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    Retrospectiva 2020: As ações do Ibovespa que mais decepcionaram no ano

    Setores prejudicados pela pandemia e empresas com resultados ruins ou até com suspeitas de fraude figuram na lista

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Quem não acompanha o mercado acionário brasileiro e vê, em dezembro, o Ibovespa recuperado de todas as suas perdas em 2020, até pensa que o ano pode não ter sido tão ruim assim para os investidores brasileiros. 

    Mas a verdade é que o índice referência da B3 chegou ao fundo do poço em março, muito por conta do avanço da pandemia do novo coronavírus. Depois de seis circuit breakers em oito pregões, o Ibovespa chegou a flertar com os 50 mil pontos.

    “Incertezas, circuit breakers, cura para o coronavírus distante, duração dos lockdowns. Só não foi pior porque os BCs agiram rápido e acalmaram o mercado. Foram mais de US$ 20 tri em pacotes, o equivalente a mais de 23% do PIB global”, diz Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP.  

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    Depois disso, seguiu-se um período de incertezas, com fatores como a segunda onda de infecções e o avanço das vacinas impactando o ambiente. No Brasil, a situação foi ainda pior, já que, além das crises de saúde e econômica, vivenciamos problemas políticos em Brasília.

    Até que veio novembro, um dos melhores meses da história da bolsa nacional, e limpou boa parte das empresas que se encontravam no campo negativo em 2020. Com isso, ficaram lá embaixo aquelas que sofreram mais, seja pela pandemia ou não. 

    A partir disso, o CNN Brasil Business ouviu especialistas e elencou algumas das maiores decepções da bolsa em 2020. Veja a seguir.

    IRB Brasil

    A novela IRB Brasil (IRBR3) RE também começou em março, mas pouco teve a ver com qualquer tipo de vírus. A coisa foi tão surreal que rolou até falsa informação de que o megainvestidor Warren Buffett teria uma posição relevante nos papéis do IRB, o que foi desmentido pela própria empresa dele, a Berkshire.

    Além disso, um relatório da Squadra Investimentos apontou que a empresa aumentou o seu lucro de forma artificial em 2019. Segundo a gestora, o resultado de cerca de R$ 1,4 bilhão registrado pelo IRB nos três primeiros trimestres de 2019 seria, na verdade, um prejuízo de R$ 112 milhões. 

    Essas suspeitas acabaram se tornando um problema ainda maior quando Ivan Monteiro, então presidente do conselho do IRB Brasil, decidiu renunciar. A versão oficial foi que ele estava exausto e pedia para cuidar da saúde. No mercado, no entanto, havia outra variável: Monteiro, que já ocupara a posição de presidente da Petrobras em 2018, não confiava na gestão atual.

    O ressegurador passou, então, por uma reestruturação interna e vem tentando se reerguer, mas tem um longo caminho pela frente. Prova disso é que, no dia 15 de dezembro, ainda estava 80% no vermelho na B3 em relação ao último pregão de 2019.

    “Por uma questão de governança, o IRB foi o papel que mais decepcionou em 2020, sem dúvidas. Raramente se vê algo como o que ocorreu com a empresa ao longo de 2020. Mentiras de gestores, processo de demissão de todos eles, saída de conselheiros”, diz Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora.

    Cogna

    Outra queridinha dos investidores, a Cogna (COGN3) foi impactada diretamente pela pandemia, já que a maior parte das suas operações é de aulas presenciais. Além disso, a empresa tinha uma grande dependência do FIES e de outros mecanismos de financiamento próprio, que tiveram queda brusca durante a crise. 

    Mas a empresa também pode ter tido problemas de gestão no período. A companhia realizou, sem grande sucesso, o IPO de sua subsidiária Vasta na Nasdaq, em Wall Street. Até aí tudo bem, é do jogo. O problema, segundo Aline Tavares, gerente na casa de análises Spiti, é que “três escritórios de advocacia estudam uma ação coletiva contra a empresa por uma possível fraude nos números divulgados durante o processo. Isso também prejudicou bastante o desempenho do papel”.

    O papel acumula queda de quase 60% no ano.

    Aviação e Turismo

    Claramente o setor mais afetado pela pandemia. O isolamento social e o fechamento de países fizeram com que a demanda por este tipo de serviços fosse a quase zero na fase mais aguda da crise. As coisas até começaram a melhorar com a chegada das vacinas, mas o caminho ainda é longo.

    Na B3, dois papéis do setor entregaram performances ainda piores que a média: Embraer e CVC. As duas têm queda acumulada em 2020 na casa dos 50%. Isso porque as companhias foram afetadas por outros problemas durante o ano, redobrando as dores de cabeça do investidor.

    Embraer (EMBR3): Ritmo de pedidos e entregas de jatos muito prejudicado, sem novidades no horizonte. Também teve frustrado o acordo bilionário com a Boeing. “Já estava tudo combinado, com a Embraer preparada para vender parte do seu negócio para a Boeing. Mas o negócio acabou não dando certo, o que pesou contra”, diz Bruno Komura, gestor de renda variável da Ouro Preto Investimentos.

    CVC (CVCB3): A agência de viagens teve problemas (ou fraudes) contábeis, na mesma linha dos do IRB. “A CVC divulgou, no início do ano, indícios de erros na contabilização dos seus balanços, o que culminou na necessidade de ajustes contábeis relativos aos exercícios entre 2015 e 2019. Isso foi extremamente prejudicial para a companhia”, explica Tavares, da Spiti.

    Shoppings e Varejistas

    Mais um grupo de ativos que tiveram seus negócios, e consequentemente resultados, extremamente afetados pelo caráter singular da crise que tomou conta de grande parte de 2020. Shoppings e varejistas de moda precisaram ficar fechados no início da crise e funcionam abaixo da sua capacidade até hoje.

    Por isso, Fernando Barbará, head de renda variável do Andbank Brasil, cita Multiplan (MULT3), br Malls (BRML3), Iguatemi (IGTA3) e Renner (LREN3) em sua lista de maiores decepções do ano na B3, ressaltando que são “empresas de muita qualidade, mas que sofreram por causa das restrições de mobilidade”.

    O caso da Hering (HGTX3), no entanto, é diferente, como mostra a queda de mais de 40% no valor de suas ações em 2020. “A empresa vem apresentando resultados mais fracos do que as expectativas do mercado há alguns trimestres. Precisa mostrar desempenho melhor para se recuperar”, diz Tavares, da Spiti.

    Bancos 

    A queda dos bancos no começo da crise, com o fantasma da inadimplência rondando, é compreensível. Mas para Indech, da Clear, a demora das instituições financeiras para recuperar seu patamar pré-crise é uma decepção. Ele cita nominalmente Bradesco (BBDC3) e Itaú Unibanco (ITUB3), que ainda estão com dois dígitos no vermelho.

    “Os bancos ficaram lateralizados durante muito tempo este ano. Até subiram um pouco em novembro, mas ainda vão terminar o ano com pontos de interrogação. Principalmente a questão do aumento de competitividade e de tecnologia dos bancos digitais –os investidores ainda têm dúvidas sobre isso”, diz.

    JBS

    Depois de acumular quedas no primeiro trimestre, esperava-se que os papéis da JBS (JBSS3) respondessem melhor à crise, já que o mercado chinês reaqueceu sua procura bem mais cedo que o brasileiro. Apesar disso, as ações patinam na B3 e estão negativas em 2020, enquanto a Marfrig, melhor posicionada no mercado, já sobe mais de 40%.

    “É uma empresa que tem apresentado resultados interessantes, mas o papel não andou. E, justamente por ter apresentado números consistentes sem que houvesse essa valorização correspondente, ela decepcionou como ação”, afirma Indech. 

    Cielo

    Mais um setor que precisou de adaptações na crise, mas que encontrou algumas empresas mais bem preparadas que outras. A Cielo (CIEL3), por exemplo, foi um exemplo negativo, segundo os próprios investidores. Tanto que os papéis da empresa têm queda superior a 50% no ano de 2020.

    “A empresa vem perdendo market share, ainda mais agora com a chegada de concorrentes menores, que focam em nichos”, diz Komura, da Ouro Preto. “A Cielo também foi uma das principais perdedoras da crise, porque não tinha tanta presença no mercado online como suas rivais.”

    O analista entende que a empresa vai precisar mudar sua estratégia para voltar a prosperar no mercado.

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