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    Lula admite que acordo entre Mercosul e União Europeia pode fracassar

    Em Dubai, presidente brasileiro disse que a França sempre foi contra o tratado e que, em caso de fracasso, “vai ficar patenteado de quem foi a culpa”

    Américo MartinsMathias Broteroda CNN , Enviados especiais a Dubai, Emirados Árabes Unidos

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu que o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia pode fracassar.

    “Se não tiver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade”, disse o presidente.

    “Mas a única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil. E que não digam mais que [o acordo] não saiu por conta da América do Sul. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão”, afirmou.

    As declarações de Lula foram dadas durante entrevista coletiva ao fim de sua participação na COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, neste domingo (3), quando ele respondeu às palavras do presidente francês, Emmanuel Macron, que disse ser contrário ao tratado.

    “A França sempre foi o país que criou obstáculos para o acordo do Mercosul com a União Europeia, porque a França tem milhares de pequenos produtores (agrícolas) e eles querem proteger os seus produtos. É isso”, disse o presidente.

    Veja também: Macron se diz contra acordo entre Mercosul e União Europeia

    No sábado (2), também em coletiva marcando o final de sua participação na cúpula do clima, em Dubai, Macron disse que era “contra o acordo porque acho que é um acordo completamente contraditório com o que Lula está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo, porque é um acordo que foi negociado há 20 anos, e que tentamos remendar”.

    Segundo o presidente francês, o acordo era ultrapassado e não levava em conta em seu centro as preocupações com biodiversidade e proteção do meio ambiente contra as mudanças climáticas.

    O discurso de Macron foi interpretado como uma tentativa de justificar a posição protecionista de seu país usando um discurso, em tese progressista, de proteção do meio ambiente.

    As declarações do líder francês vieram logo depois de um encontro dele com Lula, na própria COP. Segundo o presidente brasileiro, ele tentou mudar a posição de Macron durante a reunião na COP.

    “Eu fiz a reunião com o Macron para tentar mexer com o coração dele. Eu falei: Macron, quando você voltar para a França, abra o seu coração, cara. Pensa um pouco na América do Sul. Pensa no Mercosul, nós somos os países pobres, temos países pequenos [no bloco]. Bom… E parece que ele não pensou. Ele não deu ele não deu nem tempo para o coração dele, porque já foi comunicar vocês [da posição contrária]” disse ele,

    Lula afirmou, no entanto, que as conversas com os europeus vão continuar esta semana – antes da cúpula do Mercosul, marcada para o dia 7, no Rio de Janeiro, quando o bloco deve decidir se continua ou não nas negociações.

    “Nós vamos ter uma conversa. Eu tive uma grande conversa com Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Vamos ver como é que vai acontecer. Se não der acordo, pelo menos vai ficar patenteado de quem é a culpa de não ter acordo. Agora o que a gente não vai fazer é um acordo para tomar prejuízo!, disse o presidente brasileiro.

    Lula vai tratar do tema também durante sua visita à Alemanha, na última etapa de sua atual viagem internacional.

    Negociações

    O Mercosul e a União Europeia vinham acelerando as discussões para tentar fechar o acordo até o fim da presidência brasileira no bloco comercial sul-americano, que acaba no dia 7 de dezembro.

    Inicialmente concluído em 2019, depois de 20 anos de negociações, as discussões foram efetivamente reabertas quando os europeus apresentaram uma “side letter”, ou demandas adicionais exigindo mais garantias de proteção ao meio ambiente em relação aos produtos exportados pelos países do Mercosul.

    Os números mais recentes mostram que o desmatamento da Amazônia, por exemplo, vem diminuindo e o governo brasileiro se mostra comprometido com a proteção do meio ambiente. Mesmo assim, o progresso nas tratativas não chegou a ser concluído.

    Outro ponto de atrito são as compras governamentais.

    O governo brasileiro quer estimular a indústria nacional e, para tanto, pretende proteger o setor nas licitações do governo, impedindo a participação de empresas europeias.

    As declarações fortes e abertas de Macron contra as negociações torpedearam as negociações entre os dois lados –que, oficialmente, continuam.

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