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    Brasil pode aproveitar “fragmentação econômica” para se tornar protagonista do comércio internacional, diz ex-presidente do Chile à CNN

    Sebastián Piñera defende menos protecionismo econômico e evolução do Mercosul

    O ex-presidente do Chile, Sebastián Piñeda, no evento Latin America Investment Conference, do Grupo UBS
    O ex-presidente do Chile, Sebastián Piñeda, no evento Latin America Investment Conference, do Grupo UBS Reprodução

    Mathias BroteroDuda Cambraiada CNN

    São Paulo

    O ex-presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou nesta segunda-feira (29) em entrevista à CNN que o Brasil pode aproveitar as mudanças no cenário econômico mundial para se tornar um dos protagonistas no comércio internacional.

    “O que estamos vendo é uma a fragmentação. Há menos comércio entre os Estados Unidos e a China, mas há muito mais comércio entre China e os EUA e o resto do mundo. Os países emergentes representam 50% do comércio internacional. E o Brasil é protagonista. Então acho que o Brasil está em uma posição muito boa para tirar vantagem”, disse o ex-presidente do Chile.

    Piñera listou itens que se aperfeiçoados contribuirão para uma melhor colocação do Brasil na economia mundial.

    “Antes de tudo, eles têm que enfrentar os problemas fiscais que o Brasil tem, porque é preciso ter uma economia estável para aproveitar esta enorme oportunidade. Em segundo lugar, acho que o Brasil tem que aumentar a qualidade da política e da educação, esses são duas fraquezas. E a última coisa é que o Brasil teria que abrir sua economia para o mundo”, afirmou.

    “Não se pode realmente aproveitar a oportunidade se estiver preso a um sistema protecionista, e é por isso que acho que o Mercosul tem que se abrir”, concluiu.

    Piñera participou do primeiro painel do Latin American Investment Conference (LAIC), que completa sua 11ª edição em 2024.

    “Mercosul teria que evoluir”

    O ex-presidente chileno defendeu mudanças no Mercosul para que seja possível chegar a um acordo de livre-comércio com a União Europeia. “Acho que o Mercosul teria que evoluir”, disse.

    Para o ex-presidente, países da América Latina deveriam contribuir com a integração do bloco com outras economias.

    “Temos que caminhar para sermos uma ponte para integrar o Mercosul com o resto do mundo. E eles não têm feito isso. Porque têm divergências com a Argentina e o Brasil, e avançam na velocidade dos mais cautelosos.”

    Na opinião de Piñera, existe um protecionismo exacerbado nos dois blocos econômicos

    “Você pode culpar ambos. Na União Europeia, é claro, há muito protecionismo, especialmente para proteger o setor da agricultura. E no Mercosul também existe uma atitude protecionista muito forte. E por isso não conseguiram chegar a um acordo e estão negociando há 20 anos”, disse.

    Crise climática

    Durante a participação no painel “Perspectivas Políticas da América Latina”, Piñera enfatizou que a crise climática é um evento iminente que deve ter atenção priorizada.

    “Ainda estamos indo em direção ao desastre a despeito das mudanças”, afirma o ex-presidente.

    Segundo Piñera, a América Latina tem que se preparar para o novo mundo com derretimento de geleiras, aumento do nível dos oceanos, seca, escassez de água, insegurança alimentar e desastres naturais.

    “Quase 20% da população vive em áreas que estarão submersas daqui 50 anos. Isso é só um exemplo dessa crise. É preciso aumentar a eficiência energética e proteger as florestas e os oceanos”, afirmou.

    O ex-presidente ainda reforçou a ameaça da emissão de CO2 em excesso e propôs mais investimentos em energias renováveis por países latino-americanos.

    “No ano passado, aumentamos o consumo de combustíveis fósseis em mais de 7%. Todas as projeções indicam que 2024 será ainda pior, estamos rumando a uma tragédia”, afirmou.

    Para Piñera, a população nunca viveu em um mundo com tantas mudanças climáticas.

    Por outro lado, há um avanço tecnológico que proporciona soluções a longo prazo, mas a América Latina ainda não conseguiu tirar proveito desse cenário.

    “Ao invés de investir nas forças da liberdade, nós a afundamos. Não estamos investindo o suficiente pra promover ciência e tecnologia no nosso continente”, concluiu.

    Em entrevista à CNN, Piñera reforçou a relevância do Brasil como sede da Conferência do Cima da ONU que acontecerá em Belém, em 2025.

    “A COP que acontecerá no Brasil é uma grande oportunidade para mudar o rumo. Porque temos toda a informação e sabemos que a crise climática que enfrentamos agora é produzida pelo homem. Basicamente porque estamos emitindo demasiados gases com efeito de estufa. E isso acontece basicamente porque estamos queimando demasiados combustíveis fósseis. E precisamos mudar isso”, afirmou.

    O ex-presidente chileno cobrou ainda um “acordo político real” para contribuir com a mudança do cenário.

    Crime organizado

    Durante o painel, o ex-presidente afirmou que um problema em comum nos países da América Latina é o narcotráfico, que segue quatro passos:

    1. Os criminosos procuram controlar um corredor para transportar a droga de um país para o outro, dentro do continente;
    2. Depois, os traficantes ficam no controle do território pra a venda das drogas;
    3. Após controlar o corredor e o território, a organização criminosa começa a entrar na sociedade pública, controlando a polícia;
    4. Por fim, a nação se transforma em um país do narcotráfico.

    Para combater o crime organizado, Piñera reforçou a importância de seguir as leis democráticas de um estado de direito e lembrou que a democracia está sob ataque em boa parte do mundo, sobretudo na América Latina. “Estamos andando pra trás”, disse.

    O ex-presidente do Chile reforçou que para lutar contra o crime organizado é preciso ter apoio popular e uma colaboração maior entre os países latino-americanos.

    “A América Latina é um dos continentes onde o crime organizado cresce mais rápido. É uma tendência grande e perigosa”, concluiu.