brasileiras assinam carta de repúdio à fala do CEO francês

    No comunicado, representantes de associações da cadeia produtiva reforçam que a exclusão de produtos do Mercosul do mercado francês pode gerar inflação e aumentar as emissões de carbono

    Gisele Farias*da CNN , São Paulo

    No sábado (23), representantes de 44 entidades da cadeia produtiva publicaram uma carta aberta em repúdio às declarações do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, sobre a suspensão da compra de carnes do Mercosul.

    A declaração das associações brasileiras é uma resposta à ação de Bompard na semana anterior, quando afirmou que a rede varejista vai deixar de comercializar carnes oriundas do Mercosul, visando a aprovação do acordo de livre comércio com a União Europeia (UE) e a lei antidesmatamento do bloco.

    Segundo o comunicado dos representantes, a decisão do CEO é infundada e incoerente com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional.

    “A decisão anunciada demonstra uma abordagem protecionista que contradiz o papel de uma empresa global com operações em mercados diversos e interdependentes.”, diz a carta.

    Os representantes ainda reforçaram a importância do Brasil como referência mundial na produção e exportação de proteínas animais: “Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, enquanto reduziu a área de pastagem em 16%”.

    Segundo as associações, a legislação ambiental brasileira é uma das mais rigorosas do mundo.

    Além disto, o representantes reforçaram que a exclusão de produtos do Mercosul do mercado francês pode gerar inflação e aumentar as emissões de carbono devido ao transporte de mercadorias locais menos eficientes.

    “Se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado.”, completam.

    Confira carta na íntegra

    Nós, as entidades representativas da cadeia produtiva brasileira, manifestamos nosso profundo repúdio às declarações recentes sobre a suspensão da compra de carnes do Mercosul pelas lojas Carrefour na França. Consideramos esta posição não apenas infundada, mas também desprovida de coerência com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional.

    A decisão anunciada demonstra uma abordagem protecionista que contradiz o papel de uma empresa global com operações em mercados diversos e interdependentes. Tal posicionamento, além de desvalorizar a qualidade e a sustentabilidade das carnes produzidas nos países do Mercosul, prejudica o diálogo e a parceria necessária para enfrentar desafios globais como a segurança alimentar.

    O Brasil, por sua vez, é referência mundial na produção e exportação de proteínas animais. Somos líderes globais na exportação de carne bovina e de frango, e nossa produção é amplamente reconhecida pela excelência, sendo abastecida por rigorosos controles sanitários e padrões de qualidade que atendem a mais de 160 países, incluindo mercados exigentes como União Europeia, Estados Unidos, Japão e China.

    Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, enquanto reduziu a área de pastagem em 16%. Esses avanços foram possíveis graças a um compromisso contínuo com a inovação, eficiência produtiva e práticas sustentáveis. Além disso, nossa legislação ambiental é uma das mais rigorosas do mundo, assegurando o equilíbrio entre produção agropecuária e preservação dos recursos naturais.

    As áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo agro brasileiro somam 282,8 milhões de hectares, representando 33,2% do território do Brasil. Para se ter uma ideia, essa área equivale a um pouco mais de quatro vezes o território da França ou quase oito vezes o território da Alemanha. O Brasil preserva mais do que o dobro da área destinada à preservação ambiental em comparação com a França, um dado que questiona a postura crítica do Carrefour em relação à nossa produção.

    A exclusão injustificada de produtos do Mercosul do mercado francês não apenas subestima a relevância de nossas exportações, mas também limita o acesso dos consumidores europeus a produtos de alta qualidade, mais seguros e sustentáveis. Além disso, tal atitude pode gerar inflação e aumentar as emissões de carbono devido ao transporte de mercadorias locais menos eficientes.

    Se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado. Afinal, se o Brasil, com suas práticas sustentáveis, sua legislação ambiental rigorosa e sua vasta área de preservação, não atenderia aos critérios do Carrefour para o mercado francês, então, provavelmente, não atenderia aos critérios de nenhum outro país.

    Reafirmamos nosso compromisso com a produção responsável, sustentável e orientada para atender às necessidades dos mercados globais. Considerando que empresas globais como o Carrefour, que operam amplamente no Brasil e dependem de sua produção para abastecer mercados de todo o mundo, devem atuar com base em princípios de cooperação, transparência e respeito ao livre mercado.

    Frigoríficos brasileiros suspendem fornecimento de carne ao Carrefour

    A JBS e o Masterboi, principais frigoríficos brasileiros, interromperam o fornecimento de carne ao Carrefour em retaliação às declarações do CEO da rede francesa de varejo em solidariedade aos agricultores da França contrários ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

    Apesar de o Carrefour Brasil ter tentado se distanciar das declarações, o francês é controlador da companhia, com mais de 60% de participação.

    Até o momento, o grupo varejista nega que haja desabastecimento de carne em suas unidades.

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