‘Alta do IOF com economia fragilizada joga mais água na fervura’, diz Salto
Começa a valer nesta segunda-feira (20) o aumento do IOF, imposto sobre operações financeiras; expectativa do governo é arrecadar mais de R$ 2,1 bilhões
O aumento temporário do IOF para custear a reformulação do Bolsa Família vem num momento ruim para a conjuntura econômica, na avaliação de Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão vinculado ao Senado.
“Esse aumento de alíquotas nesse momento em que a economia está fragilizada, que o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre teve uma queda, ainda que modesta, e com a expectativa de estabilidade nos resultados do segundo semestre de 2021, joga mais água na fervura. Quer dizer, diminui a temperatura da recuperação, ainda que possa trazer essa arrecadação de R$ 2 bilhões para o governo”, diz Salto em entrevista à CNN nesta segunda-feira (20).
O economista explica que o IOF é um imposto regulatório que o governo utiliza para aumentar ou reduzir alíquotas quando percebe algum movimento que precisa ser acomodado principalmente no setor de crédito.
A expectativa do governo federal é arrecadar mais de R$ 2,1 bilhões com o ajuste de alíquotas do imposto, que começa a valer hoje.
Mas, de acordo com Salto, o aumento do imposto não resolve toda a questão. “Quando se cria um benefício novo e para sempre, a lei de responsabilidade fiscal manda que haja soluções permanentes também. A solução do IOF resolve dois meses de 2021, como fica o ano de 2022?”, questiona.
Segundo ele, o grande desafio para o governo no próximo ano será encontrar uma forma de financiar a reformulação do Bolsa Família sem romper o teto de gastos, regra constitucional que limita a elevação dos gastos do ano à inflação do ano passado.
“A ideia de aumentar as alíquotas do IOF é garantir os dois meses de 2021. Não se sabe, porém, como a conta vai fechar, porque a aposta do governo é que a reforma do Imposto de Renda, com a criação da tributação sobre lucros e dividendos, ajude. O problema é como vai equacionar o teto de gastos no ano que vem sem cortar outras despesas, mesmo que o governo eventualmente consiga aprovar esse projeto de lei”, diz Salto.