Alta de 0,5% do PIB no quarto trimestre de 2021 surpreende analistas
Recessão sai de cena, mas cenário ainda é de crescimento fraco e inflação alta
A alta de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre surpreendeu parte dos analistas e deixou para trás o fantasma de recessão que assustava o Brasil. O principal responsável é o setor de serviços, favorecido pelo aumento da vacinação e pela normalização do consumo das famílias no fim do ano.
Dessa maneira, o país saiu da recessão técnica que foi caracterizada com a queda do PIB do segundo e do terceiro trimestre. E ficou um pouco mais evidente a real situação da economia brasileira hoje: crescimento fraco e inflação alta.
“A foto é boa, mas o filme não é bom”, diz Silvia Mattos, economista do Ibre/FGV, uma das poucas que cravou os resultados do PIB em suas previsões. Não só a alta de 0,5% no quarto trimestre, mas ela acertou também o aumento de 4,6% em 2021 em relação a 2020.
Com esse resultado anual, o Brasil se recupera das perdas provocadas pela pandemia da Covid-19, que provocou queda de 3,9% do PIB em 2020. Os impactos da crise sanitária, no entanto, ainda persistem. O principal deles é a inflação alta, agora agravada pela guerra da Ucrânia.
As projeções de bancos, consultorias e acadêmicos para o PIB de 2022 varia entre 0% e 1%. O Ibre/FGV, por exemplo, que se beneficia do monitor do PIB, um painel de dados que observa um espectro amplo de indicadores antecedentes, estima alta de 0,6%.
Existem, portanto, forças positivas e negativas atuando na economia brasileira neste ano, que podem acabar deixando o país no zero a zero, o que é bastante preocupante para qualquer país, ainda mais com os desafios do Brasil.
Entre os fatores positivos, estão o “boom” de commodities, um efeito colateral para países produtores de grãos e metais em todo o mundo do conflito na Ucrânia. Se não houver nenhum problema climático grave, a agricultura deve ter um bom desempenho neste ano.
Também é um período de eleições presidenciais e os gastos do governo vão impulsionar a atividade, independente dos reflexos fiscais negativos no médio e longo prazo. Já estão sendo concedidos reajustes aos servidores públicos estaduais e há pressão que o mesmo ocorra na União.
O governo federal também turbinou os programas sociais, com a criação do Auxílio Brasil, na expectativa de garantir dividendos eleitorais para o presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição. E isso gera um efeito importante no consumo dos mais pobres.
Mas também temos fatores negativos atuando. O aumento das commodities beneficia a agricultura e traz mais dólares ao país, só que turbina a inflação. Reajustes dos preços dos combustíveis e dos alimentos já estão contratados. Se o conflito na Ucrânia se estender, vai ficar pior.
Para combater a inflação alta, o Banco Central está elevando os juros, o que encarece o crédito e prejudica a atividade econômica. O BC já promoveu um importante aperto monetário, cujos impactos apenas começam a ser sentidos. E provavelmente ainda vai subir um pouco mais os juros.
No meio de todo esse conjunto incertezas, está complicado prever qual será o desempenho da economia brasileira em 2022. Fazer projeção de PIB não é tarefa fácil. Mas, de toda forma, mesmo no cenário mais otimista, as estimativas apontam para alta de, no máximo, 1% do PIB e inflação de, pelo menos, 6%. Não há, portanto, ainda motivos para comemorar.