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    Viajar para a Argentina pode ficar mais caro após medidas de Milei, dizem especialistas

    Desvalorização do peso e fim da regulação de preços deve impactar setor de turismo no país

    Na Argentina, existem diversos tipos de dólar
    Na Argentina, existem diversos tipos de dólar Photo by Benjamin Rascoe on Unsplash

    Amanda Sampaioda CNN

    São Paulo

    Viajar à Argentina pode pesar mais no bolso dos brasileiros com as medidas anunciadas pela nova gestão de Javier Milei para recuperar a economia.

    É o que afirmam especialistas ouvidos pela CNN, sobretudo com a estratégia de forte desvalorização do câmbio anunciada pelo ministro da Economia, Luis Caputo.

    Na Argentina, existem diversos tipos de dólar, mas a moeda utilizada para transações comerciais e financeiras em grande escala é o dólar oficial.

    Já o dólar paralelo, ou “dólar blue” — encontrado em casas de câmbio paralela — não é controlado pelo governo e ganha ou perde valor conforme a oferta e demanda.

    Entre as medidas adotadas por Luis Caputo está a desvalorização do câmbio, que será de US$ 1 para 800 pesos. Até a última terça-feira (12), a cotação oficial era de 366 pesos.

    O professor de economia do Insper Roberto Dumas explica que isso deve deixar diversos produtos e serviços mais caros no país. Como exemplo, ele cita a remarcação em massa nos preços dos itens de supermercado, que costumavam ter valores controlados por acordos firmados no governo anterior.

    Dumas avalia que as medidas econômicas adotadas pelo novo presidente da Argentina são positivas do ponto de vista macroeconômico. Porém, como já adiantado pelo novo governo, ele diz que a situação irá piorar antes de melhorar.

    Um dos pontos citados pelo professor está a manutenção do galope da inflação, que em novembro atingiu o pico de 161% ao ano, ante 142% no mês anterior.

    “Pode bater nos 200% ou 300%”, diz. “O desemprego ainda vai aumentar e o número de miseráveis também, até que você comece a ter, de fato, um plano econômico”.

    Dumas explica ainda que, mesmo os serviços que não tinham preços controlados, também devem sofrer com as remarcações.

    “Imagina que você seja dono de um hotel. Você não tinha o preço tabelado, mas o seu custo para comprar a cesta de bens vai subir, e isso vai ser repassado para todo o turismo”, pontua.

    Segundo Dumas, o turismo no país vizinho ainda continua sendo atrativo, pelo menos por ora. “Mas eu não acho que o dólar oficial vai continuar em 800 pesos, ele deve continuar depreciando. Vai piorar muito antes de melhorar”, reiterou.

    No entanto, o professor avalia que é preciso aguardar os próximos passos para ver até onde os agentes econômicos e a própria sociedade vão “suportar essa piora” e outras medidas impopulares do presidente do país.

    “A Argentina precisa de uma cirurgia, mas ela está sendo feita sem anestesia. Não é culpa de ninguém”, conclui.

    Já o coordenador de projetos da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em turismo, André Coelho, afirma que mesmo que o novo governo já tenha estabelecido novas regras econômicas e políticas, o período ainda é de adaptação.

    Ele destaca que, no setor de turismo, as empresas estão se adequando ao novo processo econômico, especialmente no que diz respeito à desvalorização da moeda.

    “Estão adaptando os seus sistemas aos diferentes tipos de cotação que estão se estabelecendo no mercado, ou seja, a cotação oficial e as cotações que se estabelecem no dia a dia”, afirma.

    Para o economista, neste momento, ainda é vantajoso para o turista brasileiro viajar para Argentina, mas é necessário ter cuidado para “minimizar perdas”.

    “Cabe atenção à forma como se fará o câmbio. Se será por meio de dinheiro vivo, usando a cotação blue ou se usarão cartões de débito com operações já dolarizadas”.

    Veja também: Pacote econômico de Milei carece de detalhes e peso cai mais de 50%