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    Ações chinesas perderam US$ 6 trilhões em 3 anos; entenda o que está por trás disso

    Perdas realçam crise de confiança entre investidores preocupados com futuro do país

    Governo planeja novas medidas para sustentar confiança na economia
    Governo planeja novas medidas para sustentar confiança na economia REUTERS

    Laura Heda CNN

    Hong Kong

    As ações chinesas não tiveram apenas um começo ruim em 2024, tem sido difícil desde fevereiro de 2021, quando elas atingiram seu pico mais recente.

    Nos últimos três anos, cerca de US$ 6 trilhões (R$ 29,79 trilhões) – valor quase quatro vezes maior que o PIB brasileiro – foram eliminados do valor das ações chinesas e de Hong Kong.

    O índice Hang Seng caiu 10% apenas neste ano, enquanto os índices Shanghai Composite e Shenzhen Component caíram 7% e 10%, respectivamente.

    As perdas realçam uma crise de confiança entre os investidores preocupados com o futuro do país e remontam a quebra vista em 2016.

    “Os últimos três anos foram sem dúvida um período desafiador e frustrante para investidores e participantes do mercado de ações chinesas”, escreveram analistas do Goldman Sachs em nota de pesquisa na terça-feira (23).

    “A China [está] atualmente negociando com avaliações reprimidas e alocações mínimas de uma década em mandatos de fundos [de investimento].”

    Série de problemas

    Entre eles a desaceleração recorde do setor imobiliário, deflação, dívida dos governos locais, uma taxa de natalidade em queda e uma redução da força de trabalho, bem como uma mudança para políticas orientadas por ideologia que abalou o setor privado e assustou as empresas estrangeiras.

    O colapso das ações fez com que os mercados chineses tivessem o pior desempenho do mundo até agora neste ano. Tudo isto acontece no contexto de uma recuperação do mercado de ações global, liderada pelo rali recorde de Wall Street e pelo Japão na Ásia.

    Mas há sinais de que o governo chinês está começando a se preocupar.

    A Reuters informou esta semana que Pequim pediu aos bancos que vendessem dólares para sustentar o yuan, enquanto a Bloomberg disse na terça-feira (23) que o governo estava se preparando para intervir diretamente para apoiar as ações.

    O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, ordenou na segunda-feira (22) que as autoridades tomassem “medidas enérgicas e eficazes” para estabilizar os mercados. Mas isso será capaz de restaurar a confiança dos investidores?

    O que está causando o colapso?

    Em suma, os investidores estão preocupados com a falta de políticas eficazes por parte de Pequim para desencadear uma recuperação econômica sustentável.

    A economia da China cresceu 5,2% em 2023. Esse foi o ritmo de expansão mais lento desde 1990, com exceção dos três anos de pandemia até 2022.

    Os economistas internacionais esperam que o crescimento do país desacelere ainda mais este ano, para cerca de 4,5% e caia abaixo de 4% no médio prazo.

    Embora isto possa parecer razoável para uma grande economia, está muito abaixo do crescimento de dois dígitos da China nas últimas décadas.

    O país pode enfrentar décadas de estagnação, dizem os analistas, uma vez que a desaceleração é de natureza estrutural e não será facilmente revertida.

    “Tem havido uma confusão crescente sobre a posição política de Pequim na economia”, afirmaram os analistas da Nomura em nota publicada na segunda-feira.

    “O [banco central] não apresentou o corte esperado nas suas taxas de empréstimo de referência na semana passada. Os comentários dos altos funcionários sugerem que Pequim está relutante em procurar o crescimento a curto prazo à custa de riscos crescentes a longo prazo”, acrescentaram.

    Na semana passada, o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve estável a sua taxa dcrédito de médio prazo, contrariando as expectativas do mercado de que faria o seu primeiro corte desde agosto.

    Na segunda-feira, o banco central também manteve inalterada a sua Taxa Principal de Empréstimo – uma taxa de juro fundamental que influencia as hipotecas –, frustrando ainda mais as esperanças de um corte.

    O quão fundo vai o problema?

    Ao longo de 2023, Pequim implementou apenas políticas fragmentadas para impulsionar a recuperação econômica. Mas isso não foi suficiente, segundo analistas do Goldman Sachs.

    “A flexibilização da política macro convencional até agora ficou aquém das expectativas dos investidores”, afirmaram. “Uma mudança no manual de flexibilização gradual para uma abordagem mais agressiva pode ser necessária para derrubar a narrativa negativa no mercado.”

    Em particular, é necessária uma “resistência governamental eficaz” para apoiar promotores imobiliários falidos e estimular a procura de habitação para resolver a atual crise imobiliária, que está no centro de muitos dos problemas econômicos da China, acrescentaram.

    Os investidores também estão preocupados com as questões existenciais que atormentam o futuro da China.

    “O compromisso da China com as reformas foi posto em causa”, afirmaram, acrescentando que as preocupações foram motivadas pela repressão de Pequim às grandes empresas de tecnologia, pela sua ênfase na segurança nacional e pelo crescente domínio do setor estatal em indústrias-chave.

    “Essas incertezas políticas desencorajaram o apetite de investimento.”

    Além disso, as tensões EUA-China forçaram os investidores norte-americanos a reduzir “significativamente” a sua exposição e propriedade em ações chinesas, disseram os analistas.

    O que o governo está fazendo para lidar com o problema?

    O primeiro-ministro Li, que presidiu uma reunião de gabinete na segunda-feira, prometeu tomar medidas para impulsionar o mercado de ações e melhorar a liquidez, de acordo com uma leitura publicada pela Xinhua. Contudo, ele não detalhou quais serão as medidas.

    Mas, no mesmo dia, os principais bancos estatais adotaram protocolos para apoiar o yuan chinês, a fim de evitar que a moeda caísse rapidamente à medida que as ações chinesas despencavam, de acordo com uma nota da Reuters, citando fontes não identificadas.

    Uma reportagem da Bloomberg de terça-feira disse que as autoridades chinesas estão considerando intervir mais diretamente, mobilizando cerca de 2 trilhões de yuans (R$ 1,41 trilhão) como parte de um fundo de estabilização do mercado de ações, principalmente através da utilização de contas offshore de empresas estatais chinesas.

    O fundo compraria ações cotadas na China continental através da bolsa de valores de Hong Kong. As autoridades também reservaram pelo menos 300 bilhões de yuans (R$ 210,84 bilhões) de fundos locais para investir em ações da China continental, informou a Bloomberg.

    “Se o boato se provar verdadeiro, o programa de compra de ativos poderá gerar um volume significativo de fluxo de compra de [yuans]”, disse Ken Cheung, estrategista-chefe de câmbio asiático do Mizuho Bank.

    Ele também acredita que o PBoC decidiu não cortar as taxas de juros para evitar que o yuan se desvalorizasse ainda mais.

    A informação da Bloomberg foi suficiente para conter novas quedas na terça-feira, com o índice de referência de Hong Kong, o Hang Seng, fechando em alta de 2,6% e o Shanghai Composite subindo 0,5%.

    Reação do mercado

    A derrocada do mercado de ações provocou a ira pública nas redes sociais chinesas, onde muitas pessoas apelaram aos reguladores para que tomassem medidas eficazes para conter o declínio.

    Mais de 220 milhões de indivíduos investem nos mercados de ações da China, segundo dados oficiais, e essas pessoas representam 99% da base total de investidores.

    Tópicos relacionados à “queda do mercado” e ao “resgate do mercado de ações da China” foram tendências na rede social Weibo na terça-feira.

    Até mesmo influenciadores proeminentes que normalmente defendem a linha oficial cobraram que Pequim tome medidas imediatas para resgatar os pequenos investidores.

    “Estou triste com o desempenho atual do mercado de ações”, postou Hu Xijin, ex-editor-chefe do jornal estatal Global Times, no Weibo na segunda-feira.

    “O impacto do declínio contínuo do mercado de ações foi além do mercado de capitais e tem um impacto negativo na confiança em toda a economia e na confiança social abrangente. Pessoalmente, acredito que esta é uma questão urgente que precisa de ser abordada para prevenir riscos financeiros e aumentar a confiança social.“

    Hu disse que sofreu uma perda total de mais de 70 mil yuans (R$ 49,2 mil) desde que começou a investir no mercado de ações em junho passado.

    Matéria originalmente publicada em inglês na CNN Internacional