Autoridades e empresários destacam em evento no Brasil papel de lideranças em crise global
Evento Expert XP 2022 recebeu autoridades internacionais nesta quinta-feira, como ex-primeira-ministra do país, Theresa May, e o ex-secretário do Tesouro dos EUA Lawrence Summers


A economia do Reino Unido ainda deve ter “tempos difíceis” à frente, afirmou a ex-primeira-ministra do país, Theresa May, em um evento no Brasil nesta quinta-feira (4).
Participando remotamente do evento Expert XP 2022, May falou sobre o nível recorde de inflação no Reino Unido, o maior em 40 anos, e as ações do banco central do país, o Banco da Inglaterra, para conter a alta generalizada de preços.
A política destacou que a autarquia anunciou nesta quinta-feira que espera uma inflação no país atingindo os 13% até o fim do ano. A projeção foi divulgada junto com a alta de 0,5 ponto percentual na taxa de juros do Reino Unido, a maior elevação desde 1995.
No mesmo evento, o ex-secretário do Tesouro dos EUA Lawrence Summers destacou que a alta dos preços no mundo poderia ser pior se as lideranças econômicas não reconhecessem a força da inflação e não buscassem combatê-la com rigidez.
“Eu acho que o maior erro seria não reconhecer que criamos um problema de inflação e que temos que combater ele”, disse o economista estadunidense.
Summers afirmou ainda que tem esperança que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) “vai fazer o necessário” para colocar os EUA de volta nos trilhos, fazendo alusão a um aperto monetário mais persistente.
“Eu acredito em uma recessão nos próximos 18 meses, mas tenho confiança em relação à quantia que o Fed vai empregar [de aumento dos juros] para controlar a inflação, mas não por quanto tempo”, declarou.
“Eles acreditam que vão conseguir ser bem-sucedidos em eliminar a inflação e reduzir de volta a 2% sem que a taxa de desemprego chegue a 4,1%. Eu acho que uma visão de que o Fed vai conseguir controlar a inflação sem aumentar tanto os juros pode ser até que aconteça, mas nunca vi isso na história com base na teoria econômica”, acrescentou.
O tema do evento foi “O futuro pelo olhar de quem transforma”. Também no dia 4, o empresário Rubens Menin —presidente do conselho da MRV Engenharia, controlador do Inter, da Log Commercial Properties e da CNN Brasil— destacou em painel a importância do setor privado e das elites no desenvolvimento social e financeiro do Brasil.
“A culpa é nossa, a gente tem mania de colocar nos outros, mas é das elites, estamos deixando um legado que não é o que a gente queria”, disse.
“A obrigação social é nossa. Um país como os EUA, mais rico, 2,5% do PIB é destinado para filantropia, no Brasil, só 0,2%. Se não conscientizar as elites sobre a importância da filantropia, não vamos olhar para a frente”.
Em meio a um ambiente global de incertezas, o gerente de desenvolvimento de normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Claudio Maes, destacou no evento que o Brasil tem condições de ser uma liderança no que se refere ao green finance. “Tudo aquilo que é requerido para um mercado de ativos funcione de maneira eficiente já se faz presente no Brasil”, disse.
“Isso também é uma questão estratégica para qualquer regulador, pois diz respeito à competitividade dos mercados, ou seja, existe uma tendência de que, em um futuro não muito distante, determinados ativos com características de geração de impacto socioambiental negativo, não sejam bem aceitos em muitos mercados. Há uma expectativa de que muitos empreendimentos que não tenha uma determinada pegada de impacto socioambiental tenha uma dificuldade de arrecadação”, conclui.
Sobre riscos climáticos, o chefe de gabinete do diretor de regulação do Banco Central (BC), Ricardo Harris, que também participou do evento nesta quinta, afirmou como as mudanças climáticas afetam a política monetária dos bancos centrais ao redor do mundo. “O risco climático afeta uma das discussões primárias dos BCs: a gestão da política monetária. Basta ver, ano passado, por exemplo, tivemos uma seca mais prolongada e isso teve efeito no preço de alimentos e energia”.