Aumento da produção não impede alta de preços dos combustíveis, dizem analistas
Em evento no México, o ex-presidente Lula citou o aumento de refinarias como opção para frear valorização dos combustíveis
Na semana passada, em evento no México, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desaconselhou a compra de estatais públicas brasileiras, enquanto falava da exploração de petróleo no país, porque, caso seu partido ganhasse a eleição, essa venda seria revista.
“Eu tenho avisado às empresas nas entrevistas: ‘não comprem as empresas públicas brasileiras, porque, se nós vencermos as eleições, nós vamos querer rediscutir. Porque nós não vamos abdicar do patrimônio que foi construído pelo povo brasileiro'”, afirmou o petista, possível pré-candidato à Presidência da República.
A afirmação do ex-presidente vem no momento de escalada das pressões para a adoção de medidas para conter a alta do preço dos combustíveis —efeito sentido globalmente devido à pandemia e intensificado recentemente pela invasão russa à Ucrânia.
Nesse contexto, segundo ele, uma das formas de amenizar o impacto dessa valorização no bolso do brasileiro seria aumentar o número de refinarias no país.
“O Brasil, que deveria ser exportador de derivado de petróleo, está importando petróleo dos EUA. Tem empresas importando petróleo dolarizado, quando o Brasil é autossuficiente e o petróleo brasileiro poderia ser precificado na nossa moeda. As nossas refinarias estão com produção 30% menor, porque o Brasil não quer produzir mais para consumir gasolina importada, e o povo brasileiro está pagando o preço da gasolina em dólar”, disse.
Analistas ouvidos pela CNN disseram, no entanto, que aumentar a produção não resolveria o problema.
“Sujeitar as refinarias a preços artificiais afasta investidores do país. O refino é a atividade menos rentável e mais cara desse mercado. A Petrobras optou por investir mais em produção e distribuição justamente por isso”, diz David Zilberstein, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
“Não fizemos mais refinarias até agora justamente porque existe o temor da manipulação de preços. Se o Brasil tiver preço menor do que no mercado internacional, quem vai trazer petróleo para vender mais barato aqui do que no mercado internacional?”, diz.
O especialista explica que o Brasil é autossuficiente em petróleo, mas não em derivados do produto. Por isso, a Petrobras atende 80% do mercado, os outros 20% vêm de fora para atender o mercado interno.
Ou seja, caso as refinarias começassem a cobrar menos pelo produto, as chances de haver uma escassez seriam maiores. “Iria faltar combustível. Um petróleo é diferente do outro, o problema maior é que a gente não tem competição aqui, o que prejudica a transparência e afasta investidores”, diz.
O presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) e ex-diretor da Petrobras, Eberaldo de Almeida, afirmou nesta terça-feira (8), em entrevista à Agência Estado, que o congelamento de preços dos combustíveis como diesel e gasolina no país teria um impacto de até R$ 200 bilhões ao longo deste ano. O cenário também provocaria desabastecimento no país, segundo a instituição.
O governo do presidente Jair Bolsonaro discute um subsídio direto para compensar a diferença com os preços internacionais. Mas, para o especialista, a única saída para não desorganizar o mercado e afastar investimentos no setor seria atuar com um subsídio localizado naqueles mais necessitados “Não tem varinha mágica”, afirmou.
“O governo Dilma tentou interferir no preço dos combustíveis e levou a Petrobras a ser a petrolífera mais endividada no mundo”, acrescenta Mauro Rochlin, economista e professor da Fundação Getulio Vargas – FGV.