BNDES: Fim do financiamento de usinas a carvão impulsiona agenda ambiental
Segundo especialistas, medida beneficia empresas e valoriza fontes mais limpas de energia, mas impacto deve ser sentido apenas no longo prazo
A decisão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em não financiar, a partir de setembro, fontes de energia que dependam de carvão mineral, impactaria positivamente as empresas no longo prazo, apontam especialistas do setor ouvidos pelo CNN Brasil Business, que reforçam a visibilidade internacional do ponto de vista econômico que o Brasil terá com a medida.
Com o objetivo de fomentar alternativas energéticas mais limpas, o anúncio, feito na última segunda-feira (30), ocorre em meio à maior estiagem enfrentada no país nos últimos 91 anos. Ao todo, o Brasil possui atualmente 22 usinas térmicas a carvão mineral e, nas últimas semanas, elas estão sendo mais demandadas para suprir a demanda elétrica nacional. Elas são responsáveis pela geração de 2% da energia do país.
Para Ricardo Hammoud, professor de macroeconomia do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) a medida pode ser considerada como positiva. Segundo ele, o BNDES expandiu empréstimos para setores não viáveis economicamente e sem a necessidade de subsídios.
“As empresas serão mais inovadoras e competitivas, viáveis economicamente e com projetos de longo prazo. É uma reformulação, gerando emprego e com um impacto positivo na economia. Claro que deve haver uma certa cautela, desde que o BNDES crie um sistema para que esses recursos possam ir para as empresas no longo prazo. Entidades internacionais vão ajudar ainda mais nestes projetos sustentáveis”, explica Hammoud.
Felipe Bottini, diretor de Negócios e sócio-fundador da consultoria Green Domus, entende que, para as empresas, não deve haver grandes mudanças no curto prazo. No médio e longo prazos, no entanto, é provável que os preços do carvão fiquem menos interessantes e que os investimentos em renováveis, por outro lado, mais atrativos.
“Essa é uma agenda global. O mundo está se dando conta que por mais que a oferta de energia do carvão seja barata, ela tem custos ambientais e sociais altíssimos. Por serem investimentos de longo prazo, não parece ser mais compatível com o futuro que precisa de mitigação de emissões”, analisa Bottini.
Carlos Braga, professor da Fundação Dom Cabral (FDC) e vice-presidente do conselho do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), explica que o tema das usinas de carvão mineral já é debatido há alguns anos. Para ele, o BNDES se posiciona na promoção de linhas de longo prazo para empresas, com custos atrativos para financiamento de energias renováveis.
“A modalidade pode atrair ainda mais investidores globais. Não é uma surpresa para o mercado. É mais um passo na busca do banco se posicionar na agenda de financiamento de uma matriz energética mais limpa do Brasil. É uma caminhada para o país compensar os financiamentos passados voltados a atividades com impacto negativo na sociedade”, afirma Braga.
O CNN Brasil Business procurou o BNDES para comentar os impactos da decisão, mas até o momento fechamento, não houve retorno.
Crédito sustentável
No início de julho, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social decidiu oferecer benefícios a empresas que assumirem e cumprirem metas de melhoria no desempenho ambiental, social e de governança (ASG).
O programa BNDES Crédito ASG concederá financiamentos com destinação livre, ou seja, para usos diversos, e, portanto, sem necessariamente uma relação com um projeto de investimento, às empresas que se comprometerem a melhorar seus indicadores de sustentabilidade. Segundo o Banco, aquelas que cumprirem as contrapartidas mínimas e atingirem as metas estipuladas pelo programa terão redução na taxa de juros.
A princípio, o benefício será destinado a empresas de segmentos específicos: cadeia da madeira voltada para reflorestamento, fabricantes de equipamentos para a cadeia de energia renovável e de eficiência energética, mineração, siderurgia. Esses quatro setores têm grande potencial de melhorias em termos ambientais.
Serão concedidos empréstimos de até R$ 150 milhões por grupo econômico. Empresas interessadas deverão protocolar seus pedidos diretamente no BNDES até 31 de dezembro de 2023. O prazo total de pagamento será de até 96 meses, incluída uma carência de até 24 meses.
*Com informações de Bruna Carvalho, da CNN