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    Baixo isolamento e poupança ajudam a salvar PIB do 1º trimestre do zero

    No começo do ano, economistas projetavam crescimento nulo ou até queda; economia cresceu 1,2% no primeiro trimestre, de acordo com IBGE

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

     

    Os prenúncios para os primeiros meses de 2021, no começo do ano, não eram dos melhores. Seriam os primeiros sem nenhuma das ajudas do governo, como o auxílio emergencial e do programa de redução subsidiada de jornada e salário. Ambos tinham sido finalizados em dezembro depois de meses de prorrogação ao longo de 2020. 

    Além disso, não só a pandemia continuava sem controle como voltou a avançar, até marcar os recordes de contaminação, internações e mortes vistos em março e abril e levar a novas ondas de quarentenas duras pelo país. Tudo isso com as primeiras doses de vacinas, dadas em janeiro, apenas começando e em um ritmo de imunização que, até agora, ainda é baixo.

    Com todas essas nuvens no horizonte, o consenso dos economistas era de que o primeiro trimestre deste ano poderia ser até negativo ou, com sorte, ficar no zero. A desaceleração, natural, de fato se concretizou, mas a atividade econômica saiu melhor do que esperado, e o país conseguiu ficar no campo positivo. 

    O crescimento entre janeiro e março deste ano foi de 1,2% sobre o último trimestre do ano passado, de acordo com os números divulgados nesta terça-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No terceiro e no quatro trimestre passados, as altas tinham sido de 7,8% e de 3,2%, ainda impulsionadas pela força de sair do fundo do poço depois de uma queda de mais de 9% no segundo trimestre, o primeiro em 2020 com o efeito cheio da pandemia. Em 2020, o PIB encerrou o ano em queda de 4,1%.

    Entre as razões para o número neste começo de 2021, está uma mudança na forma como o brasileiro se comporta na pandemia: diferente do que aconteceu nos piores momentos do ano passado, quando as médias de morte por coronavírus também tinham passado dos 1.000 por dia, a circulação, desta vez, não caiu. 

    Poupança guardada do auxílio emergencial do ano passado e exportações em franco crescimento com a ajuda do dólar e das commodities em alta são outros fatores mencionados por economistas para explicar o crescimento.

    “A relação da economia com a pandemia mudou, o Brasil chegou a registrar mais de 3 mil mortes por dia, e a mobilidade ficou nos mesmos níveis de quanto estávamos em 800”, disse o economista-chefe da gestora Neo Investimentos, Luciano Sobral. 

    “Do lado bom, isso significa que as pessoas aprenderam a trabalhar a distância e houve um ganho de produtividade, o que aconteceu no mundo todo. Do lado ruim, significa que entre o ganho de curto prazo e o controle da pandemia, de longo prazo, o Brasil claramente escolheu o primeiro. Morre mais gente nesses três meses, mas o PIB não cai.”

    O diretor de estudos macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo Souza Jr., destaca também que a poupança extra guardada pela população no ano passado pode ter ajudado a manter as compras e o consumo se mexendo nesses meses, mesmo com o fim das ajudas do governo, que foram reeditadas e voltaram a ser pagas em abril deste ano

    “Foi feita uma poupança precaucional por pessoas que receberam o auxílio emergencial no ano passado, e, entre quem não recebeu, na classe média, as pessoas também pouparam pela falta de acesso a alguns serviços”, disse ele. “Parece que esse valor poupado ajudou a amortecer a queda de renda.”

    Em 2020, as cadernetas de poupança do país registraram a maior captação da sua história, em muito puxadas pelos depósitos de pequenos valores, indicando que não foram só os ricos, mas também as famílias de baixa renda, beneficiadas pelo auxílio emergencial, que conseguiram guardar algum dinheiro. Em alguns momentos, o nível de poupança do Brasil, que considera todo o dinheiro guardado pelas pessoas e empresas, chegou a mais do que dobrar

    Risco de 3ª onda e falta de energia

    Dados não tão ruins de indústria, comércio e serviços, ao longo dos meses, já vinham levando os economistas a revisarem suas expectativas para o PIB do ano – muitos já falam em crescimento acima de 4% em 2021, enquanto quase todos falavam em números menores do que 3% no começo do ano. 

    Restam, porém, alguns pontos de atenção. A volta dos aumentos de infecções e internações por coronavírus, partindo de um patamar já alto e com novas cepas em circulação, acende um alerta para uma possível terceira onda da doença em breve.

    “Mesmo que a atividade tenha surpreendido durante a segunda onda e haja um consenso de que uma terceira explosão de casos não deve deter a economia, há um risco grande para as contas públicas e para a sustentabilidade fiscal, o que deixa o ambiente político mais volátil e pode, indiretamente, prejudicar o PIB”, escreveu o banco Credit Suisse em um relatório recente aos seus clientes. 

    Alexandre Almeida, economista da CM Capital, também coloca no radar os impactos da atual crise energética, que se desenha nas hidrelétricas brasileiras, para a economia. Com o menor volume de chuvas em 90 anos e reservatórios nos níveis mais baixos dos últimos 20, o risco de o custo da energia subir demais ou até de ser necessário fazer um racionamento se torna cada vez maior. 

    “Estamos um período bastante crítico para os reservatórios e em um estado de atenção desde abril até meados de outubro, o que pode acabar prejudicando o abastecimento de uma parte grande da população e, por consequência, também uma parte grande do PIB no curto prazo”, disse Almeida. 

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