Ata do Copom afasta possibilidade de cortes maiores na Selic, avaliam especialistas
Documento do banco central divulgado nesta terça-feira cita preocupações com cenário econômico externo e pontos de atenção no ambiente doméstico, como a inflação
A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) reforçou a perspectiva de cortes graduais das taxas de juros pelo Banco Central, sugerindo um patamar final da Selic entre 10% e 9% para 2024, quando deve se encerrar o ciclo de cortes, segundo avaliam especialistas à CNN.
“[A ata] é mais um elemento que dificulta o BC falar em juros mais baixos, seja na velocidade do corte, como no ponto final da curva de afrouxamento monetário”, avalia Marco Caruso, economista-chefe do PicPay.
Segundo o especialista, o documento tentou trazer mais detalhes sobre o porquê de o Copom estar preocupado com o atual cenário monetário.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, de 13,25% para 12,75% ao ano, o mesmo patamar de maio de 2022, quando os juros estavam em ritmo de alta.
Os membros do Comitê “concordaram unanimemente” com a expectativa de novos cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões, segundo a ata divulgada nesta manhã.
Rodolfo Margato, economista da XP, pontuou que o documento trouxe discussões importantes sobre o ambiente econômico global (mais) incerto e a resiliência da atividade doméstica.
Para o Comitê, a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, ambas exigindo maior atenção por parte de países emergentes.
Ao mesmo tempo, alguns membros se mostraram menos confiantes na desinflação de serviços – que é um dos elementos-chave para o processo desinflacionário no país -, uma vez que os fundamentos (mercado de trabalho resiliente e atividade econômica) ainda não permitem uma extrapolação convincente do comportamento recente.
Para Margato, a discussão sobre o Copom acelerar o ritmo de cortes de juros provavelmente perderá força (ao menos no curto prazo), e calcula que a Selic termine 2024 em 10%.
“Como temos argumentado, as taxas de juros pressionadas no exterior e a política fiscal expansionista no ambiente doméstico são limitações para um afrouxamento monetário mais intenso em 2024”, explica.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, concorda que a ata sugere uma Selic terminal mais próxima de 10% do que de 9%.
O especialista avalia uma postura mais cautelosa do Copom na ata, ressaltando a mensagem de que os juros restritivos são necessários para garantir a reancoragem das expectativas e a consolidação do processo de desinflação, principalmente em um cenário de riscos fiscais.
“Por outro lado, a descrição de cenário está mais equilibrada, com o Copom vendo fatores altistas para Selic como temporários, deixando em aberto a possibilidade de o ciclo se estender aos 9%”, pontua.