Brics se tornaram “ímã” para países que não têm abertura política e econômica no Ocidente, diz especialista
Para Ana Garcia, diretora do Brics Policy Center, bloco pode ser visto por alguns países como meio de fortalecimento por alianças


Uma das principais pautas esperadas para a Cúpula dos Brics, que acontece entre esta terça (22) e quinta-feira (24) em Joanesburgo, é a discussão acerca dos 23 países que manifestaram formalmente o desejo de se integrarem ao bloco.
A diretora do grupo Brics Policy Center da PUC-Rio, Ana Garcia, explica que o grupo se tornou uma espécie de “ímã” para países que não encontram respostas ou aberturas políticas e econômicas no mundo Oriental.
Ela cita como exemplo a Argentina, o Irã e a Venezuela.
“A Argentina teve as portas fechadas para o mercado financeiro e não tem acesso mais razoavelmente ao mercado de dólares. Ela não tem para onde correr. Se ela não tiver a China, ela vai ficar numa situação ainda pior”, afirma.
“Já o Irã vem sofrendo continuamente sanções, então é muito fácil ele querer se aliar a um bloco que não irá impor sanções e permitirá que o país continue fazendo o que quiser, uma vez que não existem questões de direitos humanos, direitos de gênero. Eles pensam: ‘É com esse grupo que eu quero me aliar’”, acrescenta.
“Com a Venezuela é a mesma coisa. São sanções, são posições, são constrangimentos internacionais que ela não vai sofrer dentro dos Brics”.
Para Garcia, os Brics podem ser vistos por alguns países como uma forma de fortalecimento por meio de alianças. Segundo a especialista, isso faz do bloco um polo de atração importante e factível.
“É por isso que o Brics inspirou esse ‘ímã’ de atração de países que não se enquadram, seja na economia, seja na política, seja nos valores Ocidentais”, explica.
A especialista destaca ainda que a expansão do bloco é uma agenda chinesa.
“Todo e qualquer espaço que a China possa predominar, sem ter que negociar com o Ocidente e sem ter que enfrentar contenções, ela vai ampliar. Além dos Brics, os espaços asiáticos e outras alianças também. Essa é a estratégia da China”, afirma.
Já para o Brasil, a questão da expansão do bloco é uma questão dúbia, segundo Garcia.
“Para o Brasil, por um lado, é relevante ter um Brics forte, e o Brasil é membro fundador desse grupo. Mas por outro, os operadores da política externa brasileira ponderam que se já é muito difícil chegar em um consenso com cinco [países], imagine com 10”, avalia.
Na visão da diretora do Brics Policy Center, a Cúpula da África do Sul vai resultar em uma sinalização positiva a adesão de novos membros, mas não devem ser divulgados novos integrantes.
“Acho que o que eles vão sinalizar é que ‘nós queremos e agora vamos entrar no segundo passo’, que é o passo dos critérios das negociações e do cronograma”, afirma.
Para ela, será necessário estabelecer um processo de negociação com critérios, que atenda a todas as demandas e os anseios dos cinco países do bloco.
“A China e a Rússia querem rapidez. O Brasil e a Índia querem mais cuidado, mais calma e mais cálculo político a respeito do que significa a adesão de cada um desses membros”, conclui.
Brasil aceita expansão dos Brics com condições
Segundo apuração do correspondente internacional da CNN Américo Martins, China e Rússia desejam que novos países entrem nos Brics.
Já o Brasil, Índia e África do Sul têm algumas restrições.
No caso do Brasil, o Itamaraty quer definir muito claramente quais seriam os critérios para a entrada de novos candidatos no bloco.
Um desses critérios seria o comprometimento com a reforma do sistema de governança global, que todos os países dos Brics acreditam que seja dominado pelo Ocidente, especialmente pelos Estados Unidos.
O segundo ponto é uma discussão sobre o uso de moedas locais no comércio internacional, ao menos dentro do bloco. Todos os países querem diminuir a dependência que têm hoje do dólar, além de importar e exportar usando suas próprias moedas.
Segundo apuração de Martins, é muito possível que esse ponto avance durante a conferência dos Brics.
O terceiro ponto é justamente a reforma o sistema de governança internacional. Os países do grupo querem mudanças, por exemplo, no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), na própria ONU, no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial.
Veja também: China e Rússia pressionam por expansão dos Brics
Com informações de Américo Martins, da CNN.