Americanas divulga supostas provas de participação de ex-CEO em fraude
Manifestação é uma resposta ao depoimento à CPI das Americanas encaminhado por Miguel Gutierrez na semana passada e revelado pela CNN
A Americanas divulgou, na manhã desta segunda-feira (11), um comunicado no qual diz ter pelo menos três provas contra o ex-CEO Miguel Gutierrez que foram protocoladas no domingo (10) nos autos do processo que apura a fraude contábil bilionária na empresa. São elas:
- 1) arquivo digitalizado com anotações de próprio punho de Miguel Gutierrez, localizadas em equipamento eletrônico da companhia por ele utilizado, em materiais que apontam a existência de duas versões dos demonstrativos da Americanas, uma de uso interno da antiga diretoria e outra destinada ao Conselho de Administração;
- 2) e-mail enviado por Miguel Gutierrez aos ex-diretores, com orientações para que não fossem levadas, em reunião com Sérgio Rial, respostas a dúvidas sensíveis em relação ao 4T22 e endividamento da companhia;
- 3) e-mail enviado pelo ex-CEO aos ex-Diretores envolvidos na fraude, pelo qual Miguel Gutierrez reclama do “mar de comentários”, referindo-se a diligentes questionamentos dos membros do Comitê de Auditoria, em linha com as boas práticas de governança recomendadas.”
A manifestação é uma resposta ao depoimento à CPI das Americanas encaminhado por Gutierrez na semana passada e revelado pela CNN.
Nele, o ex-CEO sugere que os acionistas majoritários das Americanas, os chamados 3G (Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles) sabiam da fraude contábil bilionária na empresa.
Na manifestação desta manhã, a Americanas diz que “reitera que o ex- dirigente da Americanas não apresentou contraprovas, em nenhum momento, para os documentos e fatos apresentados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no dia 13 de junho de 2023, que demonstram a sua participação na fraude”.
A empresa diz também “que foi a única parte a apresentar provas no âmbito do processo judicial e reitera a afirmação sobre a fraude e a responsabilidade direta do ex-CEO a partir da exposição de novas evidências apresentadas nesta manifestação”.
A Americanas afirma ainda que “foram identificadas várias contradições e mentiras nas alegações contidas na carta apresentada por Miguel Gutierrez” e as elenca:
- “1) Miguel Gutierrez alega que a companhia passava por situação financeira difícil no segundo semestre, que precisaria de aporte de capital e que todos os órgãos da administração tinham ciência desse fato. Documentos apresentados ao Comitê Financeiro em 07/11/22, arquivados no portal de governança da companhia e já disponibilizados à CPI e demais autoridades, mostram de forma inequívoca que a antiga diretoria, liderada por Miguel Gutierrez, apresentou aos conselheiros visão de que a Americanas geraria R$ 500 milhões de caixa no 4o trimestre de 2022 e continuaria gerando caixa nos anos subsequentes, mantendo índice de endividamento financeiro saudável.
- 2) Outra argumentação sem fundamento apresentada é a de que os órgãos sociais deliberavam sobre questões estratégicas da Americanas sem conhecimento e participação do ex-CEO Miguel Gutierrez. Esta falsa afirmativa cai por terra diante de mensagem sobre ações do Comitê Financeiro, assim como de agendas de reuniões do Conselho, que mostram que o senhor Miguel Gutierrez era ativo na gestão da companhia, como é de se esperar de qualquer Presidente de empresa.”
A CNN procurou a defesa de Gutierrez, que enviou nota. Veja abaixo:
Mais uma vez, a atual administração da Americanas pinça documentos fora de contexto na tentativa de corroborar sua narrativa falsa e incomprovada de que Miguel Gutierrez teria participado de uma fraude. As novas alegações da companhia serão rebatidas nos foros próprios do processo, mas chama a atenção que nenhum daqueles documentos sequer se relaciona com VPC ou “risco-sacado”, temas que a companhia disse, no fato relevante de 13/06, corresponderem à fraude. É incompreensível a insistência da Americanas em se precipitar à conclusão das autoridades para proteger seus acionistas controladores e membros do conselho de administração – que têm responsabilidade nas áreas financeira e contábil. A companhia tropeça, assim, na tentativa de proteger pessoas que teriam muito mais condições de ressarci-la pelos danos que diz ter sofrido.