Após autonomia, equipe do BC deveria se abster da política, diz Haddad à CNN
Em entrevista à CNN, ministro da Fazenda criticou posicionamento político na cúpula do Banco Central e também disse que aprovação da autonomia no governo Bolsonaro foi "o pior momento"
Sem citar nomes e situações diretamente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou nesta sexta-feira (10) o posicionamento político na cúpula do Banco Central.
Haddad também afirmou que o grande problema da lei que formalizou a autonomia do BC em relação a intervenções do governo federal foi ter sido aprovada durante o mandato de Jair Bolsonaro, que, de acordo com ele, dificultou a transição entre governos.
“Depois que a autonomia do Banco Central foi institucionalizada no Brasil, não só o presidente, mas todo o corpo técnico, da presidência pra baixo no BC, tinha que ter adotado uma postura de abstenção em relação à política partidária”, disse o ministro, que fala nesta noite em entrevista exclusiva aos âncoras da CNN William Waack, Daniela Lima e Raquel Landim.
“Não deve fazer campanha, não deve se pronunciar. É assim que é no mundo: se a pessoa tem autonomia, ela mudou de status. Ela deixou de ser um funcionário do governo e passou a ser funcionário do Estado brasileiro.”
Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro e atual presidente do Banco Central, foi criticado por votar com uma camisa da Seleção brasileira, símbolo dos apoiadores do ex-presidente, e também por participar de um grupo de WhatsApp que reunia ex-ministros de Bolsonaro.
Para o ministro da Fazenda de Lula, o governo Bolsonaro produziu uma “transição muito difícil”, que “não foi normal”, e, por essa razão, não foi o melhor momento para se aprovar a autonomia do BC. Entre as principais mudanças, a lei que deu independência à autarquia desvinculou a indicação do presidente do BC do governo eleito.
“Talvez isso tenha sido introduzido na legislação no pior momento”, disse. “Eu não defendi [a aprovação da autonomia do BC] porque não achava que o momento era adequado. Como vai ter uma transição? Como vamos herdar? As tensões estavam tão grandes, e estão ainda.”