Brasil pode crescer um pouco mais de 2% em 2024, diz Campos Neto
Mais recente estimativa oficial do BC para o Produto Interno Bruto aponta avanço de 1,7% este ano
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (7) que o crescimento do Brasil este ano pode surpreender e ficar um pouco acima de 2%, desde que uma série de fatores macroeconômicos globais atenda às expectativas.
“A gente acha que o primeiro trimestre está com uma cara melhor do que se imaginava anteriormente, e eu acho que pode surpreender um pouco para cima o ano, pode ser um pouco acima de 2%”, disse Campos Neto em palestra no evento Blue Connections, promovido pelo Meio & Mensagem. “Eu estou um pouco mais otimista.”
Essa projeção está acima da mais recente estimativa oficial do BC para o PIB, divulgada em dezembro, que aponta para um crescimento de 1,7% em 2024.
Na terça-feira, Campos Neto já havia dito que o PIB do primeiro trimestre deve surpreender positivamente.
O presidente do BC condicionou nesta manhã sua visão mais otimista à consolidação de um processo de desinflação nos Estados Unidos concomitante com um crescimento “relativamente comportado” ou acima das expectativas na maior economia do mundo, ao mesmo tempo que precisaria haver uma “desaceleração comportada” na China.
“Se tudo isso acontecer, eu acho que a gente pode pensar que aqui vai ser um pouco melhor”, afirmou Campos Neto.
Ele previu que o resultado da balança comercial do país em 2024 será um pouco pior do que o de 2023, mas como consequência de uma base de comparação muito alta após a super safra do ano passado, e deve seguir acima da média.
Para além da atividade de curto prazo, o presidente do BC defendeu que o país precisa trabalhar em direção a um crescimento estrutural maior no longo prazo.
Cenário fiscal
Campos Neto disse ainda que é importante que governo tente perseguir sua meta fiscal mesmo que seja difícil, afirmando que a saúde das contas públicas tem relação direta com o processo de afrouxamento monetário.
“É importante que o governo tente perseguir a meta, ainda que seja difícil, é importante sempre um equilíbrio entre receitas e gastos. A gente vê que o governo está fazendo uma força, e isso é muito importante porque tem uma conexão direta com a taxa de juros e com o processo de queda de taxa de juros.”
Anteriormente, tanto Campos Neto quanto o diretor de Política Monetária do BC, Diogo Guillen, haviam dito várias vezes que não há relação mecânica entre o desempenho fiscal do país e a política monetária, e que a autarquia leva mais em consideração como as condições das contas públicas afetam as variáveis consideradas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em seu processo de decisão.
O mercado financeiro tem mostrado falta de confiança na capacidade do governo de alcançar a meta de zerar o déficit primário em 2024, já que tem havido resistência no Congresso a algumas medidas que buscam aumentar a arrecadação, como a reoneração gradual da folha de pagamentos.
Sobre a inflação, o presidente do BC disse que ela está em queda, mas ressaltou surpresas para cima em dados recentes da inflação de serviços, embora eles sigam dentro do esperado pelo BC no processo de convergência.
“A gente tem olhado muito essa parte de serviços que são intensivos em trabalho, porque isso é uma coisa que tem dificuldade, tem menos oscilação, e é importante que caia, porque a gente tem uma meta (de inflação) que a gente precisa atingir”, afirmou ele.
Campos Neto voltou a dizer que a manutenção da meta de inflação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para os próximos anos ajudou no processo de convergência das expectativas de alta dos preços.
O objetivo a ser perseguido pelo BC em 2024, 2025 e 2026 é uma inflação de 3,0%, medida pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
No ano passado, quando o centro da meta era 3,25%, a inflação em 12 meses ficou dentro da banda de tolerância, encerrando dezembro em 4,62%.
Nesta quarta-feira, Campos Neto afirmou que, embora a taxa básica de juros Selic siga em patamar elevado em comparação com países desenvolvidos e emergentes, está um pouco mais próxima da média mundial do que esteve no passado.
A Selic está atualmente em 11,25%, após cinco cortes consecutivos de 0,50 ponto percentual pelo BC.