AngloGold vai investir R$ 1,6 bilhão para desativar barragens no Brasil
Durante a implantação do projeto, a empresa abrirá 2 mil vagas nas regiões das plantas da AngloGold, localizadas nos estados de Minas Gerais e Goiás
Uma das empresas mais antigas em operação no país, a mineradora sul-africana AngloGold Ashanti está investindo R$ 1,6 bilhão neste ano no Brasil para implementar um sistema para filtragem e empilhamento a seco de rejeitos nas suas unidades de produção de ouro.
O objetivo final é encerrar as barragens que concentram rejeitos de mineração, reduzindo riscos ao meio ambiente. Durante a implantação do projeto, a empresa abrirá 2 mil vagas nas regiões das plantas da AngloGold, localizadas nos estados de Minas Gerais e Goiás.
Os investimentos deste ano são concentrados na aquisição de plantas de filtragem e nos terrenos para receber o rejeito seco.
A companhia produz, atualmente, cerca de 510 mil onças de ouro por ano no país, o correspondente a 15 toneladas – o que dá 15% do total da produção global do grupo sul-africano.
A relação da AngloGold com o Brasil remonta ao século 19, ainda como Saint John del Rey Mining Company. Seus sócios eram ingleses e investiram na exploração de ouro em Minas Gerais.
Em 1881, a empresa chegou a receber o casal imperial Dom Pedro II e Tereza Cristina, que visitaram Congonhas das Minas de Ouro (atual Nova Lima).
O processo pelo qual as barragens da AngloGold vão passar é chamado tecnicamente de descaracterização. Após o tratamento dos rejeitos, a área pode ser incorporada ao meio ambiente.
Com o investimento bilionário, as barragens deixam de receber novos rejeitos neste ano – com a descaracterização sendo realizada a partir do ano que vem, em um processo que deve ser encerrado em 2026. Os espaços receberão plantas nativas de suas regiões.
Segundo Camilo Farace, vice-presidente da AngloGold Ashanti Brasil, a decisão não está relacionada a eventuais riscos de segurança.
“É importante deixar claro que nossas barragens estão estáveis e seguras. São diariamente monitoradas, e dentro das normas exigidas. A decisão reforça o compromisso da companhia com tecnologias mais modernas”, diz.
O executivo explica que o rejeito da mineração é composto pela mistura de água e de parte sem aproveitamento econômico do minério.
Hoje, após o processo de produção de ouro, esse material é direcionado para a barragem. Com o processo a seco, o rejeito gerado será filtrado. Esse material pode ser usado para preencher cavas exauridas ou ser empilhado.
Farace afirma que a decisão do investimento foi tomada antes do rompimento da barragem de Córrego do Feijão, da Vale em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019, que causou centenas de mortes e chamou a atenção para a segurança dessas estruturas, sobretudo no estado de Minas Gerais.
No fim de 2015, o país já havia assistido ao rompimento de uma barragem da Samarco (sociedade entre a Vale e a BHP Billiton).
Em alta
Com o preço do ouro em nível elevado, a AngloGold Ashanti investiu nos últimos 12 meses cerca de R$ 100 milhões na tentativa de ampliar sua produção nas áreas onde já atua e em uma nova frente em Mato Grosso.
São realizadas perfurações a mais de 2 mil metros de profundidade para tentar identificar a presença de ouro.
Na visão de Murilo Breder, analista do Nu Invest, o preço do ouro tem se mantido elevado diante de um cenário de juros reais baixos no mundo.
“No início da pandemia, havia uma expectativa de que a alta da commodity poderia ser passageira, com os investidores buscando uma proteção de curto prazo. Porém, este cenário de manutenção dos estímulos e inflação tem mantido a commodity forte”, afirma o analista.